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THE SMITHS, O CONTO

OS SMITHS
 

Toda aquela casa abrigava sombras em suas paredes, em seus cantos mais ocultos, debaixo dos móveis e tapetes, nas frestas das tábuas, nos rodapés, no escorrer dos peitorais e batentes, nos vãos das janelas e das portas, nos ralos, nas tomadas, nas gavetas, nas pessoas. Mais tarde, bem mais tarde, o cenário ficaria conhecido para muito além de Manchester. Algum dia alguém concluiria ser melhor demolir aquele monumento ao horror e o demoliria. Então acabaria de uma vez por todas com o abrigo de sombras e interromperia a morbidez dos curiosos.

Todos, naquela casa, sofriam com as loucuras mórbidas e omitidas. Sofriam ativamente, ou passivamente, mas ninguém estava livre das sombras frias e opressoras tomando a tudo e a todos. Ali, na época dos acontecimentos, os dias passavam sem que houvesse oportunidade para que as crianças brincassem ao ar livre e fossem simplesmente pessoas normais, felizes. Eram crianças tristes, tímidas e introspectivas. Quando não na escola, em casa, eram praticamente confinados aos seus pequenos quartos. Restava a ambas apenas os devaneios e jogos solitários como únicas formas de distração. Assim sendo, não demoraram a apresentar os primeiros sinais decorrentes da violência a qual estavam sujeitas.

Manchester das sombras era distante de tudo que fosse alegre e florido. A maioria ali só pensava em trabalhar durante a semana nas indústrias para então poder se embriagar no final de semana, feito máquinas que se lubrificam. A família Smith, aparentemente comportada em sua casa aquecida, era, na verdade, uma associação da mais horrenda desestruturação. Algo inimaginável a quem olhasse do lado de fora das tábuas. Padrasto embriagado e libidinoso, mãe sedada e frígida, filhos assustados e sem referência de um comportamento mais saudável e adequado.

Enquanto Hindley se distanciava cada vez mais do mundo, o mal se instalava pouco a pouco no coração de Brady. Ele sentia a efervescência da revolta crescer cada vez que percebia os movimentos truculentos do padrasto contra sua mãe, no quarto ao lado. A mulher nunca queria, mas sempre era usada como um pedaço de carne viva. E o homem nunca se satisfazia por completo. Sempre lhe restava energia para mais alguma visita a outro cômodo da casa após a mulher adormecer sob o efeito de álcool e fortes sedativos. O homem costumava dizer que a pequena Hindley tinha o sono agitado e que a faria dormir. Noites infelizes e intermináveis eram aquelas.

Os inexplicáveis e perturbadores ruídos abafados que vazavam do quarto da pequena Hindley angustiavam e sufocavam o confuso e atordoado Brady, que nada entendia, porém sentia-se ainda pior do que quando o padrasto estava sobre sua mãe. Ficava exausto, sem forças nem mais para tentar entender o que de fato acontecia ou odiar tudo aquilo. Encolhia-se envolto em pavor e angústia e, às vezes, chorava até o sono tomá-lo ou o dia amanhecer; qual viesse primeiro.

Quando feito dia, sentava-se à beira da cama e ali permanecia durante longos minutos a ver a escassa luz permear as entradas possíveis e salpicar a grotesca sombra, que se retraia, recuava e escondia-se quando tocada pelos fótons. Naqueles amanheceres, quando não percebia sinal de vida vindo do quarto dos adultos, torcia para que eles estivessem mortos e tudo aquilo que não entendia findasse de vez.

Era hora de sair e ir para a escola. Nem sempre Hindley conseguia levantar-se facilmente. Brady ia até sua cama e lhe empurrava no ombro avisando ser já hora de partirem. Hindley se colocava sentada e inexpressiva. O irmão tinha que ajudá-la a sair da cama e vestir-se. A menina amanhecia com os lençóis e roupas sujos por estranhas manchas. Vez ou outra havia sangue. Seria o nariz da menina que sempre sangrava quando ela demorava a dormir pelo tal sono agitado, o qual, curiosamente, apenas o padrasto percebia. De pé, ao dar os primeiros passos, o que às vezes era algo sofrível, pois a menina sentia dores nas pernas e nos quadris, Brady a apoiava até que Hindley conseguisse por si mesma sustentar-se.

A caminho da escola, em algum momento, sorriam e até brincavam. Eram oito quarteirões de reconstituição de ânimo. Nas calçadas quadriculadas, Brady ensinava a irmã a contar cada quadro pisado como um ponto. No começo, ela nunca queria participar do jogo, nada dizia. Seguia o irmão apenas andando com seus grandes olhos azuis fixos no nada e margeados por sombras remanescentes da casa. Pouco a pouco, a menina reencontrava motivos para sorrir das peripécias do irmão. Próximos à escola, ambos já caminhavam ao mesmo passo.




FANTOCHE

 
Era comum na escola Brady não conseguir prestar atenção à aula. Passava grande parte do tempo olhando fixamente pela janela ou debruçado sobre a carteira. Nos intervalos, passava o tempo observando seus colegas no pátio, enquanto aqueles estivessem distraídos. Seu conforto era quando encontrava Hindley e então lanchavam juntos.

Eram frequentes as reclamações por parte das professoras, as quais sempre diziam que Brady, apesar de inteligente, era desatento e apático, um preguiçoso. Enviavam bilhetes à mãe, os quais sempre retornavam assinados, porém nenhuma convocação de reunião era atendida pelos responsáveis.

Numa manhã, seguida por uma noite das mais angustiantes, Hindley não conseguiu levantar-se para ir à aula de modo algum. Brady, após muito insistir para que a irmã reagisse, decidiu deixá-la dormindo. Iria mesmo só. Aquela manhã na escola fora uma das mais tumultuadas de sua passagem pelo ensino fundamental. Agrediu um colega de sala, agrediu a professora de matemática, que tentou intervir, agrediu a inspetora, que veio a seguir aos berros. Terminou suspenso. A mãe, que havia trabalhado durante a noite toda no pub e tirou o dia para dormir, assinaria o comunicado da suspensão sem nem mesmo ver do que se tratava.

