A crônica vigente me permite dizer, sem revelar nomes e ou lugares, que todos os que viviam naquele apartamento conviviam mormente com as pulgas. Diziam que as pulgas eram da cadela Brama. A cadela tinha uma vasta pelagem preta e coçava-se quase que o tempo inteiro, e com o desespero dos atormentados, completamente entregue à aflição.
Na sala, quando recebiam alguém, um fato raro, a cachorra chegava malemolente com seu rabo flácido pendendo de um lado a outro como um grosso visco preto. Olhava quem ali adentrava com seu olhar lânguido, súplice, castanho e tristonho de vira latas. Sentava-se ao pé do visitante e, no momento seguinte, começava seu espontâneo espetáculo a morder-se em desespero progressivo e fremente. Sôfrega e infausta, a cadela mordia-se, gemia, chorava e rosnava em extraordinária contorção vertebral. Propositalmente, procurava encostar-se à perna do visitante para ter um ponto de apoio e assim melhor coçar-se.
Ninguém comentava, mas era patente que a pessoa no sofá lutava para conter, a grande custo, o desejo de rebolar e o impulso de coçar evitando assim com imensa dificuldade os gritantes movimentos involuntários que pediam libertação. Cacoetes e tiques dos mais variados emergiam das profundas e remotas fases da vida da pessoa.
O visitante torcia quase que em desespero para que a anfitriã, por um único instante que fosse, desviasse o olhar a fim de cravar as unhas na própria carne para reprimir o parasita que já se refestelava à grande na novidade quente e caudalosa que ali fora ter por uma má sorte do dia.
Podia ser qualquer o motivo da visita ou a pessoa que visitava, a melancolia daquele recinto era contagiante e profunda. O assunto arrastava-se e misturava-se ás sombras das paredes. Nas frestas dos tacos do piso, aguardavam entrincheirados os insetos famintos à espera da vez de alimentar-se. A pesada atmosfera daquele apartamento de imigrantes açorianos ou trasmontanos impunha-se a todo e qualquer que ali fincasse os desafortunados pés por mais que cinco longos e angustiantes minutos.
Quanto mais informado e culto era o visitante, maior seria o terror. Perder poucas gotículas de sangue drenadas direto dos capilares não era o pior dos males, pior seria pensar que aquilo poderia ocasionar tifo ou até mesmo uma peste bubônica.
Aos íntimos, quando os moradores do local eram questionados sobre a espécie vampírica ali abundando em volume e proporção de praga egípcia, diziam que era por conta da cadela Brama, mesmo muitos anos após a morte da infeliz.
Jefh,
ResponderExcluirTudo bem? Excelente texto! Penso que é fácil jogar a culpa para o tapete ou fingir que o real não existe.
Lu
Olá!Parabéns pelo blog ele é realmente incrível.
ResponderExcluirAmei sei texto tb, o que mim fez refletir sobre as mazelas do cotidiano, que se passa diante dos nossos olhos e fingimos não ver, por não termos a devida coragem de tomar um posicionamento, e assim julgamos os outros como se tivéssemos feito alguma coisa, quando na verdade deveríamos ter tomado alguma atitude e não a tomamos.
Oi Jefh, bom dia!
ResponderExcluirBelo post!
É... conviver com "pulgas" é difícil pra cachorro, né?;-)
Abração
Jan
Boa tarde, Jeferson. Conheci você no blog da Severa e vim agradecer o elogio e conhecer o teu blog.
ResponderExcluirComo vi que o conteúdo é extenso, volto com mais calma para ler e postar meu comentário.
Fique na paz!
Boa tarde Jefh!!!
ResponderExcluirEstava com saudades de passar por aqui e dar meus pitacos. Hoje tirei um tempinho e ao ler seu texto me deu uma coceira. kkkkkkk #Brinks, fiz foi me lembrar da casa de umas vizinhas em São Paulo, lá são vários gatos, cachorros, passarinhos, tartaruga, papagaio. #fato. Se isso acontecer algum dia comigo falo logo, credo em cruz. kkkkkkkkkkkkkkkk
Tenha dias felizes...
Abraços da Bia!!!
http://pequenosgrandespensantes.blogspot.com.br/
Mesmo com a ausência da cadela os vampirinhos continuam em ação: sei disso porque já vi algo semelhante em casa de parente.O jeito foi chamar um dedetizador, profissional, já que a limpeza doméstica não funcionava. Gostei do seu comentário sobre o vídeo da minha gata amassando pão com as quatro patas.
ResponderExcluirgostaria que você lesse a minha novela em 4 capítulos da Secretaria: é de estarrecer! psicologamarina.blogspot.com.br
Olá!Boa tarde!
ResponderExcluirJefh...
Tudo bem?
Bela crônica...gostei!
...todos que passaram por aