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Mostrando postagens de janeiro, 2010

Sala De Espera

Uma acanhada sala de espera; um jogo de sofá de duas partes e duas poltronas, uma pequena mesa de centro, um televisor de quatorze polegadas, um ventilador giratório fixado na parede do fundo do vestíbulo e uma porta lateral corrediça de vidro, que dava para uma pequena varanda destinada aos fumantes. Todos os dias, próximo às dezessete horas, o homem que era médico vinha e noticiava sobre a saúde dos enfermos para os familiares que aguardavam apreensivos no início e esgotados com o passar dos dias, caso não viesse uma centeia de esperança. Uma família tinha seu patriarca em estado gravíssimo, sob os cuidados da terapia intensiva; a outra família tinha a sua matriarca em situação não menos crítica. As famílias se conheceram por obra do acaso, força do destino; ao longo da convalescência de seus entes foram apresentados uns aos outros. Os entes de cada família, ao serem chamados na presença do médico, se despediam dos colegas de espera e partiam de encontro às últimas notícias sobre o e

Mar... ... ... ... ... ... ...

Quando vi pela primeira vez o mar... Ali pelos 11 anos de idade... Ali como um menino interiorano ossudo de tão magro... Ali pelas bandas do Litoral Sul de São Paulo... Ali com meus pais a bordo de um Maverick amarelo com largas faixas pretas de cada lado... Quando vi pela primeira vez o mar... Tudo que eu cria sofreu um imenso abalo... Tudo que eu entendia me pareceu parco... Tudo que eu era foi pouco... Tudo que eu conhecia mudou para nunca mais... Quando vi pela primeira vez o mar... Percebi que o horizonte não era só verdura a verdejar... Percebi que não havia apenas terra vermelha para se pisar... Percebi que nem tudo era água doce a cortar as terras varicosas do meu lugar... Percebi que as águas salgadas abundavam deveras, deveras, deveras... Quando vi pela primeira vez o mar... Tive vontade até de chorar... Tive medo misturado com veneração imediata... Tive o coração disparado no peito a galopar... Tive estupefação e um respeito temeroso, medroso sem par... Quando vi pela primei

Meu Trigésimo Sexto Ato

Hoje concentro trinta e seis anos de vida em minha pessoa. Não me sinto senil como hei de ser, Tampouco jovem como fui; Sinto-me ao sabor do momento. Sou dono de tudo que vi, vivi e penso Acordei Deus, como é bom acordar! O ponto de vista do observador É onde estou E na posição de observado eu fico Uma vez lançado ao mundo La de dentro Vou sob o efeito do sol e da lua. Dia especial. Um dia sem igual! O tempo a passar Que muito mais tempo passe para eu olhar Cresci. Eu venci. Trinta e seis vezes eu nasci! Agora me dê os parabéns. Dê-me cá um forte abraço. Hoje é meu aniversário. Grato! Obrigado! Muito obrigado! Ouça com atenção eu falar da Legião (Urbana) Sirva-me no almoço o macarrão que tanto gosto No jantar bolo de ameixa Deixe-me ser; Simples como sou Hoje isso é tudo que eu quero: Ser Não venha me criticar, Não cabe. Não estou para as críticas Não venha me corrigir; Deixe-me Deixe-me ser perfeito perfeitamente como sou Deixe-me amar mais que o amor Permita que eu sinta saudade de t

Vôo do Pensamento

Poema para falar, Expressar, Manifestar: Santa linguagem poética que nos permite dizer sem explicar! E que seja poema a minar da alma; Alma empreendida no versar; Poesia que nos visita e nos faz isso ou aquilo, Poetas ou poemas. Pessoas comuns a falar do sentimento, A colocar sentido no vivido, Vida no sentido. E que voe livre o verbo escrito, Ainda que a mão a pena seja dum cativo, Pois como pássaro no vôo pensamento é livre.

A Psidium Guajava Mágica

Psidium guajava, segundo a enciclopédia livre, é uma pequena árvore frutífera tropical, nativa de toda a América, exceto Canadá, e da África do Sul. A psidium guajava que brotou no corredor lateral ao corpo de minha casa, ao lado do meu quarto, era uma raríssima espécie mágica. Quando brotou foi ignorada até atingir uma altura de uns vinte e cinco centímetros, creio. Não sou zeloso com o quintal. Sou mais um tipo que vez ou outra sai arrumando e ajeitando e no final acha lindo o resultado do esforço e jura em falso tornar esta ação mais freqüente, menos espaçada, mas logo este ímpeto passa e cede lugar a prioridades. Foi numa dessas raras ocasiões que me deparei com a tal árvore mágica; confesso que por ela não dei absolutamente nada; lembro-me de ter comentado com minha esposa: _Brotou uma árvore ao lado do nosso quarto, creio ser uma psidium guajava. Ela não se empolgou, agiu mecanicamente com aquela empolgação pronta, artificial: _Que legal! Ela disse. E completou: _Vai deixá-la cre

