A mulher esganiçava sua voz tentando superar o grave timbre da voz do companheiro. Ele cobria a voz dela como um trovão que estronda no céu sobre as cabeças atordoadas dos frágeis mortais que não possuem abrigo às tempestades. Afirmava com enérgica autoridade e convicção de pedra que ela havia dormido sim, que ela havia dormido era muito, e que ele a havia visto dormir, roncar a noite inteirinha. E dizia ainda que não havia essa coisa de insônia nenhuma, que a insônia dela era falsa, uma farsa, preguiça, uma coisa do capeta. Por fim, a vizinha silenciou de vez. O homem, insatisfeito, continuou dizendo em sua fala cantada e cheia de sotaque que aquilo não tinha futuro nenhum, e que depois não adiantaria os apelos da mulher. Disse que ela iria lamentar muito, pois ele iria embora. Dizia que iria cuidar da vida dele, que aquilo não tinha futuro, que a mulher era uma dorminhoca. Nos minutos seguintes, tudo pesou em silêncio.
Genérico seguia com a sessão. Terapeuta e cliente tinham suas atenções avidamente debruçadas no muro dos supostos paranaenses. Seguindo à pausa silenciosa, veio um cheiro de café que saltou o muro escuro de grandes tijolos pó de mico cobertos por limo e invadiu o interior do quarto de Zé Ari. E a sessão de Genérico conheceu o seu final. Genérico despediu-se do cliente agitado e de olhos arregalados, e partiu sem comentar coisa ou fato. Deixou tudo no ar misturado ao cheiro de café forte. Dona Arlinda conduziu o terapeuta até o portão. Genérico se despediu e entrou no carro prometendo retornar na semana seguinte.
No entanto, antes mesmo que se afastasse muito em direção ao centro, viu uma ambulância reduzir e ir parando diante à casa de seu cliente. Genérico reduziu a velocidade do carro. Ia parar e retornar. Apenas parou. O que foi suficiente para ver, pelo retrovisor, que era na casa dos supostos paranaenses que desciam os homens de branco e, no instante seguinte, saíam com um grande homem na maca. Genérico, somente na semana posterior, soube por Dona Arlinda que o vizinho, que sabia agora ser de Angulo, havia enfartado naquela manhã do atendimento da sessão anterior, uma tragédia! A viúva, segundo Dona Arlinda, estaria desconsolada. A pobrezinha, que era de Barra do Jacaré ou Sertaneja, não se sabia ao certo, não tinha ninguém ali na cidade. Acompanhou o marido que veio por ter encontrado trabalho como serralheiro.
Seu Zé Ari aguardava com os grandes olhos giratórios a chegada de Genérico à beira de seu leito. Genérico o cumprimentou e foi cumprimentado como sempre. A sessão transcorria naturalmente. Contudo, um pouco antes do termino do trabalho, o cheiro de café fresco mais uma vez saltou o muro e invadiu o quarto do cliente. Seu Zé Ari e Genérico se entreolharam nos olhos e, em seguida, olharam para a janela de aço. Ambos pararam para ouvir a bela canção de Marisa Monte (Gentileza) na doce voz da vizinha viúva recente do finado vizinho já não mais supostamente paranaense.
Genérico seguia com a sessão. Terapeuta e cliente tinham suas atenções avidamente debruçadas no muro dos supostos paranaenses. Seguindo à pausa silenciosa, veio um cheiro de café que saltou o muro escuro de grandes tijolos pó de mico cobertos por limo e invadiu o interior do quarto de Zé Ari. E a sessão de Genérico conheceu o seu final. Genérico despediu-se do cliente agitado e de olhos arregalados, e partiu sem comentar coisa ou fato. Deixou tudo no ar misturado ao cheiro de café forte. Dona Arlinda conduziu o terapeuta até o portão. Genérico se despediu e entrou no carro prometendo retornar na semana seguinte.
