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Mostrando postagens de março, 2016

ARMELAU – O MESTRE TAXIDERMISTA BRANDON

Brandon, escriturário e mestre do ofício da taxidermia, um homem dotado de extrema magreza e aspecto frágil, o qual naturalmente compensava com a cara de ódio como se desse ao mundo o recado de sua real ferocidade, era todo ele uma imensa contradição entre a delgada solidez física e a subjetividade da personalidade inflada. A despeito de sua aparente fragilidade, o homem cria-se uma fera e tentava convencer todos à sua volta do quanto nada significava aquela aparência. Aos finais de semana, ocupava-se em dar trato aos bichos mortos e passear com seu poodle pelo bairro em atitude vigilante. Mantinha também na rede social um grupo no qual se compartilhava toda e qualquer presença e ou atitude suspeita nas imediações. Certa vez, quando Armelau atravessava o portão de sua morada para sair em uma caminhada, o poodle de Brandon invadiu sua garagem. Antes mesmo que o sonâmbulo voltasse o rosto para o interior da área, a fim de ver aonde ia o pequeno invasor, Brandon, sem pedir licença, inv

ARMELAU - LÁGRIMAS DE MORÉIA

Pela porta entreaberta, era possível ver Moréia. Revoltada, ela chorava sobre a sequidão de suas carnes, soluçava com os anos acumulados nas papadas de seus lábios e tremelicava comprimindo as rugas incrustadas no entorno de seus olhos. Cada vez mais seca, cada vez mais rude, cada vez mais amargurada. Bildo já não trazia alento algum às frustrações da gerente. O rapaz estava demasiadamente envolvido nos cuidados d o recém nascido Musca e em seus projetos pessoais de provar ao pai que jamais deveria ter sido qualificado como um bastardo. Corria o dia todo feito um louco atordoado. Incansável, a todos os lugares passíveis de vendas visitava abraçando mais compromissos do que seus braços eram capazes de sustentar. Deixava atrás de si um rastro de incontáveis clientes insatisfeitos. Chegavam reclamações de todas as partes á ZT3, as quais Moréia ocultava carinhosamente em sua caixinha de segredos. Era a versão mais triste possível da caixa de Pandora a caixeta de Mo

ARMELAU – A FRESTA SOMBRIA

Era uma manhã chuvosa. Os funcionários da ZT3 Paper Company chega r am de todos os lados com suas capas impermeáveis, galochas, capotes e capacetes, guarda-chuvas, cremes hidratantes de uso diário com óleo na composição. Armelau vinha de uma noite de sono intermitente e estava extremamente sonolento naquela ocasião. Sorvia um copinho de café, quando notou que o cadarço de seu sapato preto estava em desalinho , quase desamarrado. Afastou um pouco a cadeira e abaixou-se para atar o cadarço. Percebeu algum movimento vindo da parede lateral. Notou a fresta escura entre o piso e o rodapé daquela parede. Foi ali que o movimento se encerrou com a evasão de um pequeno vulto para dentro da estrutura da edificação. O funcionário então retornou aos seus trabalhos. Trinta minutos mais tarde, levantou-se da cadeira e usou toda a possibilidade de abertura da porta de seu gabinete, a fim de observar as outras duas portas à sua frente. A da esquerda, abrigava Moréia em seu tailleur azul m