Ela vinha, sei de onde, ninguém ousaria duvidar, era pessoa insuspeita, séria, imaculada, ela vinha do trabalho, é claro. Do trabalho e de nenhum outro lugar. Era horário de serviço terminado. Era o tempo exato de ela chegar ao Galpão Tântrico TL101 caminhando à pé pela calçada. Vinha com a roupa uniforme de trabalho. Vinha esbaforida, apressada, atrasada, obsequiosa, resfriada, muito, mas muito resfriada mesmo. Olhos quase cerrados e lacrimosos, voz fanhosa, coriza contínua, postura cansada, desalinhada. A sessão de ioga já havia começado há dez minutos. Os colegas se aqueciam, se alongavam, respiravam com especial atenção ao diafragma, assumiam posturas incomuns ao cotidiano. Os colegas, os outros alunos, já iam mergulhados em seus interiores, já desciam em busca de seus âmagos trajando malhas de mergulhadores de âmagos. Naquele dia, a solidão que sempre a acompanhava e sempre era visível no tom de sua voz, em suas histórias, em seu semblante, em seu sorriso contido, quase triste, naquele dia a solidão parecia mais sórdida que sempre. Ela comentou que estava muito mal. Que um resfriado praticamente a inutilizara para o trabalho, mas que se levantou por opinião, fez seu próprio chá, escolheu um potente comprimido em seu arsenal farmacológico doméstico e tomou, e somente por necessidade chegou ao Galpão Tântrico TL101, seu lugar de equilíbrio e recomposição. Outros alunos, os menos concentrados, a praga dos alunos menos concentrados, os que se dispersam por tudo e por nada, arregalaram os olhos temendo contrair o maldito resfriado. Gente egoísta que ela conhecia muito bem o tipo. Gente que, antes de tudo, pensa totalmente em seu próprio bem estar. Gente sem sensibilidade para admirar a atitude heróica de Olga. A recriminavam com olhos e traços espantados e temerosos nas faces de máscaras sem solidariedade, temiam contrair o maldito resfriado. Maldito. Mas veja bem, quem está em equilíbrio não contrai resfriado algum. É, antes de tudo e na verdade, uma verdadeira muralha de imunidade. Mas essa gente sabe que não está lá com esse equilíbrio todo. Intui que não tem saldo nem de equilíbrio e muito menos de imunidade. Olga deixou aquela gente pra lá. Afinal, não era por eles que ali estava. Estava ali pra resgatar seu equilíbrio. Pra ter um raro prazer no dia. Pra receber as instruções divinais de Mestre Raimundo, o iogue mais velho do mundo. Ao menos é o que todos diziam. Talvez tivesse 92 anos e fosse mesmo de 1920, ou talvez fosse de 1930 e tivesse apenas 82 anos, quem sabe? Ele consentiu que Olga se juntasse ao grupo. Fez do modo calmo e cordial de sempre e sem pronunciar uma única palavra. Todos entendiam perfeitamente seus gestos. Era incomum ele precisar emitir algum som além o da respiração profunda, controlada, diafragmática. Com outro gesto deu a entender se ela não iria trocar a roupa uniforme de trabalho pela malha de mergulhar em âmago. Outra vez, Olga se desculpou. Depositou a bolsa e a blusa que trazia consigo sobre o banco destinado aos pertences dos alunos em um canto da grande sala retangular iluminada do altíssimo teto mais pelas luzes das clarabóias que pelas lâmpadas de mercúrio pendulares pendentes por correntes. Mestre Raimundo a desculpou com um gesto de reservada aprovação e leve cumplicidade. Olga se juntou ao grupo e mergulhou. Mestre Raimundo percorria os corredores humanos por entre seus pupilos. Tocava, posicionava, respirava, demonstrava com gestos manuais curtos, discretos, codificados em uma linguagem própria e, paradoxalmente, universal. Ia andando, observando, orientando, observando, pensando, observando. Ao passar pelo banco dos pertences, não pode deixar de notar que um delicado objeto pendia de dentro da bolsa de Olga. E estando o objeto quase todo regurgitado pra fora da bolsa, exibia detalhes que Mestre Raimundo examinava com imensa atenção e surpresa a cada vez que passava à passo lento.
Obs. Durante uma visita, fiquei muitíssimo encantado com a imagem de um palhaço pendurada na parede de um cômodo mais profundo da casa, sem destaque. Pedi permissão para ver e fotografar. Olhando mais de perto, pude notar tratar-se de um trabalho do artista Marozo, de quem ouço falar e vejo obras em diversos locais de Ituverava. Tive o forte desejo de publicar a imagem e agora o faço. Caso isso não me seja permitido por algum motivo, quem for de direito queira me comunicar e removerei prontamente a imagem deste blog. Por agora, espero que todos aproveitem o deleite. Ah, e este texto continua e termina no próximo final de semana.
