Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de agosto, 2013

CONFISSÕES À VALENTINA # 02

Estando todos conformemente instalados em nossa sala, fora introduzido um quarto elemento para compor o grupo. Januário, o aspirante a chefe de setor foi apresentado aos colegas, incluindo o narrador que vos fala, no mesmo dia em que me dei ao desfrute de ostentar a flor sobre minha mesa. Foi antipatia à primeira vista. Januário estava para a flor com o mesmo desagrado que a flor estava para Januário. Não sou de formular conceitos prévios ao tempo necessário para se conhecer devidamente uma nova pessoa que vem conviver comigo, seja em ambiente de trabalho ou outro qualquer. Ao menos conscientemente não o faço. Contudo, independentemente da opinião de Valentina, notei que Januário tinha algo que não me agradava logo da ocasião na qual fomos apresentados. As semanas foram passando e à medida que a flor confirmava sua natureza otimista e alegre Januário provava sua disposição contrária. Numa ocasião em que consultei os colegas quanto à permanência ou não da flor em nossa sala,

CONFISSÕES À VALENTINA # 01

Percebendo que Valentina perdia flores a uma proporção maior do que as concebia, achei por bem deixá-la a semana inteira sem visitar minha sala; postada sobre a mesa da varanda que serve de entrada aos funcionários. Ela até que ficou bem. Ainda conserva duas flores no ápice de seu frágil e recurvado caule. Acredito que sua florada esteja chegando ao final, porém, como nada sei sobre a planta, aguardarei o desfeche de seu ciclo. Todos os dias eu a vi ali, parada sobre a mesa, impassível, embora doce e meiga. Passei por ela, no entanto jamais falei com a flor nos momentos em que havia alguém presente. Acho estranho e acho que também causaria estranheza aos que nos vissem conversando. Ela não disse palavra durante a semana que passou. Eu até acariciei suas pétalas e folhas sempre que pude, banhei-a sob a torneira do tanque e ofereci algumas poucas horas sob o sol do final das manhãs no terraço. Ao todo foram dois banhos que lhe dei. Tento não ser ausente, mas o trabalho não p

VALENTINA, A ORQUÍDEA # 03

Não sei como aconteceu e nem por onde ela emitiu o som de sua voz fina e esganiçada. Só sei que finalmente Valentina decidiu falar. Era uma ensolarada manhã de inverno onde, na rua, lufada após lufada, o vento espalhava a poeira por toda a cidade. No interior da empresa, estávamos na sala que divido com meus colegas Amélio e Rivaldo. Ouvi bem quando ela, assentada ao lado de meu monitor, agradeceu-me por seu nome e começou a falar como se estivesse guardando tudo há tempos. Excitada, disse que em casa de seu antigo dono ela não tinha um nome, e que não ter nome ia contra sua base e princípios cristãos, e que morava sobre um piano, e que coisas estranhas aconteciam naquela residência de niilistas. Ela falou também que não gosta do sereno da madrugada, que sente frio e que amanhece ensopada. Foi o que aconteceu quando a deixei a céu aberto de terça para quarta para passar a noite ao relento. Ela afirmou que detestou, e que foi um grande erro que cometi, mais um de uma série. Fique

VALENTINA, A ORQUÍDEA # 02

Confesso que de início não dediquei à Valentina a devida atenção. Em parte por uma grande turbulência pela qual passava minha vida naquele momento e em outra parte por não ter o hábito de dar atenção às flores em momento algum. Mas eu quis levá-la para casa no mesmo dia em que a recebi, porém só não levei Valentina e a colei em minha goiabeira naquela mesma tarde por uma questão logística. Estava de carro, o carro estacionado ao sol estaria quente como uma fornalha; e a flor não resistiria acompanhar-me enquanto percorresse algumas distâncias dentro da cidade e realizasse ainda três atendimentos. O jeito foi deixar a planta sobre minha mesa e cuidar de tudo que era muito mais urgente na ocasião. Deixei-a e parti. Ela até que ficou bem. Cheguei no dia seguinte e ela estava lá. Parada. No mesmo lugar em que a deixei. As pessoas elogiavam a beleza de Valentina. A bem da verdade, não houve quem ficasse indiferente ao seu encanto. Alguns disseram que a queriam levar embora. Eu apenas sor