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KILL BILL

Não há tanto tempo assim e é claro que estamos todos presos em um minúsculo espaço do mesmo. E quando ocorre de seu inimigo mais íntimo já não dispor de energia e vigor para a batalha, o que fazer? Mas você trás dentro do peito um turbilhão de sentimentos revoltosos, os quais aguardam ocasião para emergir e partir feito facas afiadas lançadas rumo ao alvo certo.

Agora olhe como o seu inimigo transformou-se por completo. Veja, ele é apenas um arremedo do que te meteu medo e praticou contra você o mais puro e covarde terrorismo, o terrorismo da opressão, do exercício frívolo pelo gosto de amedrontar e inibir. Quem tem um inimigo tão íntimo despreza o escuro; em verdade, esconde-se na escuridão, até que a ira do inimigo se aquiete.

O dia está marcado. Enquanto arruma suas malas, pense no caminho que deverá percorrer até o tão aguardado acerto de contas. Não deixe que seu coração esmoreça agora e te traia. Você aguardou resignadamente por este momento e o simples fato da promessa de que um dia ele chegaria te sustentou de pé em meio a tantas e tantas tormentas de abalar gente que se diz sempre sã.

Renunciar à vingança e não levar ao encontro suas facas de laminas afiadas e reluzentes para seu intento mais secreto seria o mesmo que admitir anos de ordinária covardia travestida da espera da concretização de seu ideal supremo. Não é tempo de covardia e nem de compaixão, que aqui, no caso, significam a mesma coisa: significam apenas um arremate covarde, que não justifica o sacrifício do medo.

Não seja o suposto suspeito medroso de sempre. Vá em frente! Seja valente. Vá e mostre que seu silêncio trêmulo nas horas dos gritos nada mais foi que um inteligente artifício, pela sobrevivência, uma astuta camuflagem emocional. Diga o que tem a dizer e abra sua mala. Retire dela a faca mais afiada e enterre-a de uma vez por todas entre as costelas do seu adversário. Vencerás. Entenderás Kill Bill.

Comentários

  1. Jefh!!!! Se vc parar de brigar com seu inimigo mais íntimo, vai ficar muito chato...rsrsrs

    Abração
    Jan

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    Respostas
    1. O exercício da vida em muito se assemelha ao exercício da guerra, eu não duvido. Beijo, Jan!

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