Estando todos conformemente instalados em nossa sala, fora introduzido um quarto elemento para compor o grupo. Januário, o aspirante a chefe de setor foi apresentado aos colegas, incluindo o narrador que vos fala, no mesmo dia em que me dei ao desfrute de ostentar a flor sobre minha mesa. Foi antipatia à primeira vista. Januário estava para a flor com o mesmo desagrado que a flor estava para Januário.
Não sou de formular conceitos prévios ao tempo necessário para se conhecer devidamente uma nova pessoa que vem conviver comigo, seja em ambiente de trabalho ou outro qualquer. Ao menos conscientemente não o faço. Contudo, independentemente da opinião de Valentina, notei que Januário tinha algo que não me agradava logo da ocasião na qual fomos apresentados.
As semanas foram passando e à medida que a flor confirmava sua natureza otimista e alegre Januário provava sua disposição contrária. Numa ocasião em que consultei os colegas quanto à permanência ou não da flor em nossa sala, Januário foi taxativo quanto à Valentina: “Essa flor morrerá aqui. Isso não é ambiente para uma flor.” Todos se entreolharam. Houve quem concordasse. Houve quem se omitisse. E eu, claro, discordei. Afinal, Valentina tinha uma missão a cumprir. Não é por acaso que uma flor vem lhe fazer companhia em um dos momentos mais tumultuados de sua vida. Eu estava feliz com a flor, ela estava sendo boa para mim, fazendo-me bem. Não havia porque não querê-la ali.
Mas a florzinha era mesmo perspicaz e, quando já falante, na primeira oportunidade que teve, disse baixinho e sussurrado pra que só eu ouvisse: “Esse seu novo colega é negativo feito bolor. Logo contaminará a todos com sua natureza negativista.” E foi curioso perceber que Valentina sabia perfeitamente o que dizia. Pra tudo que houvesse, Januário tinha sua versão trágica e pessimista dos fatos pronta para ser lançada sobre nossas cabeças. Na boca de Januário, tudo parecia preferencialmente tender a dar errado. Fosse o que fosse. O rapaz sequer era capaz do gesto corriqueiro de retribuir ao “Bom dia!” que alguém lhe dissesse com mais ênfase. Ele simplesmente ignorava o cumprimento.
Noutra ocasião, ao ouvir mais uma das previsões pessimistas do aspirante a chefe de setor, logo nas primeiras horas do dia, a planta disse: “Vê o novo rapaz? Ele é o bolor que descolore minhas folhas. A cada frase negativa dele eu sinto como se me faltasse luz e ar. Não sei até quando resistirei. É preciso conservar a alegria e tratar a vida com o mínimo de leveza, meu rapaz. Do contrário, até você ficará constrangido em parecer leve e feliz. Vi isso acontecer na casa onde morei sobre o piano antes de vir pra cá. Uma pessoa pessimista contaminou a casa inteira. Saí de lá quase morta. Tive que renascer para ser feliz nas mãos da florista que te presenteou comigo.”
E não era preciso ser um grande analista para perceber que, tanto Amélio quanto Rivaldo já estavam ficando um tanto quanto, digamos, pálidos e embolorados. Amélio por ser de personalidade flexível e mais sugestionável repetia com frequência muitas frases e posicionamentos do novo colega de sala. Já Rivaldo por ainda não ter bem claras e definidas suas opiniões quanto ao dia e nova formação do grupo hora permanecia impassível e hora dava indícios de negativismo, porém ainda achava normal sorrir e dizer coisas leves. E eu comecei a ficar curioso pelo fenômeno do bolor que crescia a um canto da sala.
Devo admitir que, de início, achei ser pura invenção da planta, criatividade herbácea. No entanto logo pude notar uma pequena mancha de bolor de cor roxa na parede onde ficava apoiado o encosto da cadeira de Januário. E a mancha crescia e espalhava outros pequenos focos sobre a mesa, cadeira e objetos do rapaz.
É Jefh... há alguns "Januários" que 'mofam' os ambientes... e as "Valentinas" pressentem esse fato ;-)
ResponderExcluirAbração
Jan
É... [sorrio] Abraço, JAN!
ResponderExcluirBoa noite Jefh! Parabéns pelo blog, adorei, ecxelente idéia! ler e escrever enobrece a alma.
ResponderExcluirPelo vicio da leitura e amar escrever, também criei o blog http://oamoreetudo.blogspot.com.br. *O Amor é Tudo"
Otimo texto!
ResponderExcluir~> Quase Meia Noite
Olá Jefh, passei rapidamente para agradecer a sua visita em meu blog, obrigada, sempre é muito bom receber pessoas novas e legais em meu cantinho.Abraços, adorei o seu blog. Marilena
ResponderExcluirOlá.
ResponderExcluirDesculpe-me por eu não ter vindo aqui antes, vi seu comentário no meu blog agora, porque infelizmente foi pra caixa de spam, e eu não costumo muito verificar isso, mas enfim, adorei aqui! Estou seguindo, viu? Parabéns pelos 4 anos de blog.
http://distantedoquesou.blogspot.com.br/