Imediatamente, Igor Socolov depositou a caixa de bacalhau norueguês na pilha, lavou as mãos e os braços na pia do barracão e foi até a sala do patrão que o aguardava com o telefone colado junto ao ouvido, falando e gesticulando. Tsarov fez um gesto breve com a mão esquerda direcionado ao rapaz para que este entrasse e outro ainda mais breve para que fechasse a porta atrás de si. Antes de fechá-la, foi possível ver Fedosov, o gerente bedel, sobressaltado, com o pescoço esticado e os olhos arregalados, a meio caminho para sua mesa postada diante à porta da sala do patrão. Tsarov, vendo que o empregado entrou porém não se sentou, fez outro gesto curto para que ele se sentasse e continuou ao telefone.
Falava de uma carne seca. Dizia que a carne seca estava toda bichada e que não haveria como aproveitá-la de modo algum. Fazia uma pausa como que para ouvir seu interlocutor e repetia toda a história da carne seca que ficara exposta e teria contraído larvas. ‘Dimitri, a carne seca está podre. Tá que é só bicho, meu amigo. Só jogando fora mesmo. Se quiser eu deixo num canto do depósito pra que você veja na próxima semana, mas tá nojento. Podre e que é só bicho!’ Dizia e ria um riso solto de ar maléfico como se encontrasse prazer no prejuízo de seu fornecedor.
Tsarov não evoluía no dialogo ao telefone e, ao mesmo tempo, tinha o funcionário diante de si ao seu dispor. Ora ouvia o homem do outro lado da ligação, ora repetia seu enredo pobre e previsível. Igor, em princípio, escolheu um canto da sala e fixou nele seus olhos imóveis enquanto inevitavelmente ouvia à conversa do patrão. Algum tempo seguinte, perscrutava toda a mesa do chefe com seus olhos mansos, as mãos entrelaçadas no colo, as pernas cruzadas na altura das tíbias. Os segundos de espera foram ficando longos. Transformaram-se em enormes minutos. Isso fez com que o rapaz balançasse os pés em intervalos regulares.
Não sabia o que o patrão teria a tratar com ele, mas o ar sombrio com que fora convocado por Fedosov não o deixou otimista, nem muito pessimista. Não era dotado de uma natureza pessimista. Além do quê, era costume de Fedosov agir de maneira sombria a fim de deixar a todos apreensivos por qualquer assunto relacionado ao patrão. Todos na empresa conheciam o caráter mesquinho e malicioso do bedel, que era sempre o primeiro a noticiar a má sorte alheia, e fazia com nítido gosto. Dizia que este ou aquele havia se danado e acrescentava ao final um ‘coitado!’ sarcástico acompanhado de um sorrisinho jocoso.
Num dado momento, a conversa sobre carne seca bichada destravou e enveredou por frangos de granja congelados e carne bovina embalada à cryovac. Yuriy Tsarov revelava seus planos para o futuro da empresa ao seu interlocutor e se empolgava com a conversa como se o funcionário, àquela altura, tivesse ingerido um poderoso chá de invisibilidade. ‘Dimitri, eu estou te falando, rapaz, é o futuro! Farei uma câmera fria! É o futuro, Dimitri!’
Igor já havia visto tudo que os seus olhos podiam alcançar ali dentro do recinto patronal por mais de cinco vezes. Já não tinha mais para onde olhar. Transcendeu. Foi até sua casa e encontrou as bochechas rosadas e o lindo sorriso de Ekaterína, grávida de trinta e quatro semanas. Cheirou seus perfumados cabelos longos, ondulados, dourados. Passou a mão sobre o ventre da esposa e fora puxado num repelão para de volta à sala do patrão que batia com o telefone na base e recolhia o sorriso úmido por entre os dentes amarelos.
Devo informar que as postagens anteriores são partes deste mesmo conto e que a parte final ainda está por vir. Obrigado por sua leitura! Um grande abraço!
Falava de uma carne seca. Dizia que a carne seca estava toda bichada e que não haveria como aproveitá-la de modo algum. Fazia uma pausa como que para ouvir seu interlocutor e repetia toda a história da carne seca que ficara exposta e teria contraído larvas. ‘Dimitri, a carne seca está podre. Tá que é só bicho, meu amigo. Só jogando fora mesmo. Se quiser eu deixo num canto do depósito pra que você veja na próxima semana, mas tá nojento. Podre e que é só bicho!’ Dizia e ria um riso solto de ar maléfico como se encontrasse prazer no prejuízo de seu fornecedor.