Incrível como é possível imaginar cada cena, principalmente o egoísmo das pessoas.
ResponderExcluirSe estou bem... o outro que não me encha, não é mesmo assim? Sofrida, doente ou faminta ainda que de amor, muitos não se sensibilizam.
ResponderExcluirAbraço, Célia.
Que prazer ler-te!
ResponderExcluirAbraço.
Olá Jefh :)...mais uma obra fantástica daquelas que a gente não consegue parar de ler!!
ResponderExcluirAguardando ansiosamente o desfecho do encontro de olga com a ioga e afirmo que ela é mesmo guerreira porque é muito complicado fazer ioga com um "baita resfriado"...experiência própria rsrsrsrs...
Bom fim de semana...sem resfriado!!
Sua imaginação é ótima , vou aguardar próximo final de semana
ResponderExcluirpara ler a continuidade do texto.Boa noite
Boa noite querido amigo Jefh!!!
ResponderExcluirAmei a foto do palhaço...espero que ela continue em seu blog para a eternidade.
Menino, bem na hora em que pensei desvendar o mistério...agora vou ter que aguardar semana que vem. Mas aguardarei com muita alegria, pois amo vir aqui.
O que será o objeto tão belo que Olga tem na bolsa????
Tenha um domingo feliz e abençoado.
Bjokas...da Bia!!!
Amei! Consegui vê-la de forma clara através dos adjetivos usados por ti! "Vinha esbaforida, apressada, atrasada, obsequiosa, resfriada, muito, mas muito resfriada mesmo." Parabéns pelo belo texto! Beijos.
ResponderExcluirOlá Jeferson!
ResponderExcluirGostaria de dizer que seu blog é fantástico. Mesmo.
"Naquele dia, a solidão que sempre a acompanhava e sempre era visível no tom de sua voz, em suas histórias, em seu semblante, em seu sorriso contido, quase triste, naquele dia a solidão parecia mais sórdida que sempre."
Essa frase me marcou. Muito.
Querido amigo e poeta, seu Blog é lindo, marcante e conteúdo, parabéns pela iniciativa, e obrigada pela mensagem e visita ao Blog do Centro Literário de Piracicaba CLIP, beijos sucesso!!
ResponderExcluirOi Jefh,
ResponderExcluirPassei,para agradecer a visita que me fizestes há alguns meses.
Amei seu blog, seus textos são muito interessantes.
Parabéns.
"Vinha com a roupa uniforme de trabalho. Vinha esbaforida, apressada, atrasada, obsequiosa, resfriada, muito, mas muito resfriada mesmo."
ResponderExcluirEu 'vi' a Olga.
Agora quero 'ver' o objeto que a bolsa dela está "regurgitando"...
Abração
Jan
adorei. :)
ResponderExcluirFantastic! Já estou vendo a hora de ler os próximo capítulo...
ResponderExcluirBeijos de mais uma fã!
PARABÉNS! VEJO QUE ÉS UM EXCELENTE ESCRITOR!
ResponderExcluirFICO AGRADECIDA POR SUA VISITA EM MEU BLOG
MUITO BOM CONHECER PESOAS MESMO SENDO DE MANEIRA VIRTUAL
PARABÉNS COLEGA!
DEUS TE ABENÇOE
PARABÉNS POR SUAS POSTAGENS!
ABRAÇO!
O RN TAMBÉM MANDA UM ABRAÇO!
Estou passando para retribuir a visita.
ResponderExcluirGostei muito do que vi e com certeza me tornarei uma seguidora do seu blog.
Bjão
E agora resta esperar o final da história!!! O que tinha na bolsa meu Deus!!! Hehehe.
ResponderExcluirAdorei o texto e fiquei viajando e comparando com as minhas aulas de Yoga.
Olá! vim retribuir a visita e fiquei encantada com teu blog...parabéns e com certeza virei mais vezes aqui...abrs e boa semana!
ResponderExcluirJeferson, tudo bom? Sou suspeita pra falar, mas Olinda é sim um cidade super charmosa! Ah, mas é dos sonhos que nascem as grandes conquistas!
ResponderExcluirAbraços,
Déa Accioly
Texto muito interessante,que chegue logo o fim de semana para mim ler a continuação,e saber o que era o tal objeto que regurgitava da bolsa.Abraços
ResponderExcluirEntão venha conhecer Olinda, prometo qê não vai se arrepender. Aqui é muito liindo. *---*
ResponderExcluirObrigado por passar lá.