FÉRIAS QUE TE QUERO FÉRIAS

Sadraque Sadraque Férias de araque Truque de Mandrake, Mendigo de fraque. Sadraque.
A revolução que te criou, Fez-me robô, Produzo, corro, durmo pouco Descanso remunerado. Pô! Sadraque.
Cheque magro, Pacote mal embrulhado, Fraco. Porém grato. Obrigado!
Truque de Mandrake Ilusionismo barato Fruta de cera Flor de plástico Juízo, empregado!
Dinheiro curto Distância longa, Cheio, abarrotado e caro. Muito caro. Tudo muito caro!
Ilhas caribenhas? Que nada Junto à turba no tumulto desenfreado; Preso e abafado no engarrafado Nem Praia Grande, Itanhaém ou Mongaguá.
Férias de araque; Mendigo de fraque. Sadraque! Sadraque... Apoquentado? Não. Cansado.

CANTARES (JEFHCARDOSO)

Dizer-me há: é preciso mais alma. Responder-te-ei: está toda empenhada Dizer-me há: é preciso mais sonho Responder-te-ei: já não mais acordo. Dizer-me há: é preciso sensibilidade Responder-te-ei: estou despido de toda minha pele Dizer-me há: é preciso mais vida Responder-te-ei: tens a única que possuo Dizer-me há: é preciso verdade Responder-te-ei: estou liberto de tudo. Dizer-me há: é preciso acalmar a sanha Responder-te-ei: nas chamas me consumo Dizer-me há: é preciso que recue Responder-te-ei: já me lancei ao profundo Dizer-me há: é preciso tesouros Responder-te-ei: tens o meu mundo Dizer-me há: é preciso mais fome Responder-te-ei: devoro-te,... crua.

ALGO PESSOAL

Hoje me deu uma vontade de ouvir Creeping Deth do Metallica... Vai entender! Não tinha nada haver. Acordei tarde depois de uma deliciosa noite. Tomei um ótimo café e a preguiça... maldita preguiça dominical! não queria se apartar de mim. Peguei umas coisas para fazer, talvez por um propósito inconsciente de espantar a preguiça para não ver o domingo esvair-se sem nenhum proveito além do descanso. Fiz coisas que aguardavam há tempos, aquelas coisas que quando iniciamos vão puxando outras: podei uma figueira, juntei umas pedras britadas com a pá, tirei o mato que encontrou frestas nas fendas do cimento rústico, organizei o cantinho do Melquiades e da Amaranta (quer saber quem são Melquiades e Amaranta? leia minha postagem do dia 18.07.09 “Cartas a Tás Melquíades e Amaranta), limpei a piscininha das crianças, varri um pouco, me expus ao sol; envolvi-me. Fiz todas essas tarefas com o som ligado e bem audível. Ouvia entre outras coisas MPB (gosto muito de MPB; das novas e das antigas). Mas

Jefhcardoso de blog em blog>> (09.01.2010)

Normalmente quando se entra em um blog e clica em algum de seus seguidores, se este também tiver blog, as características editoriais deste blog serão semelhantes ao do blog seguido. Assim, clicando nos seguidores, também se vai ao longe nas idéias. Nestas minhas andanças por este “fantástico caminho de tudo que existe” deparei-me com alguns blogs que possuem uma enorme rede de seguidores ou poucos gatos pingados e creio que revelam algumas das faces da alma feminina contemporânea. São blogs que estão bombando ou não. Blog de cosméticos: Possuem seguidores aos milhares, fazem promoções, são muito comentados, coisa e tal; enfim, agradam muita gente, conquistam muitos seguidores (as). É uma espécie de blog que cultua a vaidade, assume certa dose de futilidade "benigna" e, para espanto ou surpresa de quem não frequenta estes blogs, curte poesia (a editora do blog curte). Às vezes deixo algum comentário e vejo que as moças que mantêm estes blogs vêm e gostam muito de poesia e pros

Indizível

Fiquei Tão Triste! Queria que o aborrecimento passasse. Não gosto do estado aborrecido; Melhor seria o estado esquecido. Queria nunca ficar aborrecido! Seria mimo? Queria não ter dito aquilo, Não ter feito isso, Mas de quanto tempo precisei para estragar o dia? Alguns segundos? Um telefonema? Desvario. Errei por falta de malícia e vertigem de alegria. Pronto, foi isso. O estado do arrependido segue ao do aborrecido: Há maior castigo que o estar arrependido? Não, não há. É mais desagradável que o estar aborrecido, Pois o aborrecido é mais feliz que o arrependido; Já que o segundo trás em si a alma do primeiro E lamenta-se pela ação irreversível; Enquanto o aborrecido aguarda ocasião oportuna para sentir-se... Livre. Queria ver teu rosto limpo, Com aquele leve sorriso ao invés deste dolorido, Custoso, Tímido, Submisso, Voluntarioso. Credo! Resta-me torcer; Em favor de nós; Para que não vença o inimigo do amor: desamor. Para que não sobrevenha maior infortúnio do que estar aborrecido; Par