Tsarov não evoluía no dialogo ao telefone e, ao mesmo tempo, tinha o funcionário diante de si ao seu dispor. Ora ouvia o homem do outro lado da ligação, ora repetia seu enredo pobre e previsível. Igor, em princípio, escolheu um canto da sala e fixou nele seus olhos imóveis enquanto inevitavelmente ouvia à conversa do patrão. Algum tempo seguinte, perscrutava toda a mesa do chefe com seus olhos mansos, as mãos entrelaçadas no colo, as pernas cruzadas na altura das tíbias. Os segundos de espera foram ficando longos. Transformaram-se em enormes minutos. Isso fez com que o rapaz balançasse os pés em intervalos regulares.
Não sabia o que o patrão teria a tratar com ele, mas o ar sombrio com que fora convocado por Fedosov não o deixou otimista, nem muito pessimista. Não era dotado de uma natureza pessimista. Além do quê, era costume de Fedosov agir de maneira sombria a fim de deixar a todos apreensivos por qualquer assunto relacionado ao patrão. Todos na empresa conheciam o caráter mesquinho e malicioso do bedel, que era sempre o primeiro a noticiar a má sorte alheia, e fazia com nítido gosto. Dizia que este ou aquele havia se danado e acrescentava ao final um ‘coitado!’ sarcástico acompanhado de um sorrisinho jocoso.
Num dado momento, a conversa sobre carne seca bichada destravou e enveredou por frangos de granja congelados e carne bovina embalada à cryovac. Yuriy Tsarov revelava seus planos para o futuro da empresa ao seu interlocutor e se empolgava com a conversa como se o funcionário, àquela altura, tivesse ingerido um poderoso chá de invisibilidade. ‘Dimitri, eu estou te falando, rapaz, é o futuro! Farei uma câmera fria! É o futuro, Dimitri!’
Igor já havia visto tudo que os seus olhos podiam alcançar ali dentro do recinto patronal por mais de cinco vezes. Já não tinha mais para onde olhar. Transcendeu. Foi até sua casa e encontrou as bochechas rosadas e o lindo sorriso de Ekaterína, grávida de trinta e quatro semanas. Cheirou seus perfumados cabelos longos, ondulados, dourados. Passou a mão sobre o ventre da esposa e fora puxado num repelão para de volta à sala do patrão que batia com o telefone na base e recolhia o sorriso úmido por entre os dentes amarelos.
Devo informar que as postagens anteriores são partes deste mesmo conto e que a parte final ainda está por vir. Obrigado por sua leitura! Um grande abraço!
Simplesmente delicioso! É assim que posso descrever suas crônicas, marcadas pela criatividade e sensibilidade. Obrigada, Jefh, pelo gentil comentário. Sempre que quiser, pergunte. Estarei pronta a servir. Um grande abraço e sucesso!
ResponderExcluirOlá Jefh!!! Muito interessante o seu Blog, fiquei encantada!!! *__*
ResponderExcluirObrigada pelo contato, estou aprendendo esse mundo Blogger ainda, e vou coloca seu blog na minha lista, acomanharei seu conto, fiquei curiosa...
;)
Olá Jeferson, vim retribuir a gentileza da visita e o teu comentário no meu cantinho. Achei interessante a crônica, começando pelo título, sugestivo e curioso...voltarei para ler o final.
ResponderExcluirTeu blog é muito legal! Parabéns pelas premiações!!!
Sucesso e felicidades!
interessante... agora to curiosa!
ResponderExcluirBom dia, Jeferson!
ResponderExcluirObrigada pelo comentário!Fico feliz de estar tendo a oportunidade de visitar seu blog, lendo essa história que nos prende a atenção, até mesmo, por mostrar a relação entre patrão x trabalhador desrespeitosa, o que de fato acontece atualmente em muitos casos, além de outros pontos sobre as relações sociais, muito interessante... Estarei atenta a sequência!!!
Abraços!
Bom dia, Jeferson!
ResponderExcluirObrigada pela visita e fico muito feliz por está tendo a oportunidade de conhecer seu blog. Ler essa história que revela a relação patrão X trabalhador desrespeitosa e, que de uma forma sutil traça outros pontos das relações sociais dentro da nossa realidade, é muito interessante! Estarei atenta a sequência...
