Ou ele cria nas próprias verdades ou o tempo o tornara um especialista na arte de imaginar convencer a quem o ouvia. Tudo era motivo para iniciar uma empolgada narrativa permeada pelo fantástico e o extraordinário. E tudo em seu universo narrativo era cheio de sólida convicção e indissolúvel ficção. Começava como quem nada queria. De repente, arrastava seu ouvinte por um universo místico de roças distantes na linha do tempo e extraordinários personagens ocultos que transitaram numa zona rural já extinta, ou, quem sabe, ainda transitem pelas cidades em seus múltiplos disfarces de pessoas comuns.
“Quando criança, eu tive garrotil..., quase morri.” Disse o ficcionista em tom testemunhal.
“Garrotil?” Perguntei eu com certa estranheza, pois nunca havia ouvido o tal termo.
“Sim. Garrotil. Doença de cavalo, uai!” Afirmou ele com impaciência na voz e firmeza no olhar. Após apurar, pressupus que certamente se referia ao garrotilho, uma doença equina.
E o pequeno homem, apoiado ao cabo da enxada, interrompeu o trabalho e seguiu com seu relato sem que eu cobrasse por maiores detalhes: “Eu e meu irmão, o que era uns dois anos mais velho do que eu, eu tinha uns seis anos na época, a gente brincava de imitar os bichos da roça. A gente queria ser igual aos bichos, principalmente os cavalos. A gente entrava no curral pra lamber sal no cocho e coicear um ao outro, igual os cavalos faziam. Já viu como eles fazem? Pois é. A gente fazia igual. Mas eu era bobo. O meu irmão só fingia que lambia o sal do cocho. Eu não. Eu lambia o sal de verdade. Tanto lambi que peguei doença de bicho, fiquei ruim. Quando foi à noite, tive febre, delirava, virava os olhos me contorcendo, babava e me debatia. Tiveram que me amarrar na cama. Eu via um demônio empoleirado na cabeceira rindo da minha desgraça. Eu gritava contra ele. Minha mãe rezava e chorava, e meu pai só balançava a cabeça desaprovando e dando o caso por praticamente perdido. Sentava na cadeira da varanda e enrolava seu cigarro de palha, soprava a fumaça no ar e ficava tentando encontrar nas formas da fumaça resposta pra tanta coisa esquisita. O irmão da minha mãe, meu tio Zé, vendo o desespero da pobre coitada, saiu pra buscar socorro na cidade mais próxima, uma que ficava a uns sete quilômetros da roça onde a gente morava, Ribeirão Corrente. Já ouviu falar? Pois é.”
“[...]”
“Ele ia andando pela rua a caminho da farmácia. Foi quando um carro preto, muito luxuoso, parou ao seu lado, desceu o vidro de trás e, lá de dentro, um homem muito escuro foi dizendo com uma voz rouca e rasgada que sabia onde o meu tio estava indo. E disse também que sabia do desespero de minha família e que sabia exatamente o que eu tinha. Disse que era médico e que possuía os recursos pra curar menino endemoninhado. Ordenou que meu tio entrasse no carro e o levasse até minha casa. Meu tio entrou. Estava desesperado. Então eles foram. Havia no caminho umas treze porteiras e sete tronqueiras. O meu tio disse que não sabe como, mas não pararam nenhuma vez pra abrir uma única porteira que fosse. Em três minutos o meu tio estava dentro do meu quarto acompanhado por aquele homem escuro como a noite. Eu pensei que fosse o meu padrinho, por que o meu padrinho também era daquela cor. Então eu o saudei como meu padrinho. Ele disse que sim, que era meu padrinho e riu com ar debochado. Ele me examinou e diagnosticou que o caso era urgente e que não havia tempo a perder. Tinha que ir à Franca buscar um remédio, mas teria que ser em três minutos e nada além, ou tudo estaria perdido. Disse para que meu tio o acompanhasse, porém ordenou que ele desta vez fosse de olhos fechados. O meu tio aceitou de pronto e eles partiram. Contou o meu tio que, em dado momento, não resistindo à curiosidade, entreabriu os olhos e viu que o carro estava diante à margem de um rio muito agitado e extremamente largo e qual o carro atravessou como se sobre ele houvesse uma sólida ponte invisível. Aquilo foi incrível! Em três minutos o Doutor e meu tio estavam dentro do meu quarto com um frasco de um remédio azul, o qual passou em minha garganta usando para isso uma pena preta de galinha. Depois o médico me aplicou uma injeção com um poderoso remédio que imediatamente interrompeu os meus tremores. Disse algumas palavras que ninguém se recorda e nem mesmo compreendeu e sorriu largamente ao ver o capeta saltar da cabeceira da minha cama e correr pela porta do quarto cuspindo fogo e com o rabo entre as pernas.”