Com o papel na mão agitando-o ao vento, o caminho de casa parecia mais longo do que sempre para o garoto. Ao passar diante de uma casa, Brady viu um pequeno cão branco com manchas pretas que ladrava por de trás de um portão estreito e de grades. Lentamente aproximou-se do bicho. O cão fez um recuo e continuou latindo. Brady enfiou o comunicado no bolso e retirou do outro o pão com carne oferecido na merenda da escola. Ele levava aquele lanche para a irmã.

Com o pão na mão, Brady conseguiu prender a atenção do animal. Para onde ele movia o pão o cão seguia com o olhar e a cabeça, e já não mais latia. O garoto retirou um pequeno pedaço do lanche e lançou ao cachorro, que o abocanhou imediatamente.

Brady notou que o portão da casa não estava trancado de fato. Moveu o trinco e empurrou apenas o suficiente para dar passagem ao animal. Recuou um ou dois metros e lançou mais um pedaço do pão. O cão hesitou um pouco em princípio, porém não resistiu; atravessou o portão e foi até o pedaço do lanche. Usando continuamente o mesmo artifício Brady conseguiu fazer com que o cãozinho lhe acompanhasse por duas quadras e meia.

Vendo que seu recurso se esgotou, o garoto decidiu que seria o momento de finalizar o plano. Abaixou-se diante do cão e ofertou o punho quase fechado. O cão se aproximou e começou a farejá-lo. Num repente, Brady saltou para cima do animal e trouxe-lhe junto ao peito firmemente atado em seus braços. Daí em diante disparou numa corrida eufórica pelas poucas quadras restantes com o cachorro seguramente contido contra si.

O cão chegaria em casa já com um nome escolhido pelo garoto e seria um presente para Hindley. O nome do cão era Fantoche. A menina aprovou o cão e o nome, e demonstrou grande contentamento em recebê-lo.




TOMORROW

Era mais de meio dia e a mãe de Brady e Hindley ainda dormia. Maggie era garçonete em um pub, porém havia dois dias que não ia ao trabalho e passava o tempo inteiro trancada no quarto enfumaçado, sob a cama, sob efeito de vodca e sedativos, dormindo e fumando.

Maggie teve Brady ainda na adolescência. Ela tinha apenas 16 anos quando o garoto nasceu. A identidade do pai de Brady nunca foi conhecida com certeza, porém Maggie afirmava que o pai era um repórter que trabalhou por uma temporada em Manchester, e que ele teria morrido um mês antes de o garoto nascer. Hindley, três anos mais nova do que o irmão, seria fruto de um relacionamento casual de Maggie com um viajante, um vendedor de peças automotivas de uma firma sediada em Londres, mais um caso de paternidade duvidosa. Sendo assim, Maggie sempre conservou seu sobrenome de solteira e o transmitiu aos filhos. 

John, o padrasto, havia saído no meio da manhã sob pretexto de procurar emprego nas fábricas para na verdade afogar-se em garrafas de rum e retornar apenas no início da noite, cambaleante. Ao chegar, John costumava cochilar e, em seguida, cometer suas torpezas rotineiras. O homem só não espalhava o terror pela casa quando se excedia na bebida a ponto de desmaiar até o dia seguinte. O que era sempre um alívio para os Smiths.

As crianças conseguiram manter Fantoche escondido debaixo da cama de Brady por mais de três dias. Às vezes o cão latia um pouco, porém logo era calado pelo garoto, que, apavorado, o detinha com seu travesseiro abafando o som do animal. O padrasto, sempre tomado por tontura e torpor alcoólicos, não ouvia o bicho e continuava desmaiado.

Mas aquela situação não duraria para sempre conforme era possível se prever. No início da noite daquele dia, John retornou mais ébrio e iracundo do que de costume. Aquilo era o prenúncio de mais uma noite angustiante, uma na qual Hindley sentiu mais dor do que sempre e gritou mais alto do que nunca. Fantoche então disparou a latir. Como Brady mantinha a cabeça debaixo da coberta e do travesseiro não consentiu perceber o cão latindo de seu quarto em direção ao da irmã. Após algum tempo com o cão ladrando, cessaram os sons da garotinha e fez-se silêncio. De repente, debaixo da atmosfera esmagadora daquela casa, a porta do quarto de Brady abriu-se violentamente. O garoto não se moveu debaixo de seu isolamento acústico. Fantoche voltou a latir e rosnar para o grande homem de meias e cueca que rompeu a passos largos e cambaleantes através do portal. John viu o cão e começou a gritar ofensas ao bicho e principalmente ao garoto. Então Brady deixou seu isolamento e, trêmulo, sem perceber, urinou no colchão. Sentiu o conforto da urina que aquecia seu colo. Fantoche continuou latindo de debaixo da cama. John recuou e no instante seguinte retornou calçado de suas botas.

O homenzarrão empreendeu uma breve perseguição ao pequeno animal. E após encurralá-lo num canto, seguiu com uma longa sessão de pontapés. Minutos depois, o cão agonizava ensanguentado por todas as cavidades e orifícios. Minava o fluido vital enquanto expirava. Hindley surgia lívida na porta do quarto do irmão. Ela foi até o animal e, com dificuldade, tomou-o em seus braços dirigindo-se para seu próprio quarto. John acusava o garoto por todo aquele transtorno. Dizia que ele era um marginal igual deveria ter sido o porco de seu pai que emporcalhou a porca de sua mãe, dizia entre os dentes e com ódio no olhar.

Em seguida, insatisfeito e furioso, o violento John partiu para cima do garoto e fez com que ele sofresse como jamais havia sofrido até então. Manchester amanheceu mais nublada que de costume e as sombras daquele domicílio não permitiram que a mínima partícula de luz ali penetrasse. Apesar de todos os estrondos, não se sabe como, Maggie levantou-se somente pela manhã e nada perguntou sobre os rumores da madrugada. Ao encontrar o cão inerte e ensanguentado ao lado de Hindley, decidiu partir às pressas com as crianças para casa de sua irmã Nancy, em Glasgow.

