Igor tomou o envelope contendo seu salário e, mais tarde, partiu para sua casa a levar o fruto de um mês inteiro de esforços para depositar nas mãos de sua esposa gestante já em tempos de dar à luz. Confiava em Yuriy Tsarov, seu patrão, de um modo pleno, amplo e irrestrito. Imaginava que Tsarov, sendo dono de patrimônio considerável para os padrões da pequena Uglich, sendo homem de grande prestígio local, figura bem quista, bem vista e influente na sociedade, jamais seria capaz de fraudar os vencimentos de seus pobres e dedicados funcionários.
Antes de seguir com a narrativa, gostaria de aqui registra um pequeno à parte: como isento narrador que me pretendo, Deus permita-me não julgar este ou aquele personagem por suas boas ou más ações assim tomando partido na narrativa em favor de um ou de outro, pois que eu narre apenas e tão somente os fatos em essência e originalidade o quanto possível, e da história tire você mesmo, leitor, suas próprias conclusões com as ferramentas morais das quais dispõe para o momento.
Aquele rigoroso inverno parecia que não teria mais fim. Enquanto Igor trabalhava com o máximo empenho e todas as suas forças pensando em bem servir para levar o sustento com dignidade à sua humilde casa, Tsarov andava pelo armazém com as mãos para trás a fazer incessantes cálculos dos lucros que germinavam feito sementes de sonhos dentro de sua cabeçorra descomunal. Engendrava argumentos plausíveis para poder reduzir ao mínimo possível o salário de seus funcionários e assim aumentar sua vantagem de forma justificada e incontestável. Excetuando a cabeça enorme e em forma de um ovo orizontalizado, Yuriy Tsarov era um homem miúdo, de mãos miúdas e de caráter dúbio. Certamente Gall, o pai da frenologia, em posse do avantajado crânio de Tsarov traçaria obscuras conjecturas da personalidade daquele estranho e misterioso senhoril.
Mantinha em elevada estima e especial atenção dentro do estabelecimento certo Sergey Fedosov, funcionário antigo, dono de língua felina e olhar malicioso. Este acumulava na empresa as funções de um falho subgerente e competente bedel. Tsarov se agradava de Fedosov não apenas por seus bons préstimos, mas especialmente por seu talento nato aos mexericos, fofocas e maledicências em geral.
Nas horas vagas, com grande ardor, Fedosov tratava da vida alheia dos cidadãos da pequena Uglich para deleite de Tsarov. Igor jamais participava de tais palestras que ocorriam, em verdade, à portas fechadas ou em cantos sombrios onde a luz jamais incide e cochichos nunca ecoam.
Os modos sérios e resignados de Igor perturbavam sobremodo a Fedosov. De certa forma o bedel parecia se incomodar com a conduta do colega que lhe confrontava com a baixeza de seu próprio espírito. Mas todo este incômodo evaporava-se imediatamente diante à aprovação do patrão que o buscava com gozo e incessante interesse para atualizar-se das questões da delação interna e dos noticiários populares informais da pequena comunidade de Uglich.
Todos os meses, Fedosov trazia e distribuía os envelopes com os nomes dos funcionários e seus respectivos vencimentos. Naquele frio novembro, Igor tomou o envelope da mão de Fedosov e o meteu no bolso sem nem mesmo conferir os créditos e a soma, dado que estava extremamente ocupado empilhando caixas no depósito e sem tempo nem mesmo de parar para esticar as costas e ou aliviar-se no banheiro. E só foi tomar novamente o envelope em casa, ao tirá-lo do bolso e entregá-lo a Ekaterína, que o esperava com uma sopa de couve sem carne.
