Pular para o conteúdo principal

CARTAS A TAS (45 de 60) "UM SONHO DE SABEDORIA - PARTE I de III"


Ituverava, 13 de setembro de 2009.

Tás, certa vez sonhei ser meu nome J. Homem Comum. Esse era meu nome de batismo. De algum modo eu sabia que era uma homenagem a meu pai, que teria sido um grande Comum.

Descendia eu de uma longa linhagem, talvez, se fosse levada ao início minha genealogia, encontraria como primeiro antepassado Comum um avô Adão, que fora caseiro no Sítio Paraíso.


Lá, neste sonho, estava em minha humilde rotina, quando tomei conhecimento da oportunidade de provar um gole do cálice da sabedoria.


Meu sono tornou-se agitado. Em meio ao tumulto onírico vi meu oráculo pessoal, onde lia: “Encontre as quatro frases do enigma e prove um gole do cálice da sabedoria.”.


Naquele momento, em posse das coordenadas, eu partia. Era um amanhecer. Seguia para a cidade de Ribeirão Preto. No caminho, pensava: “em caso de derrota, serei devorado como que pela esfinge?, mas se vencer, passarei pela fantástica metamorfose indo de Comum à grande sábio?; que sonho, que aventura!”


Em Ribeirão Preto, surgi diante do imponente Teatro Pedro II, ao qual jamais havia adentrado. Da porta principal, avistei um corredor que dava numa sala pouco iluminada, onde um homem de seus 45 anos, sob a luz de uma lamparina, escrevia muito compenetrado. Conforme ele movia sua pena vários decretos pairavam. Pigarreei, o homem ergueu os olhos disse-me: _Pois não, veio pelo desafio?


Com um leve aceno de cabeça respondi positivamente. Ele então concluiu: _Seja bem vindo! Meu nome é Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Bragança e Habsburgo, porém, meus amigos me chamam simplesmente de Magnânimo. E trago a primeira frase que busca para ser sábio, a qual, na verdade, instintivamente já traz consigo.


Certo que era visível meu espanto. Então ele concluiu: _Não se espante, amigo, é algo muito simples; “o homem é capaz de vencer a ignorância com iniciativa”. Apertando minha mão, o Magnânimo despediu-se: _Parabéns! Boa viagem até a Goiás da poetisa, que é para onde deve ir imediatamente.


Despediu-se num largo sorriso. Logo me vi descendo até a rodoviária e iniciei a longa viagem; nove horas até Goiânia e mais três até a histórica Goiás Velho, o que no sonho não levei mais tempo que o equivalente a uma virada de página de um bom livro para percorrer. Lá chegando...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Sr. e o Dr.

Ao ser levado à presença daquele Sr de seus maturados 84 anos, estava na verdade indo rever um bom pedaço de minha infância. Afinal, aquele homem de baixa estatura, tórax roliço e finas pernas de passarinho era figura muito frequente nas ruas mais movimentadas de minha terra, há uns 20 anos. Vestido com um jaleco branco sentava com boa postura em sua “motoquinha”, percorria toda cidade com seu jeito lépido. Mas agora ele se encontrava muitos anos à frente daqueles dias; e já não mais conservara sua autonomia para o “ir e vir” a toda parte. Pior ainda, naquele momento sofria com a recuperação de uma fratura no fêmur, ocorrida após uma queda dentro de sua própria casa. _Quão dura é a realidade do ancião que de andar dentro do próprio lar, pode quebrar-se ao chão, isso quando não se quebra de pé, sem mais nem menos, indo apenas posteriormente ao solo, ao que chamam de fratura espontânea. Mas retornemos ao nosso “continho”. Dia após dia, sessão após sessão, meu novo amigo ancião, recuperav...

É Primavera

Era uma manhã de setembro quando o velho Alincourt chegou diante do belo lago de minha cidade, estacou sobre um terreno baldio sito à margem direita, ergueu ao alto os dois braços com ambos os punhos cerrados e vibrou de modo indescritível. No punho esquerdo o velho trouxe uma porção de terra em pó, poeira formada por noventa dias de estiagem. Ao abrir aquela mão, os vigorosos ventos de setembro levaram consigo a terra, que se desprendia e esvaía pelos ares, formando uma fina nuvem de poeira vermelha a andar no ar. O céu tornara-se vermelho, assim como a própria terra do lugar. Da mesma mão desprenderam-se folhas secas. Incontáveis folhas em tonalidades marrons, beges, amarelas. Um enorme urubu, atraído por um odor propagado pelo vento, passou a oferecer uma sombra circular sobre a cabeça do velho. Após a primeira ave, vieram outras da mesma espécie. Em pouco tempo eram seis, vinte e duas, trinta e cinco, cinqüenta e uma, mais de cento e três. Os ventos anunciaram uma carcaça canina...

O Diário de Bronson (10 - O Chamado)

_Bronson, o tal Dr. Mendelson ligou para você. Disse para retornar o mais depressa possível. O que esse homem teria para falar de tão urgente? _Não sei, Frida. Na verdade nem imaginava que ele pudesse querer um dia falar comigo. _Você vai ligar? _Claro. Por que eu não ligaria? _Sei lá. É que você voltou tão pra baixo após a última consulta. _Não era uma consulta, era um aconselhamento; e isso não tem nada haver com os meus humores. _Ta bom. Esqueça. Não disse nada. ... _Alô! Dr. Mendelson? ... _Sim, Doutor. Eu posso. Já estou a caminho.... _Onde vai, Bronson? _Vou até a casa do Dr., me parece que sofreu um acidente e, fraturou a perna, precisa falar comigo. _Você agora virou enfermeiro? _Frida, por favor, não comece! _Desculpe, mas... Bronson! Bronson! Bronson havia partido ao encontro de Dr. Mendelson. Em dez minutos já estava diante da casa amarela com fachada de arquitetura mista (antiga/contemporânea). Apertou o interfone e desta vez não ouviu a fria voz de Crisostemo; ao invés des...