Com muita pressa, arrumava duas malas médias. Porém, John despertou e inquiriu do motivo daquela arrumação repentina. A mulher não conseguia responder ao inquiridor e rompeu numa crise de choro. O homem disse que aquilo era pela falta das medicações e que aquelas crianças estavam mesmo impossíveis, de enlouquecer a qualquer um. Apanhou um frasco de sobre o criado de cabeceira de Maggie do qual retirou diversos comprimidos e disse para que ela os tomasse, e que aquilo lhe acalmaria. Vendo que a mulher não reagia, tomou-a pelos cabelos e a fez engolir um a um todos os comprimidos que julgou conveniente. Minutos depois, Maggie dormia mais uma vez e John saía pela porta da rua a fim de pelos bares embriagar-se novamente.




MANCHESTER TO GLASGOW

 
Coração de criança é mesmo teimoso. Resiste em esperança, mesmo quando tudo apresenta uma face contrária. É a natureza infantil quem alimenta essa crença de que tudo pode melhorar. Mas na vida dos Smiths, o tempo passava e Maggie não reagia, não tomava uma atitude quanto às atrocidades de John. A mulher até pensava, tentava tomar uma medida, porém era vencida pelo medo, pela falta de energia, pelo comodismo. Ela e seus filhos eram reféns daquela criatura sórdida e violenta, daquela situação indigna.

Até que um dia, na semana na qual Brady completou onze anos, ela, que na ocasião frequentava o trabalho assiduamente, com as poucas economias de gorjetas que conseguiu reunir, decidiu ir para Glasgow sob pretexto de tirar férias. John, como era de se esperar, teve uma reação das mais violentas. Ficou furioso, ensandecido. Segurava a cabeça da mulher por entre as mãos e inquiria do motivo de ela estar querendo fugir dele. A mulher negava por entre súplicas, lágrimas e explicações atropeladas que queria deixar John, porém o homem só crescia em violência e fúria. Surrou Maggie com socos no topo da cabeça até que ela desfalecesse ao lado da cama por falta dos sentidos.

As crianças se trancaram no quarto de Brady assim que o tumulto começou e ali o irmão orientou para que a irmã permanecesse em silêncio e usasse do isolamento acústico que ele criara como forma de transcender aos horrores da casa. A menina chorava e expressava sua preocupação para com a mãe. Mas Brady dizia que ficaria tudo bem e que logo tudo voltaria ao normal, e eles poderiam sair dali e ficar juntos da mãe.

John afastou-se vendo a mulher desfalecida no quarto e caminhou até a sala contígua, sentou-se no sofá com uma garrafa de rum e fumou um cigarro. Tomou meia garrafa em grandes talagadas direto do próprio gargalo. Acalmou-se por algum tempo. Em seguida, ergueu-se e caminhou até o quarto da menina. Brady esforçava-se para não ouvir o ranger das tábuas sob as botas do padrasto.

Vendo que a menina não se encontrava em sua cama, o homem foi direto ao quarto do enteado. Primeiro John tentou abrir volvendo a maçaneta. Viu que a porta estava trancada pelo lado de dentro. Advertiu para que o garoto abrisse e disse que precisava conversar com eles.

O garoto não respondeu. Os irmãos continuaram com as cabeças cobertas conforme estiveram durante o período de maior turbulência. O padrasto advertiu mais um tanto e passou a fazer ameaças às crianças. Vendo que não era atendido, John mudou de atitude e ficou extremamente agressivo. Disse que derrubaria a porta caso não a abrissem imediatamente e começou a dar com o punho na mesma. Hindley urinou por medo.

John esmurrava e chutava a porta das crianças com algum cuidado para não atrair a atenção dos vizinhos. Fazia para intimidá-los de modo que apenas eles ouvissem e temessem. O garoto jurou à irmã que não abriria sob ordem alguma, e que o padrasto poderia até mesmo derrubar a porta que eles não sairiam do isolamento. Ficaram em total silêncio com as cabeças abafadas. Ficou tudo quieto. O homem parecia ter saído pela porta da rua. Aguardaram por um tempo razoável e decidiram sair. Certificaram-se de que o padrasto não os aguardava do lado de fora do quarto. Aparentemente ele havia saído. Brady sempre tomava a frente das ações, Hindley o seguia. Foram até o quarto da mãe e a encontraram acordada, porém deitada e chorando muito, aos soluços. Os filhos viram com espanto que a mãe tinha um grande hematoma no entorno de seu olho direito. Ela os abraçou e pediu perdão. Eles retribuíram os abraços e recolheram suas lágrimas, beijaram-na.

Vendo as crianças tão aflitas, Maggie disse que tudo ficaria bem e pra que elas lhe ajudassem com as bagagens o mais rápido possível. Minutos depois, partiam. Pegaram o que foi possível e sob grande apreensão. Já na rua, a passo rápido, aos arrancos trazia a pequena Hindley ao passo. A mulher olhava para trás o tempo todo, e só repousou quando sentiu o movimento do trem a caminho de Glasgow. Finalmente estavam seguros.





 
SOMBRAS EM GLASGOW
 
Em Glasgow, os Smiths foram bem recebidos pela irmã e o cunhado de Maggie. Nancy era enfermeira na maternidade do centro da cidade, enquanto seu marido, Hoffman, um homem bom, calmo e afetuoso, estava desempregado naquele momento. Porém era um competente confeiteiro e também postulava o cargo de pastor efetivo na igreja luterana, na qual atuava como pastor auxiliar havia dois anos. Eles não tinham filhos. Tinham sim a intenção de realizar a adoção, no entanto tudo dependeria da melhora das finanças. O momento não era bom.  Por mais que Nancy trabalhasse, seu salário bastava apenas para o aluguel e as despesas básicas da casa.

Embora Maggie não tivesse revelado os verdadeiros motivos pelos quais deixara John e Manchester, as sombras persistiam sobre os Smiths como uma pecha permanente por onde quer que fossem. Ela apenas dizia à irmã que estava cansada do companheiro e da vida que levava em Manchester, das bebedeiras do homem, da cidade. A irmã, obviamente, intuía a circunstância de as coisas não irem nada bem por lá. As crianças eram muito introspectivas e Maggie também buscava isolar-se o quanto possível. Nancy e Hoffman comentavam sobre o estranho comportamento da mulher e dos sobrinhos. Maggie passava o dia todo trancada no quarto, fumando, e com as crianças por perto; parecia não ter disposição para nada, como bem notou o cunhado.

