A fachada da casa ostentava um estilo que há muito havia caído em desuso e sofrera por contínua substituição ao gosto de momento do mercado imobiliário. Os jovens das cidades parecem odiar as memórias do lugar tanto quanto os velhos das mesmas cidades estimam as mesmas memórias. O curioso é que, com sorte, os jovens sempre envelhecem e passam a suspirar pelas memórias não preservadas e destruídas pelos outros jovens da ocasião.
Naquela casa era trabalho inútil apertar a tecla do interfone mudo. Após duas ou três preensões o visitante perceberia que ali o código era o estalar das velhas e infalíveis palmas, de preferência com as mãos por sobre o velho, desbotado e ferruginoso portão marrom. E o som certamente demorava algum tempo para atravessar a decrépita fachada e alcançar alguém no interior da residência, pois até o latido do cão só era ouvido após a segunda tentativa e durante a terceira salva de palmas. E somente após todas essas barreiras é que a cuidadora vinha ver e receber quem batia à porta.
Tímida e simpática, a mulher gordinha surgia sorridente de um riso contínuo e discreto com suas grandes bochechas a comprimir seus olhos para receber a quem chamava e já se explicando e se desculpando pelo interfone quebrado, pela velhice do local, pelo cão surdo... E conduzia o recém chegado através do alpendre indo ter na sala de recepção onde ao abrir da porta emanava quente baforada de mofo misturado ao forte odor canino, ao que certamente seu olfato já não mais reagia com a devida sensibilidade sensorial, pois quanto a isso não fazia nenhuma menção e tampouco se desculpava. À porta contra lateral do vestíbulo introdutório da casa, feito um fantasma, um cão imóvel ladrava em direção ao visitante recém chegado ao local.
O velho cão era tão velho quanto o livro que ao longo dos anos resistiu ao manejo de mãos descuidadas e a insidiosos ataques de traças. Parecia um pano branco encardido, roto e gasto por incontáveis lavagens e hibernações em fundos de gavetas ocasionalmente visitadas por baratas e roedores comedidos. Velho como o móvel atacado por cupins meticulosos dotados do capricho de devorar somente a carcaça sem abalar a estrutura como que a preservar algo para os dias de grande escassez.
E o cão era ainda surdo como uma tábua. Latia de um latido rouco e grave como se em seu puído arcabouço ósseo reverberasse o som antes de partir para fora de sua boca esgarçada rumo ao ambiente sombrio da velha casa.
A cuidadora o enxotava e dizia para que o visitante não tivesse medo, pois, “além de manso, ele é completamente surdo”. Gostava de repetir isso. E gesticulava para que o animal fosse para o quintal e não importunasse o visitante obstruindo a passagem como um velho rabugento que não admite sobre hipótese alguma a entrada de visitantes. E como parte de um ritual indispensável acrescentava que o bicho era muito, muito, muito velho, e que deveria já estar com mais de quinze anos. Mas era provável que aquele animal já houvesse passado de longe os quinze anos e que por alguma razão não investigada e por tanto não explicada sobrevivia a várias décadas contrariando a natureza da raça e as leis do universo.
Toda vez ocorria o caso de o cão não arredar ao tempo da passagem da cuidadora com o visitante da ocasião. Então ela o tomava debaixo do braço como se o animal fosse um travesseiro velho, esfarrapado e com a plumagem de ganso (pelos de cão no caso) a perder-se pelo ar com a apreensão do membro forte sobre suas frágeis costelas rarefeitas e osteoporóticas. Conduzia o velho animal ranzinza até o quintal e o dispensava no chão do lado de fora onde ele permaneceria a ladrar durante todo o tempo que durasse a visita e, segunda a cuidadora, algum tempo ainda após o visitante ter partido.
Mas uma questão inquietava o visitante. Como poderia um cão surdo em algum momento perceber que alguém batia palmas à porta? A explicação veio em outra visita que será narrada no capítulo seguinte de GENYSIS a ser postado a qualquer momento neste mesmo blog.
Muito interessante!
ResponderExcluirObrigado!
ExcluirBom Dia Amigo,
ResponderExcluirParabens Pelo Texto.