No entanto, antes mesmo que se afastasse muito em direção ao centro, viu uma ambulância reduzir e ir parando diante à casa de seu cliente. Genérico reduziu a velocidade do carro. Ia parar e retornar. Apenas parou. O que foi suficiente para ver, pelo retrovisor, que era na casa dos supostos paranaenses que desciam os homens de branco e, no instante seguinte, saíam com um grande homem na maca. Genérico, somente na semana posterior, soube por Dona Arlinda que o vizinho, que sabia agora ser de Angulo, havia enfartado naquela manhã do atendimento da sessão anterior, uma tragédia! A viúva, segundo Dona Arlinda, estaria desconsolada. A pobrezinha, que era de Barra do Jacaré ou Sertaneja, não se sabia ao certo, não tinha ninguém ali na cidade. Acompanhou o marido que veio por ter encontrado trabalho como serralheiro.
Seu Zé Ari aguardava com os grandes olhos giratórios a chegada de Genérico à beira de seu leito. Genérico o cumprimentou e foi cumprimentado como sempre. A sessão transcorria naturalmente. Contudo, um pouco antes do termino do trabalho, o cheiro de café fresco mais uma vez saltou o muro e invadiu o quarto do cliente. Seu Zé Ari e Genérico se entreolharam nos olhos e, em seguida, olharam para a janela de aço. Ambos pararam para ouvir a bela canção de Marisa Monte (Gentileza) na doce voz da vizinha viúva recente do finado vizinho já não mais supostamente paranaense.
Gosto de ler seus post são no minimo o máximo é
ResponderExcluirmuita imaginação solta . Boa noite
Meninooo!!! que delícia de texto... quero te seguir, seguir suas explanações, palavras muito bem colocadas, expressas de um jeito gostoso no entendimento... Parabens!!! Ganhou uma fã!
ResponderExcluirBom dia Jefh !
ResponderExcluirGostei...pelo jeito a vizinha se livrou de um peso KKKKK....
Valeu! Uma ótima semana, bastante produtiva espero!
Muito interessante, esta de parabens...
ResponderExcluirBom, final feliz/triste. Triste/feliz pra que fica e feliz/triste pra quem vai...Tudo depende do que valeu a pena ou não.Seu texto mais uma vez me prendeu, desta vez pelas brincadeiras com as palavras: uma falsa, uma farsa...Este tipo de jogo de palavras deixa o leitor satisfeito porque ele acaba se envolvendo e brincando, procurando ter mais afinidade tanto com o texto em si, quanto com o escritor... Enfim, o que me deixa tocada de fato, é que infelizmente esta é uma realidade nua e crua de que muitos casais estão vivendo todos os dias essa manhã sombria de agredir o outro com uma autoridade infeliz, exercendo sobre o outro um sentimento de posse terrível. O seu texto além da riqueza de detalhes e argumentos, proporciona uma extrapolação incrível... Sem querer, querendo, fazemos uma inferencia com os acontecimentos do mundo. Mais uma vez, parabéns. Estou muito feliz de ser sua seguidora.Já estou esperando o próximo texto. Abraços
ResponderExcluirLi reli e amei. Inteligência! Competência! E muita imaginação! Fazem do autor desse blog, muito especial. Parabéns. http://www.lelia-dourado.blogspot.com
ResponderExcluirBelo texto!
ResponderExcluirParabéns. Adorei o texto!
ResponderExcluirOlá Jefh
ResponderExcluirÉ... o terapeuta é genérico; o paciente e sua família tem paciência; e, os vizinhos NÃO são paranaenses;-)))
E você deu uma feição mais bonita a essa realidade, como acontece em cada conto seu.
Faz-me bem te ler.
Abração
Jan
Magnífico!!! Mais uma vez me encantei lendo seu texto.
ResponderExcluirQue você nunca perca esse dom, pois o dom de escrever é divino e raro. Ainda mais o jeito que você escreve, uni muito bem as palavras e cria textos sensacionais!!!
Mais uma vez, meus parabéns!
Oie, adorei a continuação, é uma leitura surpreendente e encantadora, ótimo texto :* beijinhos
ResponderExcluirBoa noite Jefh!!!
ResponderExcluir(risos)
Lá vem a Bia dando os palpites...
