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Cartas a Tás (53 de 60)



Ituverava, 11 de outubro de 2009.
A primeira referência à nossa bela morena Ituverava, aparecida em obra impressa, é a de Luiz D’Alincourt, em sua conhecida “Memória”. Disse ele: “antes de chegar-se ao Calção de Couro, pouco mais de légua, existe agora uma capela sita em terreno desafogado, com mais de quinze moradas de casa, o que não havia em 1818; chamam a este lugar simplesmente Capela”. Naquela época quem imaginaria que o celebre Tas nasceria numa daqueles humildes casebres contidos no Largo Velho?
Estas palavras do oficial português do Corpo de Engenheiros não são bastante inspiradoras, Tas? Sim, sei que são...
Diziam ainda os primeiros exploradores, ao contemplar nossa querida morena de pele rubra: “é um terreno desafogado; a linha do horizonte é muito distante para todos os quadrantes, exceto para oeste, diga-se. Não vejo nenhuma elevação digna de nota. O assoalho urbano levanta-se lento, preguiçosamente de leste para oeste, do Rio do Carmo para a estação ferroviária”. Magnífico, não?
Consta ainda dentro desta bela descrição que encontrei no livro de José Geraldo Evangelista e achei de lhe enviar para apertar ainda mais teu coração com o cerco da saudade: “O coração da cidade, no entanto, é praticamente plano. O limite sul é bem nítido, graças ao córrego Lavapés (o mesmo córrego no qual ensinamos o Tavim Borges a nadar após engolir pequenos peixes, que teriam a propriedade de conferir a capacidade de nadar aquele que os ingerisse vivos), que está abrindo um modesto vale, enquanto ao norte o córrego Calção de Couro serviria para estabelecer uma linha divisória precária”.
Aí está, meu velho. Espero que tenha alegria nestas memórias.

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