Nos dias que seguiram, tudo era frio, poeira, sombras e mistérios. Sergey Fedosov encontrou-se no direito e liberdade de intensificar o espetáculo de seus horrores da mesquinhez. Fofocava à porta e nos vestíbulos, olhava de soslaio, empunhava caras de deboche, deleitava-se em mofas e chacotas de toda espécie. Bastava que Igor entrasse em algum vestíbulo onde o bedel já se achasse para que o mesmo desatasse a rir com quem ali estivesse como se falasse algo de graça extrema.
Igor só via motivos para trabalhar. E teve mesmo que trabalhar dobrado após o incidente das contas erradas. Enquanto todos os carregamentos eram descarregados na empresa por duplas ou trios de chapas, fosse a carga mais pesada que fosse, ninguém lhe vinha em auxílio; certo era que aquilo fosse por uma ordem do próprio Yuriy Tsarov. E Fedosov ficava a vigiar os outros para que ninguém se compadecesse da situação do isolado Igor. Se alguém se atrevesse a oferecer-lhe ajuda, imediatamente Fedosov repreendia o sujeito e lhe descompunha à frente de qualquer um dizendo que das próprias obrigações o bom samaritano não tratava, mas das coisas dos preguiçosos tinha pressa em se ocupar e que ‘este era caso de ir ter na sala do patrão, isso sim, se era!’
Logo o companheiro desistia de ir ao socorro do outro e voltava para funções mais leves e compartilhadas por muitos braços. Igor suava ao ponto de ter suas carnes trêmulas, tamanho era o esforço que despendia. Ao final do dia, fatigado e com dores por todo o corpo, eram críticas debochadas que recebia. Suportou tudo com a resignação de dos santos ou a dos condenados. Não tinha boca para defender-se de nada. Parecia fazer apenas trabalhar por expiação de seus pecados, que não deveriam ser poucos nem banais. Aquilo deixava Fedosov e o próprio Tsarov visivelmente incomodados.
A esperança de Igor era que, com o passar dos dias, aquela nuvem escura se dissipasse e suas cargas voltassem ao normal de sua rotina na firma. O que, por alguma razão oculta e obscura, nunca foi de fato tão leve ou pesada quanto a dos outros empregados, sendo sempre algo mais dura e ingrata.
Fedosov, diante do silêncio e resignação de Igor, imaginando que seus mexericos poderiam incomodar o subalterno, fazia questão de redobrar suas maledicências em presença do mesmo. O viúvo que morava na rua em frente à firma, por exemplo, e que todos os finais de tarde levava um husky siberiano branco na coleira para passear e aliviar-se de suas necessidades fisiológicas. Seria aquele um devasso de marca maior que não teria por objetivo outra coisa senão assediar àquela vizinha que ficava ao portão de sua casa na mesma calçada do libertino, no exato horário do passeio do husky, todas as tardes.
Fedosov saia um minuto à porta da firma e já retornava com novidades dos casos e novos casos para contar. Todos riam menos Igor que ia concentrado em suas tarefas que lhe exigiam até os ossos da alma. E o bedel, interpretando aquilo como uma reprovação de seus modos, fazia o possível para provar que todos a sua volta eram podres e ridículos, exceto o patrão. Então desfiava com outras histórias fantásticas sobre os personagens que encontrava e cultivava no dia. ‘Aquela viúva do portão não presta mesmo. É uma safada. Outro dia fora pega roubando pequenas bebidas no supermercado. O repositor de mercadorias, que por sinal é meu caçula, apenas se aproximou e disse a ela para que devolvesse à prateleira o que ela havia surrupiado. A ordinária corou, devolveu a garrafinha e nunca mais botou os pés lá naquela loja achando que seu segredo também ficaria naquela prateleira de bebidas. Agora fica aí fazendo pose de enlutada e contando vantagem dos filhos que seriam jóias da coroa. Jóias furtadas, isso sim! Só se for!’
Na última sexta de novembro, com seu ar pérfido usual, Fedosov aproximou-se de Igor e lhe comunicou que Yuriy Tsarov queria vê-lo em sua sala, sorriu seu sorriso cínico costumeiro e foi tomar lugar à mesa defronte ao gabinete do idolatrado patrão.
Bem, e só agora é que lhe aviso que este conto é parte do que postei anteriormente e leva a mesma foto, e que ainda terá a terceira e última parte na próxima postagem dentro dos próximos dias. Obrigado por sua leitura! Abraços russos!
Aguardando os próximos capítulos!
ResponderExcluirAbraço, Célia.
Aguardando pelo capítulo seguinte.
