Pular para o conteúdo principal

O Diário de Bronson (03 - A Abstinência Alimentar de Bronson)

À tarde que seguiu àquele difícil almoço foi um período cruel para Bronson. Fazia muito calor e Bronson tinha muitos lugares para ir, e no sobe e desce do carro nem sempre havia sombra para estacionar; o que piorava a sensação térmica. O calor, a “fome”... Bronson sentiu a terrível vertigem da “abstinência alimentar”. Sentiu-se fraco. Oras, mas como estaria fraco se não passara duas horas que havia almoçado?
Lembrou das vozes das velhas da família a dizerem: “coma menino, ou então vai ficar fraco, acabará com mal de simioto, com cara de macaco, menino”. “Maldito Mal de Simioto!” Pensou Bronson. E continuou pensando: “Que estupidez! Chamar desnutrição profunda de Mal de Simioto. Dissimulação para deixar moleque gordo, isso sim. No século passado tudo que era gordo era sadio; ainda que o sujeito estivesse enfartando, sofrendo um derrame, ou cego por diabetes, diziam-no forte como um touro. Tanto que chamavam de forte por sinônimo de gordo. Maldito século passado!”
Bronson pensava, remoia as suas mágoas, e sentia-se fraco. Isso não mudava. Estava alimentado. Comia regularmente e o suficiente para aguardar o reabastecimento que não tardava, porém era como se sentir fome fosse um suplício para ele, uma tortura. Quer saber? Bronson não tinha paciência para aturar dez minutos de fome que fosse. Havia muito que nem se lembrava como era essa tal fome, vivia saciado, quando não, empachado.
Conseguiu terminar à tarde de trabalho a enorme custo. Não pensava em outra coisa que não fosse a tal fome, ou as tais comidas. Comeu as bolachas e riu ironicamente ao amassar o pequeno envelope plástico que as continha. Lembrou-se dos astronautas a alimentarem-se de cápsulas. Admirou os astronautas.
Finalmente Bronson chegou a sua casa. Frida havia preparado sopa de caldo de feijão. Uma deliciosa sopa. Bronson tomou um prato acompanhado por meio pão fatiado e polvilhou uma colher das de sopa de queijo ralado por cima. Dez minutos depois. Eu disse; dez minutos depois, e nada mais; Bronson já estava novamente faminto. Temeu àquela noite.
Adiantou o horário da ceia em uma hora e meia e apressou-se em deitar-se. Foi um rolar sem fim na cama. Quando viu que já passava da meia noite criou uma nova regra: “meia noite com fome e acordado, uma taça pequena de leite e uma fruta (maçã), para poder dormir”.
Foi isso que deu o mínimo de paz a Bronson. Finalmente adormeceu; e quando achou que dormir bastasse, eis que lhe vem um sonho para atormentar, ou sei lá.

Comentários

  1. O diario...
    Quero continuar lendo.
    Gostei daqui e da sensibilidade do Bronson.
    bjos no coração e um lindo domingo

    ResponderExcluir
  2. cara, coitado do Bronson... hahaha
    passar fome é terrivel...

    espero que ele consiga 'vencer'!

    ResponderExcluir
  3. Olha eu aqui de novo!!!
    Hum, essa história está me lembrando aqueles desenhos do pica-pau, quando ele e algum companheiro, famintos, olhavam um pro outro e viam uma enorme e suculenta ave assada. rsrsrsrs
    Jefh, você vai conseguir com que pessoas, resolvam fazer dieta para serem solidárias ao pobre Bronson. Eu, por exemplo, estou estimulada a não desistir da minha.
    Um grande abraço, amigo.
    Bel

    ResponderExcluir
  4. É Jefh to ficando com pena do Bronson kkkkkkkk.

    ResponderExcluir
  5. Jefh. Estou passando aqui para retribuir sua visita ao Arca e conhecer o seu espaço. Esta história lembrou-me me tempo de infância em Minas Gerais, onde realmente gordo era sinônimo de saúde e beleza. Quantas pessas hoje sofrem consequências dos Biotônicos ingeridos na infância... E a fome continua. Parabéns pelo texto. Foi um prazer conhecê-lo. Grande abraço.

    ResponderExcluir
  6. Oieeee
    Primeiramente gostaria de agradecer a visitinha e ao comenteis que você deixou em meu bloguinhu...

    Bom ameiiii o seu blog, comecei a ler e não consigo mais parar muito bom parabéns... você escreve muito bem...

    Bjos lindo Domingo pra ti...

