O Velho Espírito Natalino
Vovô hoje vive um novo momento.
Começou com um problema, que trouxe uma vida nova.
Mas nele, sem dúvida alguma, ainda vive um sonho antigo...
"Olha só quem vem vindo!
Ora se não é o bom e velho espírito natalino!
Ele está mesmo velhinho,cansado, mas bem vivo.
Lembro-me dele chegando quando eu era ainda menino; esperava presente, mas me alegrava qualquer presentinho.
Eu sonhava com o grande dia. No comércio, meus olhos colavam na vitrine e refletia aquelas maravilhas, todo aquele brilho...
Juro que em sonho brinquei com cada um daqueles brinquedinhos.
O tempo passou. Cresci e me tornei rapazinho. Trabalhando, dava e recebia presentinhos.
Já compreendia até a mensagem mais importante, a do nascimento do Deus Menino.
E alegrava-me muito ver as ruas enfeitadas.
Haviam tantos eventos com o tema natalino!
Canções comoventes, tudo mágico e festivo; havia sempre um papai Noel gordinho; mas na falta destes mais nutridos, eles se tornaram bem magrinhos. Mas eram personificações dele, disso nunca duvidei.
Mias alguns Natais, casei-me e tive abençoados filhos. Sempre havia festa em minha casa.
Todos esperávamos ansiosos parentes e amigos de longe vindos. Um bom cheiro de comida perfumava toda a casa; coisa muito melhor que almoço de domingo; vinha um, vinham tantos, há quanto tempo eu não lhes via!!! Muitas vezes a casa se enchia que mal cabia tanta alegria.
O tempo continuou passando e tudo mudando.
Dividi com outras famílias os meus queridos filhos; estes me deram até netinhos; lindos espertos e ligeiros netinhos.
Meus passos é que foram ficando cada vez mais inseguros e lentos nos caminhos.
Num belo dia, de forma repentina, ocorreu-me um descompasso, um desatino: uma doença me transformou novamente em menino. E só não fui parar num berço por não caber, creio. Voltei a usar fraldas, enormes fraldas. E se eu perdia o sono, ninguém vinha me dar colo. Passei a ser um bebê com mais de sessenta, setenta, enfim, com muitos quilos e um corpo encurvado e flácido, frágil.
Aquela comida que esperava para provar à meia-noite da véspera do dia natalino não era mais por boca que vinha, vinha por uma borrachinha enfiada em meu longo nariz aquilino. Assim meu paladar tornou-se esquecido.
E desde já ninguém espere de mim gracinhas, palavras ou passinhos, sou um bebê nas necessidades, mas na idade sou um velho. Não reclamo, pois sei que esta é uma face comum do destino. Ainda há muito pra ser feliz.
Neste dezembro, em especial, mal posso esperar pelo grande dia. Muitos virão aqui, pois se lembram deste velho amigo. Abraçarão a mim e aos meus queridos que estarão comigo. Minha casa esta enfeitada, tem uma guirlanda, tem umas bolinhas...
Estava tomando o sol na varanda e vi pela porta do corredor; vi passarem adultos e meninos!
Meus olhos vêem tudo, eu não digo, mas por dentro estou sorrindo; apesar dos pesares, o amor nunca me tem faltado. Não tenho posses, mas, de certa forma, sou um homem rico: recebo tesouros em forma de carinho; agradeço a todos por cada sorriso. Agradeço aos que me inspiraram e aos que me retribuíram em algum momento da vida.
Agradeço a Deus por estes maravilhosos cuidadores, por cada visitantes e pelos colegas de asilo. E, claro, pelo infalível espírito natalino".
Aos enfermos que estão vivendo a luta pela vida em um leito e aos seus cuidadores em todas instâncias dentro e fora da esfera familiar: meu feliz Natal!
Por Jéferson Cardoso de Matos: Fisioterapeuta.
( foto de Wellington Galego)
Vovô hoje vive um novo momento.
Começou com um problema, que trouxe uma vida nova.
Mas nele, sem dúvida alguma, ainda vive um sonho antigo...
"Olha só quem vem vindo!
Ora se não é o bom e velho espírito natalino!
Ele está mesmo velhinho,cansado, mas bem vivo.
Lembro-me dele chegando quando eu era ainda menino; esperava presente, mas me alegrava qualquer presentinho.
Eu sonhava com o grande dia. No comércio, meus olhos colavam na vitrine e refletia aquelas maravilhas, todo aquele brilho...
Juro que em sonho brinquei com cada um daqueles brinquedinhos.
O tempo passou. Cresci e me tornei rapazinho. Trabalhando, dava e recebia presentinhos.
Já compreendia até a mensagem mais importante, a do nascimento do Deus Menino.
E alegrava-me muito ver as ruas enfeitadas.
Haviam tantos eventos com o tema natalino!
Canções comoventes, tudo mágico e festivo; havia sempre um papai Noel gordinho; mas na falta destes mais nutridos, eles se tornaram bem magrinhos. Mas eram personificações dele, disso nunca duvidei.
Mias alguns Natais, casei-me e tive abençoados filhos. Sempre havia festa em minha casa.
Todos esperávamos ansiosos parentes e amigos de longe vindos. Um bom cheiro de comida perfumava toda a casa; coisa muito melhor que almoço de domingo; vinha um, vinham tantos, há quanto tempo eu não lhes via!!! Muitas vezes a casa se enchia que mal cabia tanta alegria.