Ao término da primeira semana, Nancy sentiu-se obrigada a revelar qual era o momento financeiro que atravessavam e em seguida tentou animar a irmã a procurar algum trabalho provisório na cidade, caso pretendesse prolongar sua estadia por mais alguns dias. Então a segunda semana transcorreu de maneira relativamente mais natural. Maggie não teve dificuldade em conseguir um trabalho temporário durante o dia numa lanchonete do centro, nas proximidades da maternidade na qual Nancy trabalhava. Logo deu início ao processo de transferência dos filhos para um colégio local. As crianças ficaram um pouco mais soltas na companhia do tio. Vez ou outra, até saiam do quarto para ver um pouco de televisão e ajudavam com pequenas tarefas na preparação de algum confeite encomendado que surgisse.

Contudo, logo Hoffman percebeu que o comportamento das crianças não era antinatural somente no modo recluso de portarem-se, mas principalmente nas estranhas manias que ambos apresentavam. Por mais de uma vez, Hoffman surpreendeu Brady enquanto o garoto brincava de modo estranho com o siamês da casa, o Chuvisco. O gato tentava de todas as maneiras escapar do garoto, porém era contido pelo rabo enquanto o menino lhe puxava as orelhas de modo brusco e repetitivo. O tio explicava que o animal não gostava daquilo e poderia até mesmo arranhá-lo. O menino deixava o brinquedo vivo e voltava emburrado para o quarto, só saindo do local quando a mãe retornava do trabalho ou para fazer alguma refeição. 

Hindley não preocupava menos o tio. Ela sempre aparecia com arranhões no ventre dos antebraços. No início, o tio achou que fosse por também brincar de modo brusco com o bichano, contudo jamais flagrara qualquer ato agressivo por parte da menina para com a criação, para quem a pequena tinha apenas carinhos e afagos. Foi então que passou a observar a criança com maior atenção e pode ver que a menina usava pequenos objetos para coçar a pele do antebraço produzindo os arranhões que logo se tornavam sulcos. Para tal a criança utilizava pequenas moedas, tampas de caneta e até mesmo pedriscos. A menina também acordava no meio da madrugada aos gritos. A mãe dizia que aquilo era terror noturno e que a criança já estava medicada e com acompanhamento médico em Manchester para conter os episódios. A cama na qual dormiam os dois irmãos sempre amanhecia urinada. A suspeita do problema logo recaiu sobre a pequena Hindley, no entanto bastou providenciar um colchão para Brady para ficar claro que não era Hindley quem sofria de enurese noturna.






MENTIRA MISERÁVEL
 
Após quinze dias da permanência de Maggie e as crianças em Glasgow, John passou a visitar a casa dos cunhados quase todos os finais de semana. Se no começo era recebido com certo receio da parte de uns e frieza da parte de outros, logo conseguiu estabelecer uma relação cordial para com os cunhados e dúbia para com a mulher, que a cada dia ficava mais confusa e insegura quanto ao acerto e firmeza de suas últimas decisões. Já as crianças sempre pioravam o comportamento na semana que seguia às visitas do padrasto.

John dizia que estava e parecia realmente estar transformado. Pedia outra chance em nome das coisas boas que aconteceram entre eles, pois achava que nem tudo havia sido tão ruim que não valesse a tentativa de um reinício. Momento no qual a mulher permanecia em silêncio, contudo ouvia com atenção, apesar de vez ou outra o olhar vagar sobre as sombras do passado recente.

Embora em um primeiro momento John parecesse a quem o visse ser predominantemente seco, era um homem charmoso. Magro e alto, ele tinha o rosto longo e o nariz afilado, longos cílios e grandes olhos castanhos escuros, e seus cabelos também eram castanhos e ondulados formando um discreto, porém denso topete. Vestia muito bem os trajes sociais adquiridos em brechós de bairro. Tinha a voz grave e suave, bem marcante. Articulava bem a fala e economizava ao extremo nas palavras. Escolhia cuidadosamente os vocábulos.

Maggie jamais se esqueceu da noite na qual o conheceu de fato. John tornara-se frequentador assíduo do pub no qual ela trabalhava. O homem sempre ofertava generosas gorjetas acompanhadas de incisivos e maliciosos gracejos. Certa noite, ele disse que era capaz de retirar suas roupas íntimas ali mesmo ao lado da mesa sem que ela derrubasse uma única gota dos drinques que trazia sobre a bandeja repleta de copos transbordantes. Naquela noite, ficaram pela primeira vez. John aguardou até que Maggie terminasse o trabalho. Enquanto eles saíam, a moça desculpava-se por estar vestindo apenas trapos. Ele disse que era mesmo horrível que alguém tão bela tivesse preocupação com tais coisas e que a proposta feita dentro do pub valia para qualquer lugar.

Foi um namoro breve e intenso o deles. Ao cabo de apenas um mês, Maggie se mudara do quartinho de aluguel onde morava com alguma bagagem e as duas crianças pelas mãos para o número 16 da Wardle Brook Avenue. Cheia de esperanças e motivação, foi viver em companhia do surpreendente John. Naquela ocasião, ele era empregado em uma transportadora e bebia moderadamente nos finais de tarde e de modo mais intenso nos finais de semana. Fumava também com moderação e evitava o consumo de tabaco dentro de casa. A bebida fez com que ele perdesse alguns dias de trabalho e a bebedeira veio junto com o período de desemprego. Passou a consumir álcool diariamente e revelou seu lado mais impaciente e impulsivo. As coisas pioraram muito quando teve que vender o carro pelo qual tinha verdadeira veneração. Ele sempre culpou Maggie por seu declínio financeiro e moral, cada vez de modo mais violento, agressivo. E foi assim que a mulher encontrou-se, pouco a pouco, como quem descesse uma longa escadaria sem corrimão, cada vez mais depressiva e dependente de álcool e sedativos.
 

Nas visitas que John fazia aos Smiths, em Glasgow, sempre levava presentes para todos. Estava bastante sociável e comunicativo. Aparecia bem trajado, perfumado e barbeado. Dizia que deixara a bebida e até pretendia frequentar alguma igreja. Nos momentos em que se via a só com Maggie, dizia estar muito arrependido de todo mal que seu gênio impulsivo havia lhes causado. Ele parecia falar de uma entidade que o aprisionou e atormentou e que agora dela se libertara como por encanto.

