Brandon, escriturário e mestre do ofício da taxidermia, um homem dotado de extrema magreza e aspecto frágil, o qual naturalmente compensava com a cara de ódio como se desse ao mundo o recado de sua real ferocidade, era todo ele uma imensa contradição entre a delgada solidez física e a subjetividade da personalidade inflada.
A despeito de sua aparente fragilidade, o homem cria-se uma fera e tentava convencer todos à sua volta do quanto nada significava aquela aparência. Aos finais de semana, ocupava-se em dar trato aos bichos mortos e passear com seu poodle pelo bairro em atitude vigilante. Mantinha também na rede social um grupo no qual se compartilhava toda e qualquer presença e ou atitude suspeita nas imediações.
Certa vez, quando Armelau atravessava o portão de sua morada para sair em uma caminhada, o poodle de Brandon invadiu sua garagem. Antes mesmo que o sonâmbulo voltasse o rosto para o interior da área, a fim de ver aonde ia o pequeno invasor, Brandon, sem pedir licença, invadiu a casa de Armelau sob pretexto de resgatar o animal e perscrutou cada canto visível, o lixo e cada entrada da residência do vizinho. Satisfeito após a sondagem, Brandon voltou para a calçada e com um breve assobio teve o bichinho de estimação a seus pés se contorcendo e abanando o cotozinho obedientemente.
Armelau então fechou atrás de si o portão, volveu a chave e teve sérias dúvidas se aquilo não era mais uma peça onírica pregada por outro incômodo pesadelo. Mas não. Brandon fez um comentário sobre o quanto o poodle era traquina e perguntou se o vizinho estaria saindo em caminhada, alinhou passo e ambos partiram para um passei pelo ensolarado bairro.
Naquela manhã, nasceria uma amizade que traria à monótona vida de Armelau um contato mais estreito com a ameaça da criminalidade ao bairro e propiciaria também os primeiros passos na arte da taxidermia. Foi este o assunto que despertou o interesse de Armelau pela contraditória e enigmática figura de seu vizinho Brandon.
Empolgado, o homem magro revelou ao vizinho seu gosto pela taxidermia e ódio pelos bandidos, infratores e contraventores. Disse ser capaz de dar vida eterna às formas de qualquer criatura morta ou viva sobre a face da terra, de bem ou não. Armelau apenas assentia com a cabeça e parecia vagar distante com a ideia e possibilidades contidas nela.
Aos finais de semana, em suas caminhadas solitárias, vez ou outra Armelau deparava-se com algum pequeno pássaro falecido sobre uma calçada, a rua ou algum canteiro. Aquela ausência de vida sempre intrigou Armelau. Indagava-se de como teriam sido os momentos finais daquele ser capaz de voar sobre todos os outros seres. Era mesmo uma incógnita a circunstância do óbito. Perguntava-se se seria o caso de o pequeno já ter aterrissado agonizante e expirado sobre a superfície na qual fora encontrado. Ou quem sabe a criaturazinha tivesse sido acometida por um mal súbito enquanto cantava lugubremente empoleirada num galho ou fio de telefone ou eletricidade. Ou ainda, num ato carregado de dramaticidade, o pequeno ser sentira o fel do grão envenenado da lavoura envenenada espremer o seu canto e constringir sua glote até a escuridão tomar por completo as cores do dia por de trás de suas pequeninas pálpebras. Ou talvez, enquanto planava uma massa de ar aquecida e confortável, teria sentido a ardência que antecede o coração que para e faz com que os pássaros deixem seu corpo abandonado em um último rasante atingir o chão sem sequer estar presente para sentir o próprio baque na solidez do asfalto.
Armelau sempre quis fazer algo que imortalizasse aquelas criaturinhas em seus dias dotadas da mais divina graça, a de voar pelos céus. Interessou-se pela taxidermia de Brandon, que era infinitamente mais ambicioso em seus planos na arte do que seu primeiro e único pupilo. Armelau iniciou pelos mais comuns, os pardais.
A despeito de sua aparente fragilidade, o homem cria-se uma fera e tentava convencer todos à sua volta do quanto nada significava aquela aparência. Aos finais de semana, ocupava-se em dar trato aos bichos mortos e passear com seu poodle pelo bairro em atitude vigilante. Mantinha também na rede social um grupo no qual se compartilhava toda e qualquer presença e ou atitude suspeita nas imediações.
Certa vez, quando Armelau atravessava o portão de sua morada para sair em uma caminhada, o poodle de Brandon invadiu sua garagem. Antes mesmo que o sonâmbulo voltasse o rosto para o interior da área, a fim de ver aonde ia o pequeno invasor, Brandon, sem pedir licença, invadiu a casa de Armelau sob pretexto de resgatar o animal e perscrutou cada canto visível, o lixo e cada entrada da residência do vizinho. Satisfeito após a sondagem, Brandon voltou para a calçada e com um breve assobio teve o bichinho de estimação a seus pés se contorcendo e abanando o cotozinho obedientemente.
Armelau então fechou atrás de si o portão, volveu a chave e teve sérias dúvidas se aquilo não era mais uma peça onírica pregada por outro incômodo pesadelo. Mas não. Brandon fez um comentário sobre o quanto o poodle era traquina e perguntou se o vizinho estaria saindo em caminhada, alinhou passo e ambos partiram para um passei pelo ensolarado bairro.
Naquela manhã, nasceria uma amizade que traria à monótona vida de Armelau um contato mais estreito com a ameaça da criminalidade ao bairro e propiciaria também os primeiros passos na arte da taxidermia. Foi este o assunto que despertou o interesse de Armelau pela contraditória e enigmática figura de seu vizinho Brandon.
Empolgado, o homem magro revelou ao vizinho seu gosto pela taxidermia e ódio pelos bandidos, infratores e contraventores. Disse ser capaz de dar vida eterna às formas de qualquer criatura morta ou viva sobre a face da terra, de bem ou não. Armelau apenas assentia com a cabeça e parecia vagar distante com a ideia e possibilidades contidas nela.
Aos finais de semana, em suas caminhadas solitárias, vez ou outra Armelau deparava-se com algum pequeno pássaro falecido sobre uma calçada, a rua ou algum canteiro. Aquela ausência de vida sempre intrigou Armelau. Indagava-se de como teriam sido os momentos finais daquele ser capaz de voar sobre todos os outros seres. Era mesmo uma incógnita a circunstância do óbito. Perguntava-se se seria o caso de o pequeno já ter aterrissado agonizante e expirado sobre a superfície na qual fora encontrado. Ou quem sabe a criaturazinha tivesse sido acometida por um mal súbito enquanto cantava lugubremente empoleirada num galho ou fio de telefone ou eletricidade. Ou ainda, num ato carregado de dramaticidade, o pequeno ser sentira o fel do grão envenenado da lavoura envenenada espremer o seu canto e constringir sua glote até a escuridão tomar por completo as cores do dia por de trás de suas pequeninas pálpebras. Ou talvez, enquanto planava uma massa de ar aquecida e confortável, teria sentido a ardência que antecede o coração que para e faz com que os pássaros deixem seu corpo abandonado em um último rasante atingir o chão sem sequer estar presente para sentir o próprio baque na solidez do asfalto.
Armelau sempre quis fazer algo que imortalizasse aquelas criaturinhas em seus dias dotadas da mais divina graça, a de voar pelos céus. Interessou-se pela taxidermia de Brandon, que era infinitamente mais ambicioso em seus planos na arte do que seu primeiro e único pupilo. Armelau iniciou pelos mais comuns, os pardais.
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