Abraços!!!
Olá Jeferson!
ResponderExcluirRetribuindo a visita... E conhecendo seu criativo recanto.
O Drink POesia & Cabana de Versos estão de braços abertos.
abç
.
LiZa
Olá, amigo Jeferson!
ResponderExcluirVim retribuir seu carinho e visita.
Estou a te seguir e te aguardo como meu seguidor tbm!!
Amei seu blog e crônica.
Deus te abençoe.
o meu deuss agora fikei curiosaaa aff kkkk vou ser oobrigada a voltar aki hein... gostei
ResponderExcluir!!!
vejo que você é um escritor. Que surpresa agradável! Obrigada pela oportunidade de conhecê-lo.
ResponderExcluirRoendo-me de curiosidade para ver o que vai acontecer ao caro Igor , por quem já tenho estima .
ResponderExcluirAbraços , Jefferson , que também já é estimado (:
Gostei muito do seu conto. Voltarei para continuar a leitura.
ResponderExcluirAbraços
Hummmm interessante... amo esses detalhes de expressões e comportamentos. A observação é o que há de mais poético, rs
ResponderExcluirGostei, é curioso e viciante!
Tá aí meu comentário!
A carne seca estava feia mesmo. Isso deu pra ouvir.
ResponderExcluirGostei do seu blog, o conto é muito interessante e cheio de riquezas verbais, quero acompanhar o desfecho. Abraços!
ResponderExcluirGostei muito do conto e destaco o momento em que ele 'transcendeu' rs,é uma ótima escapada daquilo que nos aborrece,
ResponderExcluirespero voltar , nem sempre o tempo coopera,
deixo abraços e agradeço a presença
Fiquei curiosíssima :)
ResponderExcluirÓtima crônica.
Beijos
Brubs
Estou retribuindo tua visita ao "escola". Se não és um escritor de carreira em breve poderás sê-lo. O conto é muito interessante, voltarei para ver o desfecho. Abraço!
ResponderExcluirSonia
P.S. Tenho um outro blog http://www. mattiva.blogspot.com se despertar teu interesse acesse,vou apreciar tua visita.
Les visito de El Salvador Centroamerica,desde mi blog www.creeenjesusyserassalvo.blogspot.com
ResponderExcluirCOMPARTO MI TESTIMONIO PARA LA GLORIA DE DIOS.
RECIBAN MUCHISIMAS BENDICIONES DE NUESTRO PADRE CELESTIAL
Parabéns Jeferson, pelo aniversário hoje do teu Blog. Te desejo muito sucesso. Abraço.
ResponderExcluirParabéns Jef, pelo aniversário do blog e pela visita que fizeste ao meu. Parabéns também pelo conto, voltarei para ler o desfecho. Abraços
ResponderExcluirOLá Jeferson!
ResponderExcluirBoa tarde amigo!
Meus parabéns pelo aniversário do seu Blog!
Muito belo e bem elaborado!
Aplausos também para este conto marvilhoso!
Prendeu a minha atenção, você escreve muito bem!
Vim retribuir a visita ao meu Blog!
Muitíssimo obrigado!
Um grande abraço!
não é um conto, né? É praticamente um livro
ResponderExcluir:-)
Muitooo bom! Parabéns pelo excelente trabalho.
ResponderExcluirSe puder e dar sua opinião nos meus pequenos ficarei muito honrada!
http://www.entreeoucaminhaspalavras.blogspot.com
http://www.cartasparaantonio.blogspot.com
Jeffffff!!!!!!!!!!!!! Que delícia vir aqui!
ResponderExcluirPrimeiro, porque você persistiu e difundiu seu talento para escrever. Quem disse que é preciso escrever um livro para ser feliz?...Escreve-se e basta. Nossa alma agradece.
Você é impar. Que maravilha tantos amigos... ( a pequena cidade onde eu nasci, bem perto da sua, tem pouco mais que isso de habitantes...rsrsrs).
Parabéns, parabéns, parabéns! Continue.
Feliz por você e por mim que o conheci.
Muitos beijos.
Em tempo...não faltarei. Estarei presente na festa do blog e em todas as outras.
ResponderExcluirmais beijo.