“[...]”
“Mas o Doutor avisou à minha mãe, pois meu pai nem queria saber de nada, avisou que em três anos aquela moléstia retornaria e então deixou de próprio punho a receita do remédio e da injeção. Em três anos a coisa voltou mesmo. Mas daquela vez minha mãe já sabia o que fazer.”
Ouvi a história inteira com toda atenção e, ao final, apenas exclamei e indaguei: “Impressionante! Mas de onde afinal veio aquele médico? E qual era o nome dele?... Ele não assinou a receita?”
“O Doutor? Sei lá de onde veio. Acho que do espaço. E assinar assinou, mas quem é que entende letra de médico?”
“Quando criança, eu tive garrotil..., quase morri.” Disse o ficcionista em tom testemunhal.
“Garrotil?” Perguntei eu com certa estranheza, pois nunca havia ouvido o tal termo.
“Sim. Garrotil. Doença de cavalo, uai!” Afirmou ele com impaciência na voz e firmeza no olhar. Após apurar, pressupus que certamente se referia ao garrotilho, uma doença equina.
E o pequeno homem, apoiado ao cabo da enxada, interrompeu o trabalho e seguiu com seu relato sem que eu cobrasse por maiores detalhes: “Eu e meu irmão, o que era uns dois anos mais velho do que eu, eu tinha uns seis anos na época, a gente brincava de imitar os bichos da roça. A gente queria ser igual aos bichos, principalmente os cavalos. A gente entrava no curral pra lamber sal no cocho e coicear um ao outro, igual os cavalos faziam. Já viu como eles fazem? Pois é. A gente fazia igual. Mas eu era bobo. O meu irmão só fingia que lambia o sal do cocho. Eu não. Eu lambia o sal de verdade. Tanto lambi que peguei doença de bicho, fiquei ruim. Quando foi à noite, tive febre, delirava, virava os olhos me contorcendo, babava e me debatia. Tiveram que me amarrar na cama. Eu via um demônio empoleirado na cabeceira rindo da minha desgraça. Eu gritava contra ele. Minha mãe rezava e chorava, e meu pai só balançava a cabeça desaprovando e dando o caso por praticamente perdido. Sentava na cadeira da varanda e enrolava seu cigarro de palha, soprava a fumaça no ar e ficava tentando encontrar nas formas da fumaça resposta pra tanta coisa esquisita. O irmão da minha mãe, meu tio Zé, vendo o desespero da pobre coitada, saiu pra buscar socorro na cidade mais próxima, uma que ficava a uns sete quilômetros da roça onde a gente morava, Ribeirão Corrente. Já ouviu falar? Pois é.”
“[...]”