John comprou um belo furgão e disse que agora eles poderiam passear com frequência por todo o Reino Unido, e levava-os a passeios ao centro de Glasgow e esforçava-se por agradar as crianças com doces, brinquedos e sorvetes. Brady relutava em aceitar qualquer coisa oferecida pelo padrasto, que dizia compreendê-lo e que aquilo era por força da idade, dos hormônios aflorando. Hindley já era mais receptiva aos mimos do homem, enquanto Maggie, pouco a pouco, cria no sonho de serem novamente uma família, no entanto agora estruturada e feliz. Foram tantas as visitas bem sucedidas que um dia a mulher, embora advertida pela irmã de sua precipitação, decidiu ceder às promessas de John e assumiu o compromisso de retornarem todos para Manchester assim que fosse concluído o ano letivo das crianças.






HAND IN GLOVE

Ao chegarem à cidade de Manchester, no final da tarde daquela sexta do retorno, John disse que tinha um xerez guardado na dispensa e propôs uma pequena comemoração à Maggie, que questionou da importância do abstêmio não ceder à tentação do primeiro trago.  O homem riu em tom de zombaria e afirmou que a vida não poderia ser resumida apenas a trabalho e preocupações, e que era preciso vez ou outra dar uma relaxada para melhor suportar a imensa quantidade de aborrecimentos cotidianos.

Deixaram as crianças à própria sorte e adentraram o velho e sombreado quarto de paredes cinza do casal. Minutos depois, John e Maggie dirigiam-se para o carro dizendo que dariam uma volta em busca de mais bebida e que logo retornariam. Recomendaram para que as crianças se recolhessem em seus respectivos aposentos e já fossem dormindo. Hindley quis chorar e Brady fechou o cenho. Com os imensos olhos azuis marejados e sem dizer nenhuma palavra, a menina suplicava com todo o seu ser para que a mãe não a deixasse. Maggie beijou ambos e seguiu seu homem com algum pesar antigo e toda resignação de sempre.

A noite vinha com um insinuante e intenso luar e o clima estava especialmente fresco naquela ocasião. A caminho da loja de bebidas, John propôs um passeio pelas redondezas de Saddleworth Moor sob pretexto de contemplar o luar e também procurar uma luva que teria perdido por ali durante um frete que realizou atravessando aquela região na véspera.

Ao chegar à proximidade de uma charneca, John estacionou o carro no acostamento e disse para que Maggie fosse até o porta-malas e de lá apanhasse uma lanterna enquanto ele vestiria a jaqueta preta de couro. Ela teve um imenso sobressalto ao tatear o porta-malas não iluminado sem encontrar nenhuma lanterna, porém apenas os nítidos contornos do que seria uma grande e espessa pá. Ficou indecisa entre perguntar qual era a utilidade daquele objeto ou apenas dizer a John que não havia encontrado a lanterna. Sempre temendo que qualquer coisa enfurecesse o homem como nos não tão velhos tempos, optou por não dizer palavra alguma. Ficou parada com os olhos sobre ele.

John já se encontrava do lado de fora do carro, encostado à porta e trajando a jaqueta de couro, e com a lanterna em uma das mãos e um cigarro apagado na outra, ambas calçadas por brilhantes luvas pretas de couro. Colocou a lanterna debaixo do braço e levou um cigarro à boca com uma das mãos para acionar o isqueiro com a outra. Maggie ficou lívida aparentando refletir o luar e sentiu seu sangue evaporar pelas têmporas como se os sentidos se esvaíssem acompanhando a fumaça do cigarro do homem. Este fixou os olhos firmes e impiedosos sobre os da mulher e apenas indagou em uma palavra o motivo dela tê-lo abandonado uma vez.

O espírito de Maggie se esvaía a cada segundo. Ela estremecia e continha o choro iminente. Não apresentou reação alguma. Era como se ela conhecesse desde o início de seu retorno qual seria o seu destino final. Pensava na sorte das crianças e sua cabeça girava cada vez mais aérea, gasosa e veloz. Até que num instante fora arrebatada pelo violento choque da chapa de metal contra o flanco direito de seu crânio. Sentiu o sangue evaporar-se num primeiro momento para em seguida escoar pela imensa fenda aberta ao céu. Percebeu o calor do líquido que fluía e cobria aquecendo sua face gélida, tudo em uma fração de segundo. Vieram muitos outros golpes em seguida, os quais ela nem mais sentia, pois apenas o primeiro já fora suficiente para impulsionar a translação completa.

John cavou uma cova rasa e em seguida descalçou as longas botas marrons de salto dos pés da mulher. Tirou seu casaco azul de veludo e também a calça branca justa. Cuidadosamente removeu as peças íntimas, que eram azuis e contrastavam com a pele alva da vítima. Retirou o colar de contas brancas e os brincos de opalas ocultados em suas madeixas loiras. Ao lado do furgão, foi possível ver uma sombra furiosa montar a figura jaz quedada inerte ao solo e, em uma breve sessão de movimentos frenéticos e convulsivos, um espectro devorar o outro de modo selvagem e definitivo.






NUM LEITO RASO
 

John voltou para casa em estado de completo êxtase. Cantava e dançava dentro do carro. Com os vidros abaixados e o vento açoitando o rosto, agitava o braço para fora da janela e gritava frases de canções alegres. Gritava bem mais alto do que o som do rádio.

Ao chegar ao número 16 da Wardle Brook Avenue, ao estacionar o furgão, o homem notou luzes acesas no interior da casa. Deu um soco no volante e desceu do veículo furioso. Rompeu pela porta da frente aos gritos contra as crianças. Dizia que eram uns delinquentes e que não sabiam acatar a mais simples das ordens, e que era para estarem dormindo havia muito tempo. Em seu furor e êxtase não se deu conta do sangue que tingia a gola e o peito de sua camisa branca por debaixo da jaqueta. Os Smiths se entreolharam com os olhos a saltar das órbitas.