    ResponderExcluir
  7. Olá Jeferson.
    Obrigada por visitar meu humilde blog.
    Muito bom seu texto....acho que todos nós leitores temos que incentivar o Bronson a continuar sua dieta.(Pois ser gordinho não é sinal de saúde....pobre das articulações, ai ai, pobre do coração.)
    Não sei em que lugar de São Paulo ele mora, mas o verão de Sampa é muito agradável comparado a muitos outros lugares do Brasil, falo por experiência própria, pois morei alguns anos em São Paulo, e voltar a morar no sul, foi bom apenas no inverno, no verão isto aqui é o inferno.

    ResponderExcluir
  8. “meia noite com fome e acordado, uma taça pequena de leite e uma fruta (maçã) para poder dormir” regras amor te seguindo akie beijos

    ResponderExcluir
  9. Sandra, obrigado por vir! Que bom que gostou! Fique aqui. É uma alegria lhe receber! Abraço!

    Zé, a luta do Bronson é a cada dia, e está apenas começando, mas ele há de vencer! Abraço e muito obrigado por vir!

    Bel, é no bailado do prato de feijão de corda que perdemos o juízo. Fique com o Bronson e não descuide (sorrio). Abraço e muito obrigado por vir.
    Quando é que vai atualizar para gente os seus dois blogs, principalmente o Senhora Persona?

    Eliane, pobre Bronson! Ai dele! (sorrio) Abraço!

    Maria José, maldito seja os biotônicos da infância! (rindo muito). Abraço e fique à vontade, esta casa também é sua. Abraço!

    Vanessa, obrigado! É uma alegria saber que alguém curtiu ler-me. Forte abraço e um domingo ótimo para você também!

    Dóris que sofre com o frio do Sul, o Bronson deve ser de um desses cantos do interior de São Paulo onde o sol racha mamona no asfalto. Abraço e sou eu quem lhe agradece!

    Pois seja muito bem vinda Natália! Abraço!

    ResponderExcluir
  10. Bem..aventura essa do Bronson..
    custa mesmo emagrecer, sacrificio e mt fome, mas chega uma hora que se acostuma.

    Bjus

    ResponderExcluir
  11. gente ... coitado deste Bronson ... o que fazer? eu se fosse ele já tinha dado uma banana para este regime ... ou melhor ... para o meu estômago sofredor ... hihihi ...

    bjux

    ;-)

    ResponderExcluir
  12. Vim te agradecer a visita e aproveitar para apreciar o seu blog.Gostei muito dele.
    Eu li o seu texto,q garoto faminto!!!
    Ele já deveria saber q comemos para viver e ñ vivemos para comer rsrsrsr.
    Um beijo grande.
    Estou te seguindo.

    ResponderExcluir
  13. Jefh:
    Me sinto o próprio Bronson -vivo brigando com o peso ( e o alimento) - é Ivan X gula - GRATO PELA VISITA . Espero que fiques no meu Blog também como seguidor,para que possamos interagir. abraço !

    ResponderExcluir
  14. Gostei de seus textos.

    Você é Fisioterapeuta? Muito bonita a sua profissão. Lidar com seres humanos e com o seu trabalho melhorar a qualidade de vida de muitas pessoas. Bom demais.
    Um abraço.Boa semana.

    ResponderExcluir
  15. AP, acostumamo-nos com tudo nessa vida. É isso que penso (sorrio). Abraço e obrigado por vir!

    Paulo, às favas com o regime do Bronson! (rindo, cara). Abraço e obrigado!

    Pérola, é isso! O Bronson precisa ouvir isto: “coma para viver e não viva para comer”.
    Abraço e muito obrigado por vir e ficar!

    Agradeço e aceito o convite, Ivan. Quanto ao Bronson, creio que há um Bronson dentro de cada um de nós. Está tudo em nossas mãos. Abraço e muito obrigado, amigo!

    Odele, eu sou fisioterapeuta sim. E acho que tenho uma linda profissão. Obrigado por vir e comentar! Espero que volte muitas vezes mais. Abraço!

    Tainã, do Bronson? (sorrio). Forte abraço e muito obrigado por vir. Até!

    ResponderExcluir
  16. To acompanhando rs.
    O mocinho gosta mesmo de comer rs.
    Uma linda noite e um beijo grande.
    Provavelmente eu perca alguma parte, na semana entro pouco na net.
    Mas eu volto com mmais calma e recupero a parte q eu perdi.
    Uma exelente semana.
    beijos

    ResponderExcluir
  17. Pérola, o Bronson realmente precisa mudar sua cabeça. Pensa como sobrepeso.
    Obrigado por acompanhar-me, fico muito honrado! Forte abraço e uma ótima semana para você!

    ResponderExcluir
  18. Aqui eu cheguei rs.
    Embora eu já tenha entendido o fio da meada rs.
    Mas ainda quero saber o q aconteceu com a goiabeira.Eu mereço saber rs.
    Olha eu lá comentando rs.
    Vamos ao sofrimento angustiante do senhor rs.
    beijokas.