Meu Blog Minha Casa

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * Não venha zombar de minha casa, Tampouco dizer que é uma casa muito engraçada, Que não tem teto, Que não tem nada. É a casa de minhas idéias; Seu teto é o topo da minha rudimentar caixa craniana. E mesmo sem chão entra quem quer; Não é necessário firmamento aos de alma alada. Oras! Como pode dizer tais inverdades; Que em minha casa não se pode dormir na rede por falta de paredes? Aqui se forra a rede no ar e lança-se a sonhar; Querendo deita-se em qualquer; Mas minha casa tem sim belas paredes invisíveis, Nascem do alicerce cravado no solo virtual. Sim, admito que não haja pinico, Mas há espaço para comentários, E cada qual pode fazer à sua maneira, Tenho recebido rosas, Porém, se vier xixi ou qualquer coisa não os lançarei fora. Verdade que fora construída com muito esmero, Com isso devo concordar, Contudo a rua dos bobos é a debaixo, A nossa é a dos bufões, sábios, artistas, escritores, sonhadores e falastrões. Estas linhas foram inspiradas na ca

Jefhcardoso>> de blog em blog (05.01.2010)

Iniciamos o ano com tantas tragédias. Queria que fosse diferente, mas nunca é. Porém, não fico indiferente às dores alheias, mas trago hoje amenidades para brindarmos o jovem 2010 e para lembrarmos que se nem tudo são flores, nem tampouco catástrofes. De blog em blog faz-se uma viajem prazerosa e enriquecedora. Há blogs que são um verdadeiro deleite visual, que nos levam através de suas paginas para um mundo de encanto e magia, do qual sempre trazemos a agradável sensação de tempo bem empreendido. Assim, sem sair de diante de sua tela descobre-se que; há artistas cosmopolitas expondo seus belos e premiados trabalhos nas artes visuais neste universo chamado blogosfera e há também os artistas das palavras, do conhecimento, da vida a prestigiar os artistas consagrados, porém guardados do grande público. Eu não entendo tecnicamente de arte, não tenho pretensão quanto a isso, mas sei que a linguajem é universal e em minha simplicidade de homem comum guio-me pela sensibilidade que encontra e

Alegria, Fogos e Fatos

Ouvindo o foguetório bebeu a cachaça, atrelado ao gargalo; Por sorte ou azar deixou que o vidro despencasse de sua mão débil, debilitada. Ouviu-se o estouro oco e surdo do vidro que parte e espalha o liquido contido, feito uma massa aquosa. Viu espatifar-se em mil pedaços. Avançou num salto por sobre os cacos; Sorveu as gotas retidas nos maiores e lambeu os menores. Um fino fio de sangue, uma raja, misturou-se ao grosso cordão de baba; Não notou a sialorréia sanguinolenta a molhar as abas da camisa desabotoada. Subiu a ladeira num pranto desconsolado; Fazia dó sua lástima! Mas era algo impossível distinguir qual a maior tragédia naquela vida tão desprovida de graça: Seria mais comovente o caco de vida, ou os cacos da garrafa? Os fogos coloriam o céu nas mais diversas cores; Xingou a todos que o olhavam curiosos. Seguiu numa marcha ziguezagueada a passos que ora subiam, ora retrocediam ao acaso; Movia-se sobre uma serpenteante linha imaginária. Com o dorso do antebraço espalhou as lagri

Quem leu, recorde/Quem não leu, leia.

A ansiosa solicitude pela vida. Dois grandes amigos conversavam enquanto o mais jovem, ansioso por se tratar de sua estréia, se preparava para apresentar-se a uma imensa platéia; o mais velho, experiente senhor de cerimônias, lhe orienta: _Vá meu filho, estão todos à sua espera, e com grande euforia. Todos querem lhe conhecer, por tanto, ande, e não seja tão tímido, tem gente que há meses espera para ver a sua cara. _Sim, mas... você tem certeza que ele já foi embora pare que eu possa entrar? _Não; ele lhe espera, mas você entrando ele vai embora, vocês vão cruzar-se na porta, se verão apenas nesta hora: olhe, olhe, ele esta se aproximando, entre e vê se não enrola: vamos, como é, não vá amarelar! _Não se trata disso, é que, bateu... “tipo” um friozinho na barriga; estou ouvindo um barulho imenso, uma arruaça: o sujeito, pelo visto, fez grande sucesso! Olhe o tamanho da festa de despedida que estão fazendo para ele! _Meu Deus, como você é ingênuo! Essa festa é sua, amigo, pois a dele f