ResponderExcluirAté mais.
simplesmente fantástico.. nossa agora fiquei tão curiosa..quero saber do final ou a continuação.. li também a primeira parte..vc tem tanta riqueza de detalhes que quase vejo os personagens. senti as dores do Igor..todo o siofrimento que ele está passando..parabéns ..está magnífico.. ( ao chegar aqui vi o carro foi que liguei vc a pessoa do face) prazer enorme ter vc lá comigo.. beijão
ResponderExcluirOi,Jefh...Jeferson!
ResponderExcluirAmei sua odisséia em busca de Crime e Castigo, entendo perfeitamente sua angústia.Incrível, mas o efeito de ler
Dostoiévski é esse mesmo, ele vai nos chamando baixinho para a leitura e de repente, não mais que de repente estamos totalmente embriagados por suas linhas.
Olhe, fiquei feliz por achares o blog, ele é bem novinho, foi o primeiro comentário, nem sei como achaste.rss.Como deves ter lido, ele é da Sala de Leitura da qual sou responsável, sou professora de Literatura.Tenho um outro blog, mas ele anda esquecido por mim.
Quanto ao conto "onde a coisa está russa", realmente a coisa está russa nele.rss.Quase morri com a observação no final,agoniadííííííííssima para saber o que acontecerá com Igor.Escreve logo!!Agora você mexeu com uma leitora curiosíssima e faladora.rss
Querido muito obrigada por sua visita no blog da escola.
Abraço!
Salier Castro
Obrigada por visitar o La Vie En Rose =)
ResponderExcluirseu blog é demais!
Aguardo o próximo capítulo
Bisous bisous
M.
Olá,
ResponderExcluirAdorei a história.
E como parece clichê, esperamos pelo próximo capítulo ;)
Abraços!
Muito legal o seu blog! Bem diferente do que tenho visto por aí! Parabéns!
ResponderExcluirOlá Jefh, passando para retribuir a visita! Gostei muito! Voltarei sempre!!!
ResponderExcluirPArabéns!
(professorajuce.blogspot.com)
Adorei seu blog,muito bom mesmo.
ResponderExcluirGostaria de divulgar suas postagens no meu Portal?
É o Portal de Blogs Teia, um portal só de blogs,é rápido, fácil e grátis.
Espero você lá.
Até mais
Obrigada por participar do meu blog, mas como vc. observou é bem diferente do seu,gosto e preciso muito de vídeos, qdo tiver algum legal passa me envie. OKKKK.
ResponderExcluirSucesso.
É de histórias como a sua que precisamos. Meus parabéns! Aguardo o próximo capítulo.
ResponderExcluir;) retribuindo sua visita...parabéns pelos textos!
ResponderExcluirBjs!
Parabéns! Ótimos textos!
ResponderExcluirAguardando pela próxima parte!
ResponderExcluirObrigada pela visita,
Kamila
http://www.sereiasafogadas.com/
Olá.
ResponderExcluirPostagem divulgada no Portal Teia.
Fique a vontade para pedir divulgação quando quiser.
Até mais
Agradeço e alegro-me por ter gostado do "Fragmentos", Jefh! Você encontrou seu próprio ritmo nas palavras minhas, certeza.
ResponderExcluirAos poucos o leio também. Vagarosamente. Só para brincar um pouco com o tempo.
Os comentários meus em breve somarão aos demais [que são tantos] em teu blog.
Abraço!
Neta. Evenice Neta
Olá Jeferson, comecei por aqui.Conheci Fedosov( a coisa começaria a ficar russa por aqui):), Igor e seus belos escritos.Vou lá embaixo dar uma lida e voltarei mais vezes.
ResponderExcluirobrigada por sua gentil visita e seu comentário.
Um abraço,Jeferson. Parabéns!!!!!
Oi Jefh,
ResponderExcluirTudo bem? Li o anterior e sofro agora com o Igor. Muito bom.
Abraços,
Olá. Jefh!
ResponderExcluirObrigada pela visita e pelos elogios ao meu blog "Oficina da palavra".
Muito interessante suas histórias. Li as duas partes e estou ansiosa pelo final.
Abraços fraternos,
Florência Vieira
Olá, adorei sua história
ResponderExcluirquero saber o que acontece no final, fiquei ansiosa!
Parabéns :)
Bom dia, Jefh!!!! Muito feliz por estar aqui depois de um bom tempo rs. Muito obrigada, querido escritor por visitar e comentar em meu Blog rosachoqueeoutrascores.blogspot.com Sua visita é motivo de alegria e deixa luz através de suas palavras. Adorei seu Texto. Retornarei qualquer dia desses para ver o próximo. Você escreve com criatividade, sabedoria e inspiração, além de prender a atenção do leitor. Ótima semana para você, querido. Paz e bem! Bjs de luz e sorrisos.
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