Gosto Do Seu Estilo "Serge Gollon",
Estou Aguardando "O Próximo Capítulo"!
Bjs, Z
Não conheço Serge Gollon, mas vi que é um russo. Fiquei curioso agora [sorrio] Obrigado por sua atenção, Zenira!
ExcluirOlá. Acho que ele percebia porque eles tem um faro apuradíssimo. Minha irmã tem uma cadela cega, que segue a gente aonde a gente vai, sem nunca dar com a cara nas coisas. Adorei sua postagem!
ResponderExcluirPlausível e interessante... Obrigado, Ana!
ExcluirAnsiosa pela continuação! :) Acho bonita essa sua escrita leve, fluida, e boa de ler...
ResponderExcluirFiquei feliz de ver sua visita no meu blog, com meus escritos biográficos que não conseguem tirar o pé da realidade, nem um pouco. Mas acho que a escrita de cada um de nós toma um rumo, como se tivesse vida própria! :) Desculpa a demora, dessa vez eu fiquei longe por necessidade! Tomara que a minha postagem seja tão boa quanto você espera que seja! Beijos... o/
Barbarella, tudo que faz com amor e sinceridade só pode ser ótimo. Obrigado por seu generoso comentário. Um beijo!
ExcluirAdorei o texto, até porque compartilho do pensamento de que as coisas devem ser preservadas.Vou ficar aguardando a sequênica.
ResponderExcluirBom domingo!
Sonia
Legal! Conto com sua atenção. Beijo!
ExcluirCLAP CLAP CLAP.
ResponderExcluirPense nesses intervalos com o devido tempo necessário para compor, em obra final, o perceptível som de quem clama por passagem. Ou poderiam ser apenas palmas pelo belo texto! Adorei sua visita e seu canto de desabafos literários. =D
Seja como for, obrigado! Muito obrigado! Um beijo!
ExcluirOlá Jeferson!
ResponderExcluirNossa que legal, mas nesta semana continue fazendo sua dieta direitinho para recuperar e para conseguir chegar ao seu objetivo.
Obrigada Jeferson para você também.
Vou retribuir a visita.
Volte sempre.
Um Abraço.
:)
Acho que em toda dieta há dias de deslize, não? Obrigado! Beijo!
ExcluirAdorei mesmo. Nossa. Me lembrou uma casa perto de onde morei. E o cão? Pena, coitadinho. Agora estou curiosa. Espero a continuação. Me avise para que eu possa vir matar a minha curiosidade que fora atiçada graças a tu.
ResponderExcluirBeijo.
- VITAMINA DE PIMENTA -
Ok! Conto com você então. Beijo!
Excluir
ResponderExcluirOi Jefferson!
Menino, adoraria entrar nessa casinha com meus baldes de tinta
e meus objetos de jardinagem. Daria uma repaginada, preservando até o querido e velho cão. Amo coisas velhas por demais!
abs
Que bom! Seria ótimo! [sorrio] Um abraço!
ExcluirOi Jefferson!
ResponderExcluirPassei para agradecer a visita no blog Crop Literário!!
O blog coletivo está paradinho, mas te convido a conhecer meu blog particular:
http://www.aledossenaescritora.blogspot.com/p/quer-comprar.html
Estarei te visitando mais vezes. Parabéns pelo blog!
Abraços.
Obrigado! Será um prazer! Abraços!
ExcluirMuito bom! Parabéns!
ResponderExcluirBjs
Andreia Marques
http://www.contoseuconto.blogspot.com.br/
Obrigado! Beijos!
ExcluirOlá! Vim agradecer pela visita que fez ao meu blog, Letras do Céu, e também elogiar o texto. Adorei, achei bastante misterioso.
ResponderExcluirQue bom! Obrigado!
ExcluirOlá,olha eu aqui,então obrigada por dar uma passadinha no meu blog,fiquei muito feliz,comecei agora a ser blogueira,então é sempre uma honra. Gostei de suas postagens,tem certeza q tenho um amigo que vai adora,voo indicar pra ele! hahahaha
ResponderExcluirBj...
http://www.jeehnunesmoda.blogspot.com.br/
Legal! Seja bem vinda! Beijo!