Antes do jantar, enquanto Igor praticava sua toalete, Ekaterína orava em agradecimento e conferia os vencimentos do marido. Espantou-se e achou ter errado a conferência ao dar falta de exatos três rublos. Recontou. Obtendo o mesmo resultado, recontou novamente. Ficou quieta. Não tocou mais no assunto durante todo o jantar e só rompeu o silêncio ao perguntar das coisas do trabalho ao marido, mas este só queria falar dos planos para a chegada do pequeno Nikolay ou da pequena Evgeniya, conforme fosse a vontade do bom Deus. E quando terminaram o jantar, Ekaterína fez o marido saber da diferença no cotejo do pagamento. Aquilo lhes impediria de dar a entrada do berço do rebento. Era sexta feira, na segunda Igor falaria com o patrão e tudo estaria resolvido.
Antes do jantar, enquanto Igor praticava sua toalete, Ekaterína orava em agradecimento e conferia os vencimentos do marido. Espantou-se e achou ter errado a conferência ao dar falta de exatos três rublos. Recontou. Obtendo o mesmo resultado, recontou novamente. Ficou quieta. Não tocou mais no assunto durante todo o jantar e só rompeu o silêncio ao perguntar das coisas do trabalho ao marido, mas este só queria falar dos planos para a chegada do pequeno Nikolay ou da pequena Evgeniya, conforme fosse a vontade do bom Deus. E quando terminaram o jantar, Ekaterína fez o marido saber da diferença no cotejo do pagamento. Aquilo lhes impediria de dar a entrada do berço do rebento. Era sexta feira, na segunda Igor falaria com o patrão e tudo estaria resolvido.
Yuriy Tsarov não demonstrou surpresa diante do fato levado por seu funcionário, mas antes tratou de tomar o envelope do vencimento e comprometer-se a conferir ele mesmo. Fez uma cara indescritível e recolheu-se no interior de sua sala. No final do dia, Fedosov devolvia o envelope a Igor sem dizer nada além do que se referia ser uma ordem do patrão. Decorrido mais um mês, eis que vieram os novos vencimentos. A exemplo do mês anterior e por um mau vício, Igor, no árduo labor da faina, meteu novamente o envelope no bolso sem prestar-se a conferir as contas de seu novo vencimento, confiou. Coube a Ekaterína mais uma vez, e com um sorriso jocoso, comunicar ao marido o novo erro de cálculo; mas agora o famélico salário do homem viera acrescido de três rublos a mais.
Ironias à parte, no dia seguinte, Yuriy Tsarov recebia com visível e patética simulação de surpresa o excedente do pagamento ao funcionário das próprias mãos de Igor, que sorria discretamente.
Olá Jeferson, muito boa tarde!
ResponderExcluirPassando pra retribuir a visitinha. Muito interessante seu blog viu!
Abraços e um ótimo fim de semana.
Fllor *-*
Olá Jeferson.
ResponderExcluirUm conto muito interessante. existem pessoas inescrupulosas e outras tão ingênuas que ficamos pateticamente a pensar no porque de uma pessoa ser tão confiante né? Um abraço
Gracita
e assim podemos perceber que o pequeno Nikolay ou a pequena Evgeniya terão um berço novo nesse próximo mês de pagamento.
ResponderExcluirdizem por aí que honestidade é algo que vem de berço, mas sei lá, acho que Igor vai ser o responsável por colocar isso lá dentro, como um presente de boas vindas ao filho ou filha. =]
magnífico conto, Jefh, parabéns!!
já estou te seguindo, virei sempre aqui!!
muito obrigada pela visita!
beijos, beijos
Olá Jeferson!
ResponderExcluirSerá que entendi direito???????
Se sim, estou horrorizada... será que existe alguém tão "desligado" assim?;-)))
Abração
Jan
Gostei muito da narrativa. EXCELENTE!
ResponderExcluirDesperta atenção e prazer pra concluir a leitura.
Reflexivo e intrigante...
Parabeens :D
seja bem vindo!
ResponderExcluirhttp://pinkbelezura.blogspot.com.br/
Teu estilo de escrita é muito interessante; conheci teu blog pelo neverland da Vick. Gostei!
