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Mostrando postagens de maio, 2011

O ALMOÇO COM O QUAL ARMELAU JAMAIS SONHOU

Dona Afonsa repousava à mesa uma grande travessa de quiabo cozido com músculo de vaca, quando teve um furioso acesso de tosse. E se não fosse por ter virado o rosto ao lado oposto, o cozido teria sido retemperado com fluidos naturais. “Coff Coff Coff”: Tossia Dona Afonsa e sugava a coriza numa súbita e ruidosa inspiração. Dona Afonsa havia preparado também arroz carreteiro, feijão tropeiro e, segundo ela, sua especialidade; um guisado que seria segredo e tradição de família o seu conteúdo, bem como a fórmula utilizada para atingir àquela consistência especialmente viscosa. Armelau sentia apetite algum. Contudo, fora rigorosamente educado para não desfeitear a ninguém, principalmente em casa onde fosse o convidado – e quem é que nessa vida nunca se sentiu amarrado pó limitado pela educação ou convenções herdadas? Teria provado somente um pouco do arroz, beliscado a salada e poderia render elogios convincentes aos dotes culinários da sogra de seu colega de trabalho. Mas não... Nada disso

ARMELAU FICA PARA O ALMOÇO

Dona Afonsa surgiu no alpendre aos brados convidando o genro e Armelau para o almoço: _Almir, venha almoçar, e traga esse seu amigo! Andem logo que a comida está esfriando. Comida fria é uma bosta! E do mesmo jeito que a mulher surgiu desapareceu casa adentro. Armelau esboçou uma discreta menção de recusa ao convite. E teria recusado, caso Almir não o tivesse envolvido pelo pescoço e exclamado em tom benevolente que era ele seu convidado de honra. Armelau já estava ali sem sequer antes ter avisado - bem que ligou para o celular do amigo, mas sabia que era costume dele deixá-lo mais desligado que ligado; todas as suas tentativas tiveram como destino a caixa de mensagens. Decidiu tentar a sorte. E assim foi mesmo sem avisar. Mas agora, almoçar seria algo um tanto confiado demais. Muito constrangido, Armelau atravessou a sala e um longo corredor até chegar à cozinha debaixo do braço de Almir. Armelau perguntou onde poderia lavar suas mãos. Almir mostrou o corredor pelo qual o trouxe e dis

O PESADELO DE ARMELAU, AMIGO DE ALMIR

Armelau perdeu de vista sua paz. Dormia mal atormentado por terríveis pesadelos relacionados ao seu emprego. E havia um sonho que era repetitivo. Nele, Armelau surgia de cueca branca correndo pelos corredores da empresa enquanto era perseguido por uma jovem chinesa empunhando e brandindo uma tocha acesa. Armelau sentia precisar saber quais eram os comentários feitos na empresa sobre sua pessoa... Passava horas conjecturando falas de colegas, ares de reprovações dos seus superiores, chacotas internas praticadas pelo pessoal do cafezinho... Sábado pela manhã, não agüentando mais aquela curiosidade, decidiu ir até a casa de Almir para saber a quantas andava os comentários sobre ele. Tomou o ônibus na esquina de sua casa, trinta e cinco minutos depois descia a uma quadra da casa do amigo, onde havia ido apenas uma vez deixar o colega quando ainda possuía uma moto. Uma senhora muito obesa e de meia idade foi quem lhe atendeu à porta. Perguntou quem era e o que desejava e, após ouvir Armelau

PUNHOS DO MEDO – O TOQUE DA MORTE

A locadora onde alugo filmes, vez ou outra, faz uma promoção estranha. Eles lhe oferecem um filme do acervo mais antigo a cada vez que você loca três filmes do acervo mais atual. Até aí, nada de incomum. O fato estranho é que, mesmo no dia em que você não loca nenhum filme, não encontra nenhum título interessante disponível, eles te oferecem um filme antigo, de graça. É sério! _Pegue um filme lá! Disse o rapaz. Achei estranho, argumentei: _Mas eu não vou locar nenhum filme! _Não importa, pode pegar. Essa semana todos os filmes de artes marciais são de graça. Completou o rapaz. Bem, eu sou brasileiro. Estava me oferecendo um filme em meio a tantos títulos de graça. Já viu brasileiro dispensar algo, de graça? Muitos filmes eu já havia visto. Quanto mais adentrava ao pequeno corredor com suas prateleiras poeirentas, mais títulos saltavam diante de meus olhos e faziam sinapses em minha memória – adentrar um lugar como este é revisitar o seu passado negro e obscuro. Passei por Chuck Norris,