Bgs. ;*
www.tracyemmy.com
Honrada com sua visita e comentário surpreendi-me mais ainda ao conhecer seu blog. Seu estilo é claro, interessante, não se expõe totalmente, apenas o suficiente para prender o leitor e creio, é apenas uma opinião superficial de quem acabou de conhecer o Blog, muitas vezes não é totalmente compreendido. Gostei muito. Tornarei-me assídua. Abraços
ResponderExcluirparabens por seu trabalho, bastante original!
ResponderExcluirUau!
ResponderExcluirEstou presa na teia da narrativa... Fiquei curiosa pra saber o que é o tal delicado objeto que pendia de dentro da bolsa de Olga...
Obrigada pela visita no potirah.blogspot.com e pelo convite pra vir aqui conhecer este espaço encantador.
=)
Passei por aqui... agora aguado o final.
ResponderExcluirAmigo Jefh, passando rapidamente aqui, mas consegui ler o final da outra estória e início deste texto, como sempre muito interessante a maneira como consegues conduzir a estória, como sempre digo você é um "guri talentosooooo"! Meu lindo amigo desejo a você e sua namorada/esposa toda felicidade do mundo, neste dia e sempre! Um abraço!!!
ResponderExcluirOi, Jeferson.
ResponderExcluirGostei muito do seu texto.
Li de uma só vez, mas voltarei para absorver melhor os detalhes.
Um abraço.
Ótimo!!
ResponderExcluire eu ainda me vejo a observar o objeto.
Oi Jefh, hoje mesmo estava pensando em passar aqui pra fazer uma visita...fiquei feliz por demais com sua presença.Ando meia ausente pela net, por isso a demora em estar aqui.Interessante e misteriosa a história, bem composta e bem detalhada como as que sempre escreve... Ando assim cheia de resfriado como o personagem da história...Quem está em equilíbrio não contrai resfriado algum, ehehehe será?
ResponderExcluirVamos ver no próximo capitulo que objeto é esse que deixou o Mestre Raimundo surpreso.
Gostei da pintura do palhaço, muito bonita e misteriosa.
Grande abraço !
Beijosss!
Oi amore,
ResponderExcluirvim desejar uma ótima tarde
e te convidar p/ 4 sorteios lá no blog
será uma honra vc por lá!
boa sorte
te espero =^.^=
www.coisasdeladdy.com
bjinhos♥
Olá.
ResponderExcluirSeu blog é muito bom.
Bjuss
Lindo texto, estou curiosa para saber qual seria o objeto talvez algo relacionado com yoga ou com aquele momento,porque acredito que quem pratica o faz por um motivo maior, não sei como explicar em palvras me desculpe.
ResponderExcluirMas adorei a sua visita e espero sempre poder voltar aqui para sempre estar evoluindo .
Obrigada pela visita, parabéns pelo blog!
ResponderExcluirBeijos!
Olá Jefh...muito bom, "Olga faz Ioga", me identifiquei...rsrs, volto a ler mais seu blog. Parabéns pelos tres anos de blog.Escrever faz parte da minha vida é como escovar os dentes...rsr. Fico feliz quando estabeleço contato com pessoas do mesmo ofício. Um abraço, vou ler sempre seus escritos.
ResponderExcluirOlá!! obrigada pela sua gentileza.Li o texto e estou curiosa para saber qual o objeto.Lindo texto.
ResponderExcluirEstou te seguindo.
um abraço
Adorei Jeff, muito bom o teu blog. Demorei, mas vim conhece-lo. Sacadas inteligentes, textos envolventes. Curti.
ResponderExcluirUm abraço.
LINDO,SIMPLESMENTTE SEM PALAVRAS PRA DIZER,DAQUI UNS DIAS PUBLICAREI UM LIVRO NO BLOG,PQ NAO POSSO PUBLICAR EM EDITORAS O NOME SERA DESTRUIDOS PELO AMOR,MANDAREI UM AVISO PARA QUE VC LEIA,MUITO OBRIGADO,ME AJUDOU MUITO.
ResponderExcluirQuero muito saber que objeto é esse, estou curiosa, adorei o blog parabéns!
ResponderExcluirOlá, Jeferson!
ResponderExcluirÉ um enorme prazer conhecer o seu blog!
Excelente texto, estou muito curiosa para continuar a leitura!
Um grande abraço!
OLGA FAZ IOGA: Mais um texto sensacional! Adorei! Volto depois para ler a continuidade. Espero sua visita quantas vezes queira e deixe o seu blog. A turma que me visita é apreciadora de blogs. Um grande abraço.
