Tomei um café preto, quente e doce Peguei uns papéis rotos, manchados e amassados Fui pela rua larga, movimentada e famosa Cheguei diante do prédio grande, antigo e sombrio Senti as mãos trêmulas, inquietas e suadas Subi pela escadaria escura, longa e demorada Cheguei à sala do editor fumante, magro e carrancudo Estendi os meus poemas sujos, amarrotados e úmidos Ele leu com desdém, pressa e descaso Olhou-me de cima abaixo, reparou nos sapatos e no penteado Disse para que eu voltasse outra hora, noutro dia e noutra ocasião Perguntei se ele havia lido, compreendido e apreciado Ele não sorriu, não respondeu e não fez caso Eu pedi para que ele não gastasse mais tempo, não iludisse e enganasse Ele foi direto, categórico e insensível Falou que minha poesia era comum, mais uma e nada diferenciada Tomei meu poema mais querido, mais lido e comentado nos meios desprestigiados Li com a voz embargada, amarrada e arrastada Ele ...