Brady ignorou as palavras furiosas do padrasto e partiu para cima dele com socos e pontapés inúteis contra a horrenda criatura, enquanto Hindley gritava desesperadamente. O garoto não surtia qualquer efeito sobre o homem, que logo o tomou pela gola da camiseta dizendo que lhe daria uma lição para que jamais esquecesse. O menino queria saber da mãe, queria matar o padrasto, queria ter forças para ferir, queria poder qualquer coisa. Tomado pela gola da blusa era arrastado na direção do quarto do casal. Volveu a cabeça e conseguiu cravar os dentes sobre o punho direito de John. O homem gritou em fúria e largou o garoto, que correu para a cozinha e tomou um pequeno cutelo de culinária. Não hesitou em partir para cima do grande homem, porém aquele tomou o utensílio da mão do menino com a facilidade de quem toma um brinquedo de uma criança. Em seguida, John passou a desferir violentas cutiladas contra o crânio do garoto, que caiu ao lado da pia e logo foi abrigado por um lago vermelho e espesso.

No furor dos fatos, John não percebeu o quanto Hindley gritava de terror. A menina estava estacada diante à cozinha e presenciara toda a cena do embate entre o monstruoso homem e seu tão caro e valente irmão. Quando o padrasto foi em sua direção dizendo que a acalmaria e que acabaria tudo bem, a menina encontrava-se cataléptica diante o irmão repousado no lago sobre o chão da cozinha.

John tomou a menina nos braços tal qual um pai zeloso e rumou para o quarto do casal a fim de depositá-la no leito. Passou a elogiar a criança atônita. Acariciava os seus cabelos e dizia que ela sim era a jóia dos Smiths, a única jóia dos Smiths. Depositou-a sobra cama e saiu dizendo que ainda tinha um trabalho a realizar, mas voltaria em um momento.

Com o puído tapete marrom da sala envolveu o corpo do garoto e o depositou na traseira do furgão. Munido de panos e rodo, rapidamente fez desaparecer a grande mancha do chão da cozinha e sobre o local colocou um tapete redondo e branco de barbante. Nem bem terminou o trabalho ouviu soar a campainha. Era o comissário de polícia. Queria saber se estava tudo certo por ali, pois havia recebido uma denúncia por parte da vizinhança sobre gritos e tumulto provenientes do local. John vestia agora um suéter azul e recebeu o policial placidamente. Convidou-o para que entrasse e tomasse um lugar no sofá. O oficial entrou e recusou o convite a sentar-se. John ofereceu chá. O oficial também recusou e agradeceu. Em seguida perguntou quem mais morava naquela casa. John explicou que moravam ele, a esposa e as crianças. E disse que todos dormiam naquele momento, exceto o casal, e que ele estava preparando um chá para a mulher, e que foi justamente quando também ouviu um tumulto, porém nitidamente vindo da região sul, e acrescentou que era comum aquilo acontecer por aqueles lados. O oficial olhava em todas as direções e nada lhe pareceu suspeito. Ele não passou da sala. A mobília era mínima e tudo já se encontrava em perfeita ordem. John perguntou se o homem queria falar também com a mulher. O oficial disse que não seria necessário, despediu-se e partiu.

John voltou entusiasmado para o quarto e de lá saiu somente uma hora depois. Pegou as chaves do furgão e rumou para Saddleworth Moor. Cantava pelo caminho todo, agitava-se. Em outra localidade distante da qual esteve horas antes com Maggie, ele estacionou o furgão e retirou de trás o corpo do garoto envolvido no tapete. Retirou também a pá e cavou outra cova rasa. Desenrolou o menino, desvencilhou-o de suas vestes, debruçou-o sobre o pequeno monte de terra removida depositado ao lado da cova e começou a mover sua sombra grotesca sobre a sombra inerte do garoto.

Percebendo que a temperatura do corpo do menino ainda estava conservada, supôs que Brady ainda vivia. Naquele momento teve então seu furor triplicado. Ergueu-se sob a lua, tateou o amontoado das vestes do garoto e retirou do sapato do menino o cadarço. Prendeu o fio firmemente pelos dois punhos e envolveu o pescoço de Brady. Sua sombra movia-se freneticamente sobre a sombra do garoto, que parecia a sombra de uma marionete com apenas a cabeça e o tronco atados por fios enquanto os braços balançavam largados à própria sorte.  Aquilo durou a eternidade de três minutos.

Com as roupas e os calçados aos pés, finalmente Brady descansava em paz no repouso de seu módico leito em Saddleworth Moor.






SUFFER LITTLE CHILDREN
 

Por três longos dias e longas noites Hindley esteve sob os auspícios do padrasto. A criança alternava períodos de choro com períodos de catalepsia. John a enfeitava com seu único vestido branco de festa e dizia que ambos eram realmente como pai e filha, uma linda família, e dizia que sempre passeariam juntos nos finais de tarde e que todas as outras meninas de sua idade a invejariam.

Na terceira noite do suplício, atormentado pelo choro constante da criança, John disse a Hindley que a levaria para ver Maggie e Brady e que era lindo o lugar onde eles a aguardavam. A criança já não mais existia em um plano coerente e resistia na forma de uma tênue e delicada sombra de si. Sua alma aguardava sequiosa por uma libertação divina. Tudo que restava era o sonho confortante da fuga daquela existência para assim finalmente desvencilhar-se daquela sombra monstruosa que se apossara dela e dos seus por completo.

John rumou mais uma vez com grande alegria para Saddleworth Moor. Aquele lugar sempre revitalizava sua disposição e robustecia sua sombra. Conhecia por discretas características memorizadas cada sítio onde estivera antes com os Smiths. Tinha uma fabulosa memória fotográfica o homem. Em um dado momento, pouco antes de chegar à região do túmulo de Maggie, John fez com que a menina passasse do banco de trás do veículo para o banco da frente, a seu lado. 

Durante todo o percurso Hindley olhava pela janela, observava as estrelas e a lua e chorava baixinho. O padrasto escolheu outro lugar que não os anteriores para estacionar o furgão. Hindley, conforme o homem providenciara, vestia seu vestido branco de festa e usava ornamentos de conchinhas nos cabelos, pulseiras delicadas e seus melhores sapatos, que também eram brancos. Seus olhos azuis habitavam o fundo de um longo túnel de sombras tornando-se quase imperceptíveis. Suas madeixas loiras emolduravam a tez translúcida de um anjo encarnado.

