“No final do mês,...” “De qual mês?” “O mês que finda, este.” “Ah.” “Posso continuar?” “Sim, por favor.” “Pois bem, no final deste mês, a nossa editora começa a reedição dos melhores e mais importantes textos dele.” “E como se elege os melhores e mais importantes textos de alguém?” “Tem certeza de querer mesmo sustentar esta pergunta? Não lhe parece óbvio?” “Não. Não me parece.” “Pesquisa, oras. Através de pesquisa é que se chega aos textos de maior relevância de um autor durante sua vida produtiva.” “Mas e se ele, por ventura, se ainda estivesse vivo, descordasse dos textos eleitos?” “Como saber? Eu sei lá! Você tem cada pergunta. Ele que proteste então das profundezas ou das alturas.”
Enquanto os homens de negócios discutem o destino do autor finado, eu falo das coisas mais imediatas, das coisas mais corriqueiras. Eu conhecia o autor e gostaria de agora registrar um ultimo relato. Algo bem simples e pitoresco, bem ao meu estilo. Fato é que, em determinado momento de sua vida, tomou muita cachaça, é verdade. Mas a pinga ele só consumiu durante os anos em que dispunha de vigor físico e disposição à embriaguez. Para grande surpresa dos familiares, abandonou o hábito do consumo da maldita sem o menor estardalhaço. Nunca foi um bebum de fato. Bebeu durante algum tempo mais pelo costume do consumo do que pelo prazer que a bebida lhe proporcionava. Mais tarde, porém, resignou-se ao consumo do tabaco por único vício. Dizia que o cigarro era seu companheiro das horas mortas. Por fim, eram enormes os prejuízos que seu amigo fumo havia lhe causado. Para locomover-se dentro de sua própria casa, era um custo; tudo que fazia o deixava arfante, exausto. Tinha então que deitar-se e inalar oxigênio do cilindro à cabeceira de sua cama por várias vezes ao longo do dia para realizar as pequenas tarefas das quais se ocupou até não ter mais como levantar-se da cama.
Foi uma espécie de herói sem grandes livros, textos e ou façanhas. Viveu uma vida comum e sucumbiu sem alterar o andamento das coisas cotidianas nas imediações de sua casa, as coisas da ordem do dia seguiram como se sua morte fosse um evento corriqueiro. Verdade é que, apenas a família o pranteou. Os amigos, como normalmente ocorre com todos que passam dos oitenta, em sua maioria já haviam expirado, e os poucos que ainda restavam já estavam maduros demais para chorar pelo mal inevitável e único destino tido como cem por cento certo na vida de qualquer ser humano.
Da última vez que o vi com vida, a morte já estava sentada ao seu lado. Era um fim de tarde ordinário e ele observava o movimento dos trabalhadores que iam e retornavam diante sua casa, no banco de praça frio de concreto que ali os filhos instalaram justamente com a finalidade daquele desfrute contemplativo. Recebeu-me com sua alegria triste, com seus modos discretamente festivos e evidentemente melancólicos. Eu sabia que ele tinha prazer em me ver, mesmo assim não conseguia ficar muito tempo junto dele. É que a morte não nos deixava à vontade para conversar sobre a vida. O saudei sorrindo e ele respondeu com um muxoxo, mas sorriu. Perguntei o que ele fazia, então ele olhou disfarçadamente para o lado, de rabo de olho, soslaio, e, como que provocando a morte que estava sentada ao seu lado, também olhando os passantes, disse-me: “Esperando a vida.” Entendi a deixa. Era a rara manifestação de seu dom de ser cínico. Perguntei por todos da casa, estavam bem. Falamos do livro que ele, na verdade, apesar de sempre dizer estar trabalhando na obra, não havia escrito uma linha sequer. Ele disse que ia bem, carecendo de algumas modificações, mas bem. Conversamos mais um pouco sobre amenidades; até de futebol falamos. Então nos despedimos sem marcar um próximo encontro.
Dias depois, eu soube do fato. Em meio a uma devastadora crise de falta de ar, a morte pôs termo em suas histórias. Morreu no meio da madrugada. Sozinho no quarto. Com o cateter de oxigênio posicionado nas narinas e um cigarro entre os dedos consumido até o filtro. Foi encontrado pela manhã, pela esposa, que dormia no quarto ao lado, não sei por qual motivo.
Agora um editor acostumado a retirar seus provimentos dos mortos discute acerca da publicação de seus melhores textos com o seu chefe de oficina. Afinal, os homens vão e a indústria fica.