O caso não é de rir, mas que dó do suposto paranaense. kkkkkkkkk, A coitada da mulher "roncadeira" conseguiu matar o marido. :(
Poxa,..., pensa se ele tivesse procurado Genérico talvez as coisas teriam tomado outro rumo.
Tenha uma semana feliz e abençoada.
Bjokas...da Bia!!!
Obs.: Quando tiver um tempinho vem seguir meu novo blog, esquece não tá!
http://pequenosgrandespensantes.blogspot.com.br/
Surpreendente sua facilidade em detalhar uma narrativa.Parabéns e obrigada por sua visita em meu blog.
ResponderExcluirMuito bom seu blogue!
ResponderExcluirLi os três sobre "Os fracos...", esse, gostei do seu jeito de escrever, estou seguindo e voltarei!
Obrigada pela visita e comentario em meu blog, pelo convite, enfim...!
Parabéns pelos três anos do blog!
Abraços e espero nos tornemos amigos!
Ivone
Adorei o jeito como vc escreve... uma união entre as palavras e sentimentos, gostei muito, parabéns.
ResponderExcluirAbraços e obrigada por passar no meu cantinho.
Eu acho que agora ela poderá roncar à vontade, e tomar muito café! Adorei o seu texto.
ResponderExcluirQue bom te conhecer, Jef! Adorei seu texto e parabéns pelo seu blog! Escrever é um dom, e você o tem de sobra...
ResponderExcluirVou continuar me deliciando com sua imaginação, vou sempre dar uma passadinha por aqui...
Um abraço!
muito bom. é fascinante a forma como vc embaralha palavras e sentimentos, dando vida às suas narrativas, parabéns és talentoso!!!
ResponderExcluirBom dia Jefh...lindo texto!! As palavras fazem a diferença!
ResponderExcluirÓtimo feriado...obrigada pelo carinho!!
Adorei o texto , até me inspirou a ouvir Marisa Monte.
ResponderExcluirBjos Luzia
Oi...Passando para agradecer e conhecer o seu blog...parabéns,adorei.beijossss.
ResponderExcluirOi Jefh
ResponderExcluirUm belíssimo texto! Você tem o dom de surpreender com as sua palavras. Muito bem articuladas. Um primor de história.
Obrigada por sua visita. Deixou-me honrada.
Tenha uma linda sexta-feira de muita paz e carinho
Um abraço fraterno
Gracita
bastante interessante, amei !
ResponderExcluirhttp://toobege.blogspot.com.br/
Amei...belo texto!!! Uma delicia a expressão de palavras envolventes!!!
ResponderExcluirBjuss!
Muito legal escrever. Não tenho esse dom...Parabéns e obrigada pela visita e comentário!
ResponderExcluirAna
Gostaria que todos os genéricos , obtivessem a sensibilidade de ouvirem Marisa Monte e descobrissem o poder de uma letra que vai além da sonoridade e penetra em um mundo em que infelizmente genérico cria genéricos, é claro que existem exceções! Maravilhoso ter lido seu texto, vou compartilhar! Beijos.
ResponderExcluirJefh;
ResponderExcluira magia de bem escrever, é transportar o leitor às cenas descritas com tanta minúcia, fazendo com que cada um participe da história, através dos olhos do autor, acrescentando as cores, sensações e odores que a imaginação de cada um percebe... Por aqui, o cheiro de café está impregnado na leitura. Parabéns pelo texto! Beijos de luz em seu coração!!!
Oi Jeferson!
ResponderExcluirObrigada pelo comentário. Você será sempre bem vindo ao "na ponta da língua."
Conferi o seu blog e adorei seus textos. A partir de hoje, sou uma de suas seguidoras.
Um abraço
Tânia
Parabéns pelo blog, adorei.
ResponderExcluirSeus textos são ótimos...
Maravilhoso saber que tem pessoas dinâmicas e tocadas pelas mãos do Criador. Seu Blog é D + amigo! A partir de hoje, sou sua fã e tenha certeza, visitarei muitas e muitas vezes. Até breve!
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