Nunca imaginei um dia sentir falta daquele bicho infeliz com sua cara parva inabalável esperando platonicamente por um afago de minha parte. E pra dizer a verdade e fazer da sinceridade minha única diretriz, não sou o tipo que afaga bichos e depois permanece cinicamente sem lavar as mãos só para fazer tipo. Até a última vez em que o vi, ele era branco, com poucas e grandes manchas negras espalhadas por sua rala pelagem. Dotado de porte rigorosamente médio, era ele todo medíocre. A impressão que eu tinha é de que o bicho ficava atado eternamente por uma curta corrente ao arame estendido à distância de cinco metros indo de um caibro a outro de sustentação da frágil cobertura de telhas de amianto que servia por abrigo do carro. No entanto, sua dona sempre afirmava que ele dava lá suas escapadelas pelas redondezas. Se isso realmente acontecia, algo que não posso afirmar, pois jamais o vi solto, deveria ser um momento de profundo êxtase e gozo de liberdade nas asas da mais pura vadia...