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Cartas a Tás (8 de 60)




Ituverava, 07 de junho de 2009



É com grande pesar que me vejo compelido a concordar com as suspeitas da moça que o tenha chamado arrogante para com os seguidores, “mestre Tas”. Realmente noto que a simplicidade anda longe de sua rotina. Colocou esse post em Inglês, afinal, queres provar o que? Que o país dos analfabetos é também o país dos que falam apenas em uma língua? Não entendi mais que algumas bulhufas, do que o carinha feio dizia pelas ruas da bela NY. Ao terminar de assistir o vídeo senti um nó na garganta, lembrei-me de como éramos parecidos na infância, todos perguntavam se éramos irmãos aonde íamos, e ao negarmos, brincavam que alguém devia ter pulado cerca nas famílias. Lembra?
Sete cartas primorosas, e o que recebo como resposta? Uma linha, uma mísera linha. Preferes deveras responder aos que lhe agridem, lhe ameaçam, lhe fazem fofocas do Pará, do que dar atenção a um irmão de leite. Confesso que tenho dificuldades para redigir esta oitava carta, pois meus olhos inundados me turvam a visão agora.
Era um jovem humilde quando partiu para a capital. Foste fugido, pois achava ter matado o Neném Galinha com uma “estilingada” na testa. E se não o matou de fato, verdade é que, seu ato resvalou a tragédia de um homicídio, pois o pobre rapaz ficou muitos dias sem reconhecer pessoa, dia da semana, ou até mesmo dinheiro em cédula; ficou, por assim dizer, por muitos meses: “fora de área”. Graças a Deus ter sido apenas um susto! Está inocente do incidente, amigo. Mas lembra como era humilde ao fugir para a capital com a idéia de arranjar por lá um diploma de Dotô? Naquele tempo lhe conhecíamos Tas! Não faria descaso de nós: Não, não o faria.

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