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Cartas a Tás (21 de 60)


Ituverava, 01 de julho de 2009


Marina Colassanti é uma formidável escritora, e ouviu com muita paciência as minhas lamentações.
Faço um esforço Hercúleo em prol do amigo: Percorro corredores, encontro pessoas, distribuo panfletos, ignoro a indiferença e frieza com que o amigo trata minhas cartas, minha campanha, meu ser. A verdade é que não abandono este mau hábito de fazer o bem sem olhar a quem, tudo no intuito de restituir a identidade natal ao meu amigo e conterrâneo, Tás. As pessoas acham louvável, conto como iniciei tudo, digo sobre as cartas e o motivo de estar empenhado neste nobre propósito, afinal, trata-se de um ícone da comunicação brasileira, merecedor indubitável de uma esplendorosa homenagem. Outrora, amigo, corria descalço na ladeira do largo velho, a fim de fugir ao flagrante por roubo de alguma fruta de época, ou mesmo ocultar as moedas surrupiadas da igreja dos afro-descendentes. Aquele garoto que encantava a todos com suas travessuras, tornou-se um cidadão do mundo e acabou desligando-se de seu terrão vermelho natal. Mas tudo bem. Vamos avante devagar e sempre...
Nos corredores da Nona Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto fui ouvido com muita atenção pela extraordinária escritora Marina Colassanti. A mulher é detentora de nada menos que três prêmios Jabuti (1993 com “Entre a Espada e a Rosa”; 1994 por “Ana Z, Aonde Vai Você” e, no mesmo ano outro Jabuti por “Rota de Colisão”). Alem destes, Marina recebeu o prêmio Norma Fundalectura, se você não sabe, é este um dos mais importantes da América Latina.
Amigo, apesar dela nunca ter ouvido falar de você, ela me incentivou a continuar neste projeto, disse devemos investir no que acreditamos. Foi muito animador ouvir isto da parte dela.

Comentários

  1. Meu Deus! Você pertinho assim da Marina Colassanti!
    Dá até inveja sabia? Ela é uma escritora maravilhosa e eu sou fã dela. Deu vontade de dar um gritinho de tietagem aqui só de ver. Apooooosto que você não deu...

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