O tempo continuou passando e tudo mudando.
Dividi com outras famílias os meus queridos filhos; estes me deram até netinhos; lindos espertos e ligeiros netinhos.
Meus passos é que foram ficando cada vez mais inseguros e lentos nos caminhos.
Num belo dia, de forma repentina, ocorreu-me um descompasso, um desatino: uma doença me transformou novamente em menino. E só não fui parar num berço por não caber, creio. Voltei a usar fraldas, enormes fraldas. E se eu perdia o sono, ninguém vinha me dar colo. Passei a ser um bebê com mais de sessenta, setenta, enfim, com muitos quilos e um corpo encurvado e flácido, frágil.
Aquela comida que esperava para provar à meia-noite da véspera do dia natalino não era mais por boca que vinha, vinha por uma borrachinha enfiada em meu longo nariz aquilino. Assim meu paladar tornou-se esquecido.
E desde já ninguém espere de mim gracinhas, palavras ou passinhos, sou um bebê nas necessidades, mas na idade sou um velho. Não reclamo, pois sei que esta é uma face comum do destino. Ainda há muito pra ser feliz.
Neste dezembro, em especial, mal posso esperar pelo grande dia. Muitos virão aqui, pois se lembram deste velho amigo. Abraçarão a mim e aos meus queridos que estarão comigo. Minha casa esta enfeitada, tem uma guirlanda, tem umas bolinhas...
Estava tomando o sol na varanda e vi pela porta do corredor; vi passarem adultos e meninos!
Meus olhos vêem tudo, eu não digo, mas por dentro estou sorrindo; apesar dos pesares, o amor nunca me tem faltado. Não tenho posses, mas, de certa forma, sou um homem rico: recebo tesouros em forma de carinho; agradeço a todos por cada sorriso. Agradeço aos que me inspiraram e aos que me retribuíram em algum momento da vida.
Agradeço a Deus por estes maravilhosos cuidadores, por cada visitantes e pelos colegas de asilo. E, claro, pelo infalível espírito natalino".
Aos enfermos que estão vivendo a luta pela vida em um leito e aos seus cuidadores em todas instâncias dentro e fora da esfera familiar: meu feliz Natal!
Por Jéferson Cardoso de Matos: Fisioterapeuta.
( foto de Wellington Galego)
Vlw, Jéferson, um grd abraço! O texto é mto 10, até mais!
ResponderExcluirAtt,
Wellington Galego
Obrigado, Wellington!
ResponderExcluirJefh...fiquei emocionada!Um texto extremamente lírico,intimista, nos moldes de Manuel Bandeira.
ResponderExcluirMuito bom que vc não tenha guardado só para vc seu talento para a escrita.
Obrigada pelo seu comentário em meu post de Natal,período que me deixa muito feliz , mas com uma brutal nostalgia.
bjs.
“Nos moldes de Manuel Bandeira”; Uhm...! Vou guardar estas palavras aqui, no meu coração; generosidade sua, gratidão minha (sorrio).
ResponderExcluirO Natal é o ponto alto de meu ano, e a cada Natal encontro mais um grande convite à nostalgia, por isso lhe compreendo bem.
Abraço: Jefhcardoso.
Vi seu post agora que o trouxe novamente para o seu blog! e fez muito bem.. está lindo!!! me fez lembrar do outro poema que publicou " Do pó ao pó".
ResponderExcluirBj
wwwwinkle.blogspot.com
Muito obrigado, Winkle! Muita gentileza sua vir e comentar. Fico honrado.
ResponderExcluirAbraço: Jefhcardoso.
Diante dessas palavras se tira a conclusão de que a felicidade pode a qualquer hora chegar até você! No entanto não deixe ela passar despercebida!!!
ResponderExcluirMeu lindo amigo, que O Mestre Jesus abençoe tua vida! Que linda mensagem, reflexão de uma vida... Lembrei alguns Natais, neste meio século de vida aqui neste Planeta...Recordei seres queridos, presentes e ausentes (fisicamente)... Lembrei o rostinho da minha filha, nenê, adolescente, adulta...mas sempre amada...Agradeci ao Senhor da Vida por tudo que me deu, nesta e em todas as existências vividas...Obrigada amigo por fazer parte da minha vida! Abraçãoooo...
ResponderExcluirEstou admirada com sua escrita a muito não vejo algo parecido, enquanto lia meus pensamentos voltaram ao tempo, quando crianças, lembrei-me dos meus avos, bissos, familiares, que passaram pela mesma situação e hoje se encontram junto ao Pai maior.
ResponderExcluirIsso que é gostoso viajar sem sair do lugar, isso sim vale apenar ler, porque preenche algo que está adormecido ou que falta.
Bem se deixar fico aqui escrevendo..escrevendo infinitamente, mas uma vez, Parabéns pela sua linda escrita. Li vários textos e voltarei sempre pra dar aquela olhadinha e fique certo se vc conquistou minha atenção conseguiu mais uma leitora, seja sempre assim verdadeiro e sensível, que Deus te ilumine infinitamente, pq usamos as palavras para o bem.
Beijos, Alice Loures
Cantinho da Alice - http://cantinhodalicelou.blogspot.com.br