A vida dele nunca foi fácil. Gostava de rock. Era o estilo que transformava a opressão que sofria em energia pra reagir, saltar, dar cabeçadas e socos no ar. E essa era toda sua rebeldia. Sem álcool, sem drogas, sem dinheiro, sem convites para festas e lugares. O rock lhe salvava de qualquer violência sofrida ou melancolia oportunista. Em sua mente compunha contos fabulosos onde sob a violência dos acordes tornava-se um herói de si mesmo, seu próprio defensor. Não entendia piorra nenhuma do inglês gritado pelos americanos. Fora algum refrão, tudo era um emaranhado ininteligível, uma gritaria enfurecida, uma extravagância charmosa e sedutora. Gostar de rock, para ele, e para alguns, era ser ferrado na vida com estilo. Um dia foi espancado violentamente. Levou tantos socos na cabeça que por fim já não os sentia. Não havia a quem apelar. E quem poderia lhe ajudar se acovardava. Após a surra, após a saraivada de golpes sobre sua caixa craniana, a entidade monstruosa fartara-se...