“Ele ia andando pela rua a caminho da farmácia. Foi quando um carro preto, muito luxuoso, parou ao seu lado, desceu o vidro de trás e, lá de dentro, um homem muito escuro foi dizendo com uma voz rouca e rasgada que sabia onde o meu tio estava indo. E disse também que sabia do desespero de minha família e que sabia exatamente o que eu tinha. Disse que era médico e que possuía os recursos pra curar menino endemoninhado. Ordenou que meu tio entrasse no carro e o levasse até minha casa. Meu tio entrou. Estava desesperado. Então eles foram. Havia no caminho umas treze porteiras e sete tronqueiras. O meu tio disse que não sabe como, mas não pararam nenhuma vez pra abrir uma única porteira que fosse. Em três minutos o meu tio estava dentro do meu quarto acompanhado por aquele homem escuro como a noite. Eu pensei que fosse o meu padrinho, por que o meu padrinho também era daquela cor. Então eu o saudei como meu padrinho. Ele disse que sim, que era meu padrinho e riu com ar debochado. Ele me examinou e diagnosticou que o caso era urgente e que não havia tempo a perder. Tinha que ir à Franca buscar um remédio, mas teria que ser em três minutos e nada além, ou tudo estaria perdido. Disse para que meu tio o acompanhasse, porém ordenou que ele desta vez fosse de olhos fechados. O meu tio aceitou de pronto e eles partiram. Contou o meu tio que, em dado momento, não resistindo à curiosidade, entreabriu os olhos e viu que o carro estava diante à margem de um rio muito agitado e extremamente largo e qual o carro atravessou como se sobre ele houvesse uma sólida ponte invisível. Aquilo foi incrível! Em três minutos o Doutor e meu tio estavam dentro do meu quarto com um frasco de um remédio azul, o qual passou em minha garganta usando para isso uma pena preta de galinha. Depois o médico me aplicou uma injeção com um poderoso remédio que imediatamente interrompeu os meus tremores. Disse algumas palavras que ninguém se recorda e nem mesmo compreendeu e sorriu largamente ao ver o capeta saltar da cabeceira da minha cama e correr pela porta do quarto cuspindo fogo e com o rabo entre as pernas.”
“[...]”
“Mas o Doutor avisou à minha mãe, pois meu pai nem queria saber de nada, avisou que em três anos aquela moléstia retornaria e então deixou de próprio punho a receita do remédio e da injeção. Em três anos a coisa voltou mesmo. Mas daquela vez minha mãe já sabia o que fazer.”
Ouvi a história inteira com toda atenção e, ao final, apenas exclamei e indaguei: “Impressionante! Mas de onde afinal veio aquele médico? E qual era o nome dele?... Ele não assinou a receita?”
“O Doutor? Sei lá de onde veio. Acho que do espaço. E assinar assinou, mas quem é que entende letra de médico?”
RECESSO DE FIM DE ANO. FELIZ 2013!
Gostei do blog. Agradeço também pelo comentário em minha página (Português na Tela). Sempre que desejares visitar estaremos de janelas abertas.
ResponderExcluirUm feliz 2013 para você, seus familiares, amigos e seguidores.
Abraço,
Virgínia Rocha
Com um médico desses, problema da saúde resolvido...
ResponderExcluirGente!
Abraço, Célia.
Olá Jeff. Um feliz 2013 repleto de realizações pessoais e profissionais, com muita saúde e paz. Sucesso sempre
ResponderExcluirfeliz ano novo muita paz e luz
ResponderExcluirbeijosssssssss
Adorei... adoro histórias! Esta, muito bem contada.
ResponderExcluirOlá Jeferson Cardoso! Sou Vivian Serpa do teenagedreamv.blogspot.com. Peço desculpas por não ter visitado seu blog antes. Passei algum tempo sem visualizar meus comentários e vi o seu hoje. Estou seguindo e gostei muito daqui. Suas histórias são ótimas. Parabéns!! Visitarei mais vezes :D
ResponderExcluirOi Jeferson, vim retribuir a visita e estou gostando muito dos seus contos, parabéns!
ResponderExcluirUm abraço,
Claudia Lemos
Muito maneiro! Adoro histórias que dão a entender esse contexto sobrenatural...e essa da letra de médico foi muito bem sacado!kkkkk! Ninguém entende mesmo!
