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Mostrando postagens de abril, 2013

GENYSIS - A CRIAÇÃO SURDA

A fachada da casa ostentava um estilo que há muito havia caído em desuso e sofrera por contínua substituição ao gosto de momento do mercado imobiliário. Os jovens das cidades parecem odiar as memórias do lugar tanto quanto os velhos das mesmas cidades estimam as mesmas memórias. O curioso é que, com sorte, os jovens sempre envelhecem e passam a suspirar pelas memórias não preservadas e destruídas pelos outros jovens da ocasião. Naquela casa era trabalho inútil apertar a tecla do interfone mudo. Após duas ou três preensões o visitante perceberia que ali o código era o estalar das velhas e infalíveis palmas, de preferência com as mãos por sobre o velho, desbotado e ferruginoso portão marrom. E o som certamente demorava algum tempo para atravessar a decrépita fachada e alcançar alguém no interior da residência, pois até o latido do cão só era ouvido após a segunda tentativa e durante a terceira salva de palmas. E somente após todas essas barreiras é que a cuidadora vinha ver e rece

PERUCA DE COBALTO

Descia pela rua adjacente. ‘Treze concursos públicos e nenhuma sorte’, pensava enquanto caminhava. Atravessou a rua a passo largo com sua peruca de cobalto, salto alto, mascando fumo, pisando forte, das atenções sendo alvo, desdenhando dos olhares com ares de deboche. Ganhou a avenida principal da pequena cidade esquecida no tempo, guardada no passado, de hábitos e costumes ultrapassados. Contou sete pessoas dentro de uma kombi amarela parada no cruzamento e que, de repente, começou a soltar fumaça pelas janelas e pelo escapamento. Estaria o motor fundindo ou estaria fundido o motor? A kombi não se movia, apenas tremulava. Nas mesas dos bares, pessoas teciam conversas intermináveis entre um gole e outro de bebidas inesgotáveis. Senhores idosos acompanhados de moçoilas casadoiras riam da própria sorte que o dinheiro comprou entre talagadas de Martini e baforadas de fumaça feito dragões de komodo com suas línguas venenosas. Alguém toca um rock em alguma porta distante. É Pink Floyd. O

AGDA E OS MENINOS SEM ROSTO

Não era toda noite que ela saia na noite com um traje com ares melancólicos como o qual ela escolheu para aquele encontro de amigos após a aula. Geralmente escolhia uma roupa leve, colorida e alegre, e levava alguns acessórios e a maquiagem dentro da bolsa para só depois da última aula ir ao banheiro arrumar-se. Estava cansada do dia de trabalho enfadonho e das pequenas tramas e intrigas de certa colega da empresa, uma com quem dividia a mesma sala. Enjoada do sacolejo do ônibus. Impressionada com meninos que se atiravam do piso alto de um restaurante para a rua como forma de fuga ou diversão. É claro que aquilo poderia dar errado, resultar em um pé quebrado, traumas na coluna, dores difusas, lesões articulares. “Eram uns meninos negros e de cabeça raspada, todos mal nutridos e não tinham mais que doze anos cada. Vi quando um se jogou após ser empurrado pelo qual certamente seria o líder e idealizador da farra. Em seguida, o suposto líder empurrava outro que ia meio desesperado, rel