A sombra do homem movera-se grotescamente como das vezes anteriores. Ele consumava os assassínios com seu ato mais torpe. O tempo escorreu mais atroz e longo que das vezes anteriores. A sombra de John não se satisfazia de modo algum. Com as próprias mãos o homem cometeu o ato que cumpriu sua intenção e traiu seu desejo libertando o anjo de debaixo de si para a eternidade em um terno suspiro aliviado.

Adormecida para o mundo e acordada para o cosmo, Hindley teve seu repouso sagrado em mais uma cova rasa de Saddleworth Moor. Adormeceria ali para sempre sem jamais ter seu sono incomodado pelas inúmeras buscas errantes que perscrutariam cada palmo daqueles pântanos e charnecas sem obter sucesso na busca de seus restos mortais e os de seu irmão. Apenas o cadáver de Maggie seria encontrado alguns meses depois e no entorno da área de Azevim Brown Knoll.

Nancy, tenaz e obstinada, buscou diligentemente junto à polícia resposta para o desaparecimento completo dos pequenos Smiths e encontrou apoio no grande clamor popular pela total solução do caso. Com o conjunto das evidências a perícia criminal do Departamento de Polícia de Manchester conseguiu colocar John na cena do crime e, embora ele jamais tenha confessado qualquer um dos assassinatos, isso fora o suficiente para incriminá-lo. John foi sentenciado à pena de prisão perpétua e esteve em diversos presídios, até ser considerado pela justiça um psicopata irrecuperável, sendo então transferido para um manicômio judicial.

Para por fim ao intenso movimento dos repórteres e curiosos vindos em visita de diversos lugares do Reino Unido e outras localidades, o Conselho de Manchester decidiu por demolir o número 16 da Wardle Brook Avenue em Hattersley sem, no entanto, jamais conseguir eliminar as sombras do local.

Comentários

  1. Olá Jeferson, adorei sua visita e seu comentário no meu blog, você sempre será bem vindo por lá.
    Amei o seu blog, você escreve muito bem, “THE SMITHS, O CONTO” está realmente incrível. Beijos!

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    1. Que bom, Ana Paula! Bem vinda! Obrigado por sua atenção! Beijo!

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  2. Eu simplesmente amei , foi maravilhoso eu adoro coisas assim '-' ganhou um membro c:

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    1. Que bom, você! Seja bem vinda! Sente-se e fique à vontade. Beijo!

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  3. Olá Jeferson....seguindo vc para continuar leitura, parabéns.

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  4. Que conto maravilhoso! Senti calafrios durante a leitura e mais ainda em saber que esse tipo de família existi em vários lugares. Enfim, tu escreves muito bem, Jeferson. Estou seguindo o blog, um beijo!

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    1. Que bom que o conto te agradou e que pena que seja baseado em fatos tão reais, não é mesmo? Seja bem vinda, Fernanda! Um beijo!

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  5. Cara, parabéns, adorei o conto! Você escreve muito bem, e soube representar a realidade do mundo hoje em dia...É um conto muito comovente, deu até arrepios. Muito bom :)

    Seguindo aqui, beijos!
    Dream UP

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  6. Muito bom !!
    Sucesso para você .
    Beijo

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  7. Muito bom.. adorei o desenvolvomento do conto.Parabens!

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  8. Achei esse conto sinistro! Mas ao mesmo tempo prendeu a minha atenção... e depois de terminar de lê-lo fiquei curiosa para saber o que aconteceria com a Maggie, Brady, Hindley, e com o seu cão. Me surpreendeu também quando Maggie tomou os seus filhos para irem embora, quando no início deste conto ela mostrou-se bastante passiva e derrotada! :D

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    1. Muito bom, Danielle! O conto ainda está em construção; há muito que narrar e esclarecer. Conto com sua atenção. Obrigado e beijão!

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    2. Adorei! De verdade mesmo! Parabéns! Achei algo bem misterioso, e adoro isso!

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  9. "Big mouth strikes again!" (não tive como não associar..rs)

    Excelente Jeffão...um ótimo toque de mistério, angustiante!

    Abraços!

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    1. Obrigado, Castellar! Conto com seu apoio, amigo. Big Mouth Strikes Again é bem legal, mas estive mais influenciado por Suffer Little Children, de 84. É nesse clima que vou imaginando o texto. Abraço!

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    2. E faltou dizer que Big Mouth Strike é uma de minhas preferidas [sorrio]

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    3. hahaha...minha também, por isso foi a primeira que me veio..rs

      []s

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  10. Olá Jeferson! Obrigada pela visita ao blog. Gostei muito do conto, a narrativa está concisa, mas descreve o suficiente para passar o horror da situação dessa família. São os monstros reais os que mais assustam.

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    1. Que bom que está gostando, Thais. Conto com sua atenção. Abraço!

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  11. Jeferson, super agradeço sua passada pelo meu blog e, com certeza, ganhou mais uma leitora de seus contos! Sentia a angústia dessa família na minha própria pele, enquanto lia. Tens um dom muito bonito! Espero que possas continuar visitando e apreciando também o meu blog.
    Bj

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    1. Sou eu quem agradece, Bianca. Por seu comentário e atenção. Um grande abraço!

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  12. Jeferson que imaginação heim rapaz!
    belisimo, fiquei triste com essa famlia a medida que lia, percebia a amargura e dor.
    Sou bibliotecária, vou repassar seu blog para uns amigos que também gostam.
    bjux e obg pela visita

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    1. [sorrio] Obrigado, Rey! Obrigado por sua atenção e apoio. Contarei com você. Um grande abraço!

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  13. Mal consigo descrever como a história me abalou.
    É uma pena que tantos Smiths, de tantas nacionalidades diferentes, existam por aí. Me doi pensar que nem todas as histórias tem finais como o deste conto.

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    1. É uma dura realidade, Dilly, mas presente, conforme você disse. E conto ainda não terminou. Tem mais...

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  14. O conto está ótimo, muito bem escrito, parabéns.
    Senti muito ódio da mãe das crianças, não compreendo como uma mãe pode demorar tanto para tomar uma atitude, ficar numa zona de conforto durante tanto tempo ignorando os sofrimentos dos filhos, especialmente os da menina... Senti muita pena do cachorrinho... No entanto o conto é tão real, essas coisas são infelizmente bastante comuns, e a emoção que o texto passa é bastante real, me prendeu até o fim, me encheu de raiva e até certo nojo. Você pretende fazer alguma continuação? seria legal...
    Enfim, obrigada pela visita ao meu blog, adorei o seu, Um abraço!