ResponderExcluirBjs e um feliz ano novo pra vc e sua família!
Olá, retribuindo sua visita e também parabenizar pelos contos, estou adorando. Um feliz ano novo pra você e que 2013 seja um ano ótimo :) xx
ResponderExcluirpois é, quem é que entende letra de médico?
ResponderExcluirQuando era criança, ouvia muitas histórias antigas e que envolviam personagens misteriosos como esse médico. Essa história é acontecida? (rs*) Que medo!!
ResponderExcluirJeferson, parabéns pela narrativa e pelo aniversário do blogue que completará quatro anos. O meu pesar é não tê-lo conhecido antes!
Feliz ano novo!!
Jeferson!
ResponderExcluirVim desejar um feliz ano novo a você e família!
Voltarei aqui depois.
bjo
Hola querido,
ResponderExcluir¡Feliz año 2013!
Besos,
Lany
Olá Jeferson, fiquei muito encantada com a sua visita ao meu blog, você escreve muito bem. Já publicou algum livro? Se não, deveria. Feliz 2013 pra você e pra sua família, certamente será um ótimo ano, que as bençãos de Deus ilumine sua vida e da sua família. Beijos =*
ResponderExcluirhttp://valeu-a-pena-esperar.blogspot.com.br/
Olá!
ResponderExcluirSão mu::::ito bons seus escritos!
Parabéns!
E parabéns também ao seu blog que hoje faz aniversário e, como vocÊ mesmo falou, "deu mais qualidade aos Seus dias". :)
Vida longa!
Ola, então, sinto ter demorado de retornar o comentário em seu blog, ainda estava aprendendo a manuseá-lo e pude ver o que me escreveu só hoje. Obrigada por acompanhar meus textos e gostei muito dos seus, muito sucesso e um bom 2013 a todos nós, estou seguindo seu blog rs
ResponderExcluir
ResponderExcluirOlá Jefh!
Parabéns! Primeiro pelo aniversário do blog e segundo
pelo texto tão bem escrito. Muitas ideias boas pra vc nesse ano viu!
bjs e abs
Assim como prometido, vim cá ver o teu cantinho.
ResponderExcluirParabéns!
Que 2013 seja iluminado e maravilhoso e que seus sonhos, desejos, projetos sejam a continuação em que fizeste em 2012 para se tornarem realidade em 2013.
ResponderExcluirPaz e bem
oi Jefh como é bom te ler..fico presa em suas palavras esperando o final..e sempre vem uma coisa surpreendente.a minha mãe e meu pai viveram na roça e sempre tinham uma história para contar que ouviram de outros..e qual era a verdade? com o tempo ninguém mais sabia.. vc é fantástico. um feliz ano novo..feliz 2013..que seja para vc um ano pleno de realizaçõs
ResponderExcluirAmigo Jefh, não consegui vir aqui no dia 4, aniversário do Blog, mas venho hoje desejar toda felicidade sempre e que estejas por aqui por mais uns 100 anos (sorrioooo)...Parabéns! Parabéns! Um abraço...
ResponderExcluirOi, Jefh!
ResponderExcluirRetribuindo a visita e dizendo que gostei muito da sua escrita. Seu blog é bem legal de visitar, tem texto para todos os gostos, né? Muito bom. Voltarei mais vezes. Obrigada pela visita.
Bjo
adorei seu blog e o texto tb!
ResponderExcluirObrigada pela visita no meu blog!
Bjs e volte sempre :)
Bel Carvalho
http://bybelcarvalho.blogspot.com.br/
retribuindo a doce visita,amei o conto,espetacular !
ResponderExcluirTem brincadeira premiada lá no blog, participa!
Tenha uma linda semana !
Beijocas.
Lilian – Blog:♥Duas Moças Prendadas!
casascoisaseoutros.blogspot.com.br/
Olá! Jefh Cardoso gostei dos seus escritos, volto outras vezes abraços.
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