ResponderExcluirhttp://www.lelia-dourado.blogspot.com
Perfeito....cronicas que nos envolvem!!! E ql o objeto!?
ResponderExcluirBjussss
"Mas veja bem, quem está em equilíbrio não contrai resfriado algum. É, antes de tudo e na verdade, uma verdadeira muralha de imunidade. Mas essa gente sabe que não está lá com esse equilíbrio todo. Intui que não tem saldo nem de equilíbrio e muito menos de imunidade. Olga deixou aquela gente pra lá. Afinal, não era por eles que ali estava. Estava ali pra resgatar seu equilíbrio."
ResponderExcluirEquilíbrio esse tem sido um tema constante na minha vida nas últimas semanas...
O desfecho da história foi divertido,discreto e perfeito.
Aproveite Curitiba!No inverno ela fica mais bela ainda.
Olá Jefferson, gostei muito da leitura, fiquei feliz com a tua visita ao meu blog.
ResponderExcluirUm forte abraço, Frida Lucia
Agulhas, Colheres & Afins
Olá Jefferson, adorei a sua visita ao meu blog e passei aqui para lhe agradecer e me encantei com o texto e com o seu blog, voltarei para ler a complementação do mesmo, amei a sua versatilidade no texto escrito, parabéns e muito sucesso.
ResponderExcluirA cada passo que damos é uma conquista, sem avançarmos não conquistamos...
Tal como sugeriu aqui deixo o meu humilde comentário, gostei muito do texto e da forma como o escreveu. Pratico yoga e foi fácil imaginar o "olhar para dentro" que tão bem descreveu. Parabéns.
ResponderExcluirOI JEFERSON PASSANDO PARA RETRIBUIR A VISITA.
ResponderExcluirAMEI.O TEXTO!!!! MARAVILHOSO,ANDO PRECISNADO LER MAIS.
GOSTEI MUITO JA ESTOU TE SEGUINDO..BJOSSSSSSSSSSS
ME VISITE MAIS VEZES..
Ei, Jeferson! Retribuindo a visita, e avisando que adorei o texto....Parabéns pelo blog...
ResponderExcluirAbraços, Irmãs Conectadas.
oi jerferson amei o seu blog visite-me mais veses e se poder mim siga pois só tenho 1 seguidor e se vc poder divulgar um pouco meu blog agradesço muito pois preciso muito trabalhar e vejo no meu blog uma oportunidade de espor o meu trablalho pois moro em em lugar muito isolado no interior da paraiba
ResponderExcluirE agora quero saber que objeto é esse!! Seu poder de descrição é ótimo! Acredito que as críticas virão construtivamente pós análise profunda, pois sou leitora inicial de seu trabalho... Mas, de já, parabéns!
ResponderExcluirOi Jeferson, passe para retribuir a visita e adorei o blog, pasei a te seguir. Parabéns, esvreves muito bem, a gente entra no universo da personagem. Estou mega curiosa para continuar lendo e descobrir o que à na bolsa de Olga, rsrsrs.
ResponderExcluirOi Jeferson!
ResponderExcluirComo sempre ótimos textos,parabéns!
Fiquei um tempinho sem dar o ar da graça por causa dos problemas do Blogger,mas sempre vinha por aqui ler,agora tudo resolvido vou comentar mais vezes porque como já postei ,gosto muito de seus textos,abração e obrigada pela visita e comentário!
Oi Jefh!
ResponderExcluirParabéns!Você escreve muito bem!
Você já reuniu suas obras num livro?
Dê asas a sua imaginação e descobrirá o mundo aos seus pés.(Geisa)
"O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso, existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis." Fernando Sabino
Abraços!
Geisa
Olá, Jefh,
ResponderExcluirParabéns seu texto está excelente Já pensou em publicar seus textos? Vc é um escritor com uma percepção aguçada. Desculpe somente entrar agora, estava de férias!
Olá Jefh! Bom dia! Em outrora, precisamente em "17 de junho de 2012 19:43" ao responder um comentário seu disse que o visitaria neste post, e eis-me aqui! Sim, após bons meses... Mas, declaro que curti ler o texto que me sugeriu, em certos momentos identifiquei-me com a personagem do mesmo e pude constatar o quão você escreve bem e fácil para nós leitores. De fácil linguagem e de assunto polêmico, à ser combatido em nós, que é o egoísmo, só posso dizer que curti. Obrigada pela visita em meu blog em data passada e mais ainda, obrigada pelo convite! Parabéns e desejo-te um ótimo 2014! Abraços, Denise Moutinho ;)
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