ResponderExcluirVocê pode ser escritor, escreve muito bem.. Só que muitas palavras eu não consegui entender, entendi mais ou menos, mas eu amei! Bj
ResponderExcluirPimentaCupcake
adorei a visita no meu blog e adorei o conto. Ainda prefiro ser ingenua a ser inescrupulosa. Mas não podemos confundir ingenuidade com ser desligado e nem falta de escrúpulos com esperteza. Princípios acima de tudo.
ResponderExcluirMega beijo pra ti
Sempre há aquele que quer nos derrubar, se não ficarmos espertos, nem sequer saberemos de onde vem o golpe.
ResponderExcluirGostei do conto e da sua narrativa, Jeferson.
Abraço
Nanda Meireles
Bem interessante, e bem centrado seu blog, adorei !
ResponderExcluirRetribuindo a visita e te seguindo tbm.
Até
http://bhulago.blogspot.com.br/
Interesante a história, porém a conci~encia e a cabeça no travesseiro a noite tem que estar em paz, não conseguiria fazer este tipo de coisa.
ResponderExcluirÓtimo conto! Abs!
ResponderExcluir
ResponderExcluirGostei muito do conto,como também gostei de seu blog. Por isso estou á segui-lo. Um abraço e obrigada também pela sua visita em meu blog. Beijos e boa sorte! :)
Muito agradável a forma como conduzes a escrita e o leitor. Continuarei por aqui ;) Abraço.
ResponderExcluirObrigada por visitar meu blog, gostei muito do seu. Esse conto é bastante interessante e mostra claramente o que vive acontecendo por ai...Não devemos confiar em ninguém.
ResponderExcluirBeijos!
Paloma Viricio- Jornalismo na Alma
Bom dia Jeferson, obrigado pela visita ao meu blog, é um prazer...
ResponderExcluirAdorei o texto, muito bem escrito e um assunto para reflexão...Ainda bem que ainda existem pessoas dignas neste mundo né...
Virei sua seguidora...
Abç e boa semana.
Marcela
Obrigada Jeferson, que bom que gostou do meu blog, e que bom ele ter passado pra vc tanta alegria, também gostei muito do seu e por isso decidi ser sua seguidora, beijinhos!!!
ResponderExcluirObrigada pela visita amigo. Vou agora passear
ResponderExcluirpelo seu cantinho... muita paz no seu dia, bjks!
Olá,
ResponderExcluirPassando para retribuir sua visita lá no blog.
Ótimo post!!
*bye*
Louca por Romances
Oiie!!
ResponderExcluirGostei do texto. É algo que vivenciamos todos os dias ^^
Beijos
Brubs
Olá Jeferson! Agradeço sua visita em meu blog, venho aqui prestigiar seu trabalho também!
ResponderExcluirEstes textos nos fazem pensar em algumas situações do nosso dia a dia... que rendem mesmo milhares de histórias! E algumas lições de vida rsrs
Um abraço
Boa tarde Jefherson !
ResponderExcluirPassando por aqui para retribuir a sua visita ao meu blog !
Amei o seu !
Muito bom o seu post !
Agradeço o carinho e volte sempre que quiser ao meu cantinho !
Bjkas !
Boa tarde Jeferson!!! Gostei do conto e da forma em que foi narrado. Excelente para reflexão. No mais agradeço sua visita ao meu blog. Abs
ResponderExcluirGostei tanto que já estou seguindo.
ResponderExcluirOlá querido.
ResponderExcluirAdorei seu conto, você escreve muito bem.
Obrigada pela visita :)
Beijinhos
http://fulanaleitora.blogspot.com.br
Excelente texto... e faz-nos pensar, qdo nos falta algo de direito sempre estamos prontos a reclamar, mas será que todos nós estamos prontos para devolver o que não nos pertence??? Já passei por situação parecida com troco de supermercado, e não tive dúvidas em devolver o dinheiro que não era meu... Adorei mesmo seu texto, e são todos muito bons... Parabéns pelo seu blog... abraço... e ótima semana curtinha pra vc...