    ResponderExcluir
  19. Falei da goiabeira na goiabeira. Bem debaixo de sua copa. Você foi lá? Você viu?
    Aceita uma goiaba? (sorrio).
    Abraço!

    ResponderExcluir
  20. Obrigada pela visita ao meu blogs, e adorei o seu "presente" e os parcos leitos acredito vão adorar a sua poesia como eu adorei. Sempre vou passar por aqui, e dar uma namoradinha no seu blog. beijo e mais uma vez obrigada. Beijo. Edna.

    ResponderExcluir
  21. Muito bom o seu blog... Você escreve muito bem... Parabéns quero acompanhar a história do Sr. Bronson... Também estou na luta para alcançar minha R.A e acho que sinto as mesmas inquietações do Sr. Bronson... Boa Semana!!!

    ResponderExcluir
  22. A escrita, a meu ver, deve permear a vida e o dia a dia de todo ser humano, pois somente ela leva conhecimento e eleva a imaginação, fundamental a sobrevivência de nossa espécie. Por isso, escreva, mas escreva sempre. Parabéns. EMS.

    ResponderExcluir
  23. Edna, obrigado por vir e me agraciar com tão agradável comentário! Abraço!

    Luális Rosa, obrigado por sua atenção e esteja à vontade pra mirar o exemplo do bom Bronson. (sorrio). Abraço!

    Edson VetHorseman, concordo com o que disse e agradeço pelo incentivo, amigo. Abraço!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Comente. É isso que o autor espera de você, leitor.

Postagens mais visitadas deste blog

Cartas a Tás (20 de 60)

Ituverava, 30 de junho de 2009 Aqui estamos, Tás. Eu e essa simpatia que é Lucília Junqueira de Almeida Prado, autora de mais de 65 livros publicados, capaz de recitar poemas de sua autoria compostos com cantigas de roça, bem como poemas de Cora Coralina, feito uma menina sobre o palco. Estive novamente na feira do livro, engoli meu orgulho de vez e abracei a causa. Fui lá não para vingar-me, com críticas sobre o fabuloso evento, nutridas por minha derrota no prêmio Cora Coralina, mas sim, para divulgar a campanha Cartas a Tás, que agora ganhou um slogan; “Restitua a cidadania do menino encardido que ficou famoso e apátrida”. Tás, você é de Ituverava e Ituverava é sua, irmão. Espero que aprove, meu mestre, pois para servir nesta batalha tive que ser um bom perdedor. E não é bom perder, isso aprendemos nos primeiros anos de existência, acho até que já nascemos com este instinto, pois quando uma criança toma por força algum objeto que por ventura esteja em nossa posse, qual menino não se

O Verbo Blogar

O Blog, á nossa maneira, á maneira do blogueiro amador, blogueiro por amor, não dá dinheiro; mas dá prazer. Isso sim. Quando bem trabalhado dá muito prazer. Quando elaboramos uma postagem nos percorre os sentidos uma onda de alegria. Somos tomados por uma euforia pueril. Tornamo-nos escritores ou escritoras que “parem” seus filhos; tornamo-nos editores; ou produtores; ou mesmo jornalistas, ainda que não o sejamos; tornamo-nos poetas e poetisas; contistas e cronistas; romancistas; críticos até. Queremos compartilhar o quanto antes aquilo que criamos. Criar é uma parte deliciosa do “blogar”; e blogar é a expressão máxima da democratização literária – e os profissionais que não façam caretas, pois, se somarmos todos os leitores de blog que há por aí divididos fraternalmente entre os milhões de blogs espalhados pelo grande mundo virtual, teremos mais leitores que Dan Brown e muitos clássicos adormecidos sob muitos quilos de poeira. Postar é tudo de bom! Quando recebemos comentários o praze

O Cavaleiro Da Triste Figura

Há algum tempo que conheci um descendente do Cavaleiro da Triste Figura. Certamente que era da família dos Quesada ou Quijada; sem dúvida que o era; se rijo de compleição, naquele momento, como fora seu ancestral, eu duvido; porém, certo que era seco de carnes, enxuto de rosto e triste; e como era triste a figura daquele cavaleiro que conhecí! Parecia imensamente distante dos dias de andanças, de aventuras e de bravuras; se é que algum dia honrou a tradição do legado do tio da Mancha. Assemelhava-se a perfeita imagem que se possa configurar do fim. O homem contava mais de 80 anos por aquela ocasião. Era um tipo longilíneo, de braços, pernas e tórax compridos, tal qual me pareceu e ficou gravada das gravuras a figura do Cavaleiro da Triste Figura. Seu rosto longo, de tão retas e verticais as linhas, parecia ter sido esculpido em madeira, entalhado. Um nariz longo descendo do meio de uns olhos pequenos postos sob umas sobrancelhas caídas e ralas, dando aí o ar de grande tristeza que me c