ExcluirOi jefh< adorei o texto e te gradeço pelos comments no meu blogconricasdaverarenner. Não tenho a mebnor ideia como chegaste lá, mas postei outro texto hoje: AS DIARISTAS..vai lá! beijos
ResponderExcluirDe blog em blog se vai ao longe [sorrio]. Beijo!
ExcluirBoa noite, ótimo texto como sempre.
ResponderExcluirBeijos
http://raquelconsorte.blogspot.com.br/
Bondade sua. Obrigado! Beijos!
ExcluirEi! Boa idéia essa de capítulos, heim... Só a minha curiosidade que ficou aqui a reclamar...(risos)...
ResponderExcluirContinuo seguindo e gostando dos teus textos... Nunca mais visitou os meus?
http://gota-na-poca.blogspot.com.br/2013/04/15-mini-cena-do-cotidiano.html
Abçs!
Que bom! Pode deixar que logo terei novidades aqui [sorrio] Abraço!
ExcluirAdoro seu Blog!!! um beijo
ResponderExcluirQue ótimo! Beijo!
ExcluirBem, a forma de narrar é agradável e, de certa forma, nos abre uma curiosidade em saber na história até o final.
ResponderExcluirGostei.
Sucesso,
Abraços,
Maria Marçal - Porto Alegre - RS
Obrigado! Abraços!
ExcluirOi Jeferson, estou seguindo o seu blog, venha para o dihit, lá no face deixei o link, mas coloco aqui tbm:
ResponderExcluirhttp://www.dihitt.com.br/Re
um abraço
Ok! Obrigado! Outro abraço!
ExcluirVistei o seu blog e ja sou fã *-*
ResponderExcluirQue ótimo! Pois seja muito bem vinda, Ediana. Um beijo!
ExcluirOi Jeferson, sensacional, muito bom! O cão velho me lembrou minha cachorrinha que no mês que vem completará 16 anos, ela está surda e não escuta mais o toque da campainha.
ResponderExcluirAdorei ter vindo aqui, em breve retornarei para ler seus lindos textos.
Boa noite, até mais.
Bjs
Legal, Mary! Um afago em sua cachorrinha e beijo pra você. Até mais!
Excluirnossa já faz mt tem!
ResponderExcluirpor vários motivos sumi daqui.
um deles foi a falta de net.
É já faz tempo mais ainda lembro o primeiro post.
o primeiro comentário.
mt obrigado por nos enriquecer com os seus post
estou de volta pra ficar passa lá no meu blog depois
abçs
Quanto tempo, blogueiro! Que bom que está de volta! Seja bem vindo, sempre! Passarei em seu blog sim. Um abraço!
ExcluirNossa que show seu blog tipo assim comecei ler o conto ali e não consegui parar e ai como termina a historia do cão surdo
ResponderExcluirbeijos e parabéns por esse espaço nota 1000
Maria Clara
Legal! Fique comigo até o fim do conto então [sorrio]. Um abraço e muito obrigado, Maria!
ExcluirQue lindo seu blog. Gostei de tudo...Sucesso!!!
ResponderExcluirObrigado! Um beijo!
ExcluirOlá Jeferson...amei a sutileza das palavras...parabéns..
ResponderExcluirQue bom que amou! Conto com você. Obrigado e beijo!
ExcluirBom texto. À medida que ia lendo, fiquei com a sensação de que tinha entrado na história e acabei por imaginar a casa, o portão da mesma e o cãozito :) Parabéns!
ResponderExcluirhttp://rainhadasinsonias.blogspot.pt/
Legal! Obrigado! Continue aqui. Um beijo!
ExcluirBoa noite amigo passando aqui para visita seu blog
ResponderExcluirAdorei !!
Legal! Um abraço!
ExcluirGostei da riqueza de detalhes que utilizas ao escrever, isso faz toda a diferença. De fato, parece ser uma história intrigante, deixou-me curiosa para saber a continuidade dela em seu próximo capítulo.
ResponderExcluirUma pergunta; Como achou meu blog?
Agradeço pela visita e sinta-se " em casa ".