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    1. Que bom que está comigo neste conto, Belle. Haverá continuação sim, e conto com você. Outro abraço!

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  15. depois de um tempo afastada, estou retornando com meu blog..
    adoraria receber tua visita..

    bjs.Sol

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    1. Bem vinda, Sol! E que seja feliz o seu retorno ao blog. Um beijo e logo passarei lá. Até!

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  16. Olá, adorei seu conto, escreveu muito bem, senti muita pena das crianças, que mãe hein, se é que se pode falar que é mãe, ehehe, beijinhos

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    1. Déborah, é mesmo uma situação terrível... Continuarei escrevendo "º~º" Beijo!

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  17. Nossa, você escreve muito bem!!!
    Enquanto lia, eu senti tanta angustia, raiva, pena, calafrios... Tudo ao mesmo tempo! Parabéns!
    Haverá continuação? Espero que sim!

    Um grande abraço!
    Geeks na Moda

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    1. Obrigado! Você é muito gentil, Duda. Haverá sim. Fique por aqui e acompanhe. Um grande abraço!

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  18. Hey Jefh, estava vendo coisas antigas no meu blog e vi um comentário seu... me deu vontade de saber como anda sua vida... ainda é fisioterauta como eu seria um dia? Bom, abraços blogueiro =)

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    1. Sim. Continuo na Fisioterapia sim. Você desistiu?

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    2. Não desisti... cursei por 2 anos, passei pra federal do Rio pra odontologia e fui por conta de achar ser uma melhor oportunidade. Estou feliz.

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    3. O mais importante já está acontecendo, você está feliz. Um beijo e sigamos juntos por aqui.

      Excluir
  19. Jeffão!

    É com uma baita cara-de-pau e na torcida se ser compreendido, que passo por aqui hoje, com esta mensagem padrão, para lhe convidar a conhecer o meu novo livro: Tempos Verbais! Assim como os demais, ele também está disponível gratuitamente em formato eletrônico:

    Desce Mais Uma! - Lançamento Tempos Verbais

    Se puder me ajudar divulgando aos seus amigos, ficarei muito grato!

    Muito obrigado, meu velho...

    Rafael

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    1. Sinta-se em casa, Castellar. Estamos juntos. Divulgo agora mesmo. Um abraço!

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  20. O conto é maravilhoso, senti vários calafrios durante a leitura.
    Parabéns. você escrever muito bem.

    http://emmeumundodiferente.blogspot.com.br/

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    1. Que bom que sentiu o conto! Obrigado por sua atenção! Beijo, Danii!

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  21. Oi Querido, quanto tempo!
    Dei uma sumida do blog quando tive meu bebê mas agora estou voltando em um novo endereço e te peço que por favor siga lá tbm, afinal vc já era seguidora no outro blog. Dá uma força no novo, vai!
    Adorei o primeiro conto.
    http://cacommeusbotoesblog.blogspot.com.br/
    Desde já te agradeço!!!!
    Mil bjos.
    Fica com Deus!

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    1. Bem vinda! Amém! Fique bem também. Estamos juntos na blogagem. Abraço!

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  22. caramba, devorei seu texto junto com outro pão, um integral de sopa de cebola, porque do de cerveja não sobrou nem migalha.

    Você tem fôlego e consegue prender a atenção logo de cara; gostei muito! Abraço

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    1. Você passa é bem de mais... [sorrio] Obrigado pelo carinho da atenção, Sabrina. Beijo!

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  23. Belo conto este teu, Jeferson! Vou ficar "de butuca" aguardando o desfecho.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Loreci, sinto a responsabilidade "º~º" Pode deixar. Já está tudo no forno, e no capricho. Beijo!

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  24. Jeferson, obrigada pela visita em blog. Sou uma iniciante, mas com enorme vontade de aprender um pouco da arte de escrever. Adorei seu conto THE SMITHS. Lerei os outros também. Abraços.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Tatiane, sou eu quem agradece; agradeço por sua atenção e presença. E que suas blogagens sejam repletas de prazer! Um abraço!

      Excluir
  25. Meu Deus!Que conto é esse!? Te juro...eu chorei,fiquei com raiva,tristeza...só angústia!Mas aliviada pela garotinha...muito
    triste...achei que o sofrimento dela foi o mais cruel...e pensar
    que existem anjos sofrendo do mesmo modo que
    acontece nesse conto...é sofredor !

    Meus parabéns pelo conto,escreve muito bem mesmo.
    Fica com Deus.

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  26. Boa referência no nome the smiths. :)
    Lerei os outros sim.

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  27. Sumido?? Ou preparando o que você sabe fazer com EXCELÊNCIA?? Uma boa Historia/Estória de tirar o Folego?

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  28. Oi Jeferson, há muito tempo vc visitou meu diário virtual, que deixo aberto ao público, mas não é e nem tenho a pretensão que seja um blog, como não aspiro ser blogueira. Mas num post do David Garret vc deixou um comentário e me convidou a visitar seu blog e indicou uma leitura. Não encontrei o texto, mas li várias publicações suas e gostei. Parabéns, desculpe o atraso, mas é pq, como disse, não sou blogueira e não tenho aspirações a tal, apenas escrevo ou posto algo escrito, ou música, ou filme, quando gosto e quero, e deixo aberto para o caso de alguém querer ver e gostar.... Meus trabalhos, de 12h em média por dia, me impedem de me dedicar. Meus parabéns, mais uma vez!!!!!

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  29. Olá Jefh, faz tanto tempo que não visito seu blog, por motivo de correria e muito estudo, mas hoje tirei um tempinho para me fartar com seus contos. Parabéns novamente pelos textos, são incríveis. Abraços da amiga leitora Juh.

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  30. Olá Jefh, obrigada pela visita em meu blog. Me interessei bastante pelo seu! Este conto é maravilhoso, de fato você sabe prender a atenção do leitor do começo ao fim, e sem ser apelativo. Dá pra perceber que seu texto "flui" é fácil de ler e muito bom. Parabéns!

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