ResponderExcluirOi Jeferson, retribuindo a visita. Seu blog é muito legal. Ótimos e inteligentes textos. To te seguindo, parabéns!!!
ResponderExcluirBoa Noite!
ResponderExcluirObrigado pela visita e comentário, seu blog é bem interessante. Passarei mais algumas na visita pra simplesmente chegar a conclusão que seu blog é genial!
achei bem interessante o teu blog
ResponderExcluirfloresdemarshmallow.tk
Vim agradecer sua visita no meu blog.
ResponderExcluirAchei interessante o que postou. Gostei da foto.
Seguindo seu blog.
Manuscrito de Cabeceira
Bjs.
eu do site rastreamentodecelular.net Estou aqui denovo comentando,por que adoro esse blog,bom demais,muito bom msm!!!!!!me recomendaram e até hj acompanho,mais ai queria tirar uma duvida sera que esse site é bom http://detetive-particular.com ? se alguem souber me falar,e continue com mais post!! fuuuuuuuuui
ResponderExcluirEscreve muito bem, parabéns!!!
ResponderExcluirAh,obrigada pela visita...
Oi, adorei o seu conto, e gosto muito de ler alguns as vezes. Gostaria de poder escrever desse jeito :)
ResponderExcluirBeijos!
www.souseuastral.blogspot.com.br
Honestidades à parte, meu caro!
ResponderExcluirTodo santo é de barro e quando caem,
sempre quebram!
Obrigada pela visita!
Eu votaria nesse Igor..rs Honestidade é o que caracteriza a decência da alma humana. Bons textos, também tenho uns no 'Alma Andarilha',mas não tão elaborados como estes.Agradeço a oportunidade de conhecer seu blog =) Parabéns!
ResponderExcluirAbçs
Ana Cláudia Lara
do poesiandoumpouco.blogspot.com.br/ e do
Alma Andarilha(dacigana.blogspot.com.br/)
Grande sujeito, esse Igor Honestidade é artigo em falta hoje em dia.
ResponderExcluirAgradeço a visita ao meu blog, caro Jeferson. E respondendo à pergunta que me fizeste, embora creia não ter compreendido tuas razões para fazê-la, não, nunca passei por situação moral ou financeira delicada até agora, Graças a Deus.
Obrigada pela cordialidade. estou seguindo teu blog, gostei do teu jeito de escrever. Abraços, e volte sempre!
Olá! adorei muitos seu conto, parabéns sem dúvida estarei visitando mais vezes seu blog para ter a oportunidade e ver mais.
ResponderExcluirE ainda agradeço sua visita ao meu blog:janainafurquim.blogspot.com.br
Parabéns pelo blog! Abraços
ResponderExcluirOlá Jéferson! Li a adorei, sensacional seu conto, também sou contista e uso meu blog para postá-los. Fiquei até com vergonha dos meus, depois que li o seu lindo trabalho.
ResponderExcluirParabéns, tece seu texto de maneira tão peculiar... adorei. Obrigada por apresentá-lo a mim. Beijos Lilian Reis.
Olá, Jeferson, interessante o começo dessa série de narrativas. Chamo narrativas por ser um rótulo mais genérico, onde contos estão incluídos. Chamou-me a atenção os nomes de alguns personagens e percebe-se que o autor (neste texto) preocupou-se com a escolha e lapidação das frases, o leitor treinado em romances e contos percebe o trabalho por trás. Parabéns pelo trabalho até aqui. No que se refere à linguagem, eu revisaria o uso de 'diante à aprovação'. Não sou especialista em Português mas achei estranho esse padrão. Aguardo seus comentários em Distraído. Interessa-me muito a reação do leitor após a primeira leitura, sem o refino do julgamento ou floreios do raciocínio, sincero como o olhar infantil. Um abraço fraterno, até!
ResponderExcluirAgradeço por sua visita em meu blog. Você escreve muito bem! Desejo-te o maior sucesso do mundo!!
ResponderExcluirAbraços, Márcia