Vou seguir seu blog,simpatizei com tuas palavras.
Menina de Ouro, desligando.
Legal! Foi visitando blogs que encontrei o seu. Obrigado pela atenção! Abraço. Desligo.
ExcluirBelíssimo o seu Blog! Obrigada pelo convite e tenha uma linda tarde.
ResponderExcluirObrigado, Claudia! Ótima tarde pra você!
ExcluirOi você fez uma visita no meu blog, vim retornar :)
ResponderExcluirminha mãe esta te seguindo rs .. não consegui seguir você pelo meu blog :(
Bom é isso.
Belíssimo seu blog.
se cuida beijos :)
Legal, Jéssica! Que legal sua mãe aqui! Sejam bem vindas! Sempre! Beijos!
ExcluirÓtimo blog, amei suas palavras.
ResponderExcluirGanhou mais uma leitora! rs
Abraços.
Edla, que bom! Obrigado! Seja bem vinda! Abraços!
ExcluirMuito bom quero mais rs
ResponderExcluirBeijos
Legal! Beijo, Claudia!
ExcluirBelas palavras!
ResponderExcluirNão pare nunca, pois você escreve muito bem ;)
Beijos!
Obrigado, Ana! Um beijo!
Excluirvc escreve mto bm, parabens.
ResponderExcluirDeveria procurar uma editora para publicr um livro :)
[sorrio] Obrigado, Ketelen! Abraço!
ExcluirÓtimos textos, Jeferson! Parabéns pelo trabalho!!
ResponderExcluirObrigado! Abraço!
ExcluirToda criatura portadora de alguma deficiência é dotada de mistérios e uma sensibilidade aguçada que nenhuma ciência explica. Trabalhei com crianças surdas e o que elas faziam era absolutamente notável...
ResponderExcluirUm abraço
Legal, Malu! Obrigado por compartilhar! Abraço!
ExcluirPoxa, fico admirada com sua facilidade com as palavras!Texto perfeito!Parabéns!
ResponderExcluirBondade sua, Fátima. Obrigado! Um beijo!
ExcluirOlá Jeferson *-*
ResponderExcluirprimeiramente, obrigada pela visita no meu blog >.< eu sumi um pouco lá, mas logo explicarei o motivo em um post. E gostaria de dizer que ja estou seguindo seu blog e parabéns!! O texto esta ótimo e adorei também >> “Mesmo que a felicidade lhe caia do céu, é preciso estar na hora e no lugar certo. Mova-se!” (Jefhcardoso)
Ka. (http://paodequeijocomchocolate.blogspot.com.br/)
Oi. Que bom que veio! Um abraço! Boas blogagens!
ResponderExcluirE jah anseio pelo proximo capitulo =) Nossa q delicia de blog! Parabens Jeferson! Abçs!
ResponderExcluirLegal! Conto com você. Abraço!
ExcluirObrigado pela visita la no blog, cada blog com o seu conteúdo em particular amo essa esfera ,meu blog é meu diário de vida desde que comecei o quer ter uma família claro não me exponho demais pois não acho correto ,o seu blog e mt legal textos bem expressivos sucesso!
ResponderExcluirGostei de estar no seu. Boa sorte com seus planos! E obrigado por sua atenção. Abraço!
ExcluirParabéns pelo blog!!! Adorei os textos... bjs.
ResponderExcluirObrigado! Beijo!
ExcluirObrigada pela visita no blog!
ResponderExcluirPor nada. Foi um prazer. Abraço!
ExcluirOiee obrigado por visitar emu blog Super Bichos.
ResponderExcluiradorei seu blog muito interessante! xauu bjss
Foi um prazer. Obrigado por sua atenção! Beijos!
ExcluirIncitante!
ResponderExcluir[sorrio]
ExcluirMuito interessante suas GENYSIS Jefh,sempre que quiser visitar também o meu blog está aqui o link: http://eusouvioletta.blogspot.com.br/
ResponderExcluirObrigada, estou tentando melhorar o meu blog o mais possível!
Ok! Obrigado!
ExcluirVim retribuir a visita e achei muito interessante Genysis.
ResponderExcluirParabéns.