Bonito texto, nos faz refletir sobre nossa vida.
ResponderExcluirhttp://meuslivrosesonhos.blogspot.com.br/2013/03/blog-post.html
*Se puder fazer uma visita, ficarei feliz!
Os homens vão e a industria fica, perfeita colocação, gostei muito da sua página...
ResponderExcluirÓtimo texto, vou acompanhar a página.
ResponderExcluirExcelente texto! Faz-nos pensar...!
ResponderExcluirVeja este link, poderá interessar-lhe.
http://rainhadasinsonias.blogspot.pt/2013/03/campanha-de-incentivo-leitura.html
Jovita Capitão.
Gostei de seu blog,abraços!Maristela
ResponderExcluirObrigado por ter visitado e comentado no meu blog.Eu só posto os que mando,mas também recebo só que por falta de tempo ainda não postei todos.Não sou eu que escolho a quem envio os postais.No site:www.postcrossing.com ao fazer o registo ficamos com 5 moradas e conforme alguém recebe um nosso,podemos pedir outra morada.Quando nós registamos o postal de alguém,outra pessoa fica com a nossa morada.Abraço.
ResponderExcluirOlá, obrigada pela visita e comentário no Brasil do Bem, seja sempre bem-vindo! Seu texto é muito bom, e permite uma profunda reflexão.
ResponderExcluirGrande abraço,
Janeisa Tomás
Oi, poderia seguir por favor? http://lala-mh-ecologico.blogspot.com.br/ Beijos
ResponderExcluirOlá Tudo bem. Sou Ulisses Sebrian e sou escritor vim apresentar os meus livros . Basta dar um click no link para ler http://migre.me/dRVge
ResponderExcluirOu entre no blog http://truquedevida.blogspot.com.br/ e na a barra lateral tem a capa do livro só dar um click. Tem vários títulos e vários gêneros. Você vai gostar. Abraços. E sucesso
Perfeito caro Jef
ResponderExcluirOlá Jef, vim retribuir a visita, agradecer o comentário e tive uma grata surpresa: Esperando a vida. Gostei muito do blog. Voltarei. Um ótimo feriado pra ti. Paz e bem!
ResponderExcluirSerá sempre bem-vindo ao preteritosmatinais!
BOM DIA, ESTÁ É A MAIS PURA DAS VERDADES OS HOMENS VÃO E SEUS FEITOS FICAM ,ESCRITOS, DESENHADOS,COSTURADOS,PINTADOS ENFIM DE TODAS AS FORMAS NÃO SE LEVA NADA E O QUE OS OUTROS PUDEREM TIRAR PROVEITO O FARÃO.OBRIGADA PELA VISITA
ResponderExcluirParabéns pelo seu blog e obrigada por visitar o meu! Abraços
ResponderExcluirQuerido amigo, "muito obrigada" por tu visita a mi blog y tu gentil comentario. He leído, con bastante dificultad, tu triste historia sobre aquel hombre que murió tan solo y tan enfermo. Me dió pena no saber portuguez, porque aunque entendí el sentido completo, no pude disfrutar de tu estilo o de la poesía que tus palabras seguramente encierran. Me admira que tú hayas entendido mi cuento. Talvez sabes algo más de castellano que yo de tu idioma.
ResponderExcluirGracias por visitar mi blog. Vivo en Santiago de Chile. Lillian
E lá vem mais uma excepcional postagem!!
ResponderExcluirAmei....
bjsss
Excelente blog! Belo texto! Parabéns pelos 4 anos de história, que venham mais 4.000! Boa sorte!
ResponderExcluirEstou seguindo!
Abraço,
Jana Soggia
http://total-glam.blogspot.com
Adorei o texto, voltarei para ler outros. Parabéns!!!
ResponderExcluirOlá amigo, tudo bom?
ResponderExcluirEspero que sim!!
Fiquei muito feliz com sua visita lá no meu blog!
Volte sempre, serás sempre muito bem vindo!
Parabéns pelo post, adoreii!
Sucesso pra voce sempre!
Estou seguindo e
Voltarei mais vezes!
Tenha uma Páscoa abençoada!!
Parabéns pelo aniversário do blog.. abraços !
ResponderExcluirTa certíssimo Jeferson, MOVA-SE ! Tai a palavra pra felicidade e aquele sorriso estampado no rosto. Parabéns mais uma vez pelo blog!
ResponderExcluirBelo texto e parabéns pelo blog!!!Abraços!!
ResponderExcluir:)
Parabéns pelo blog e a também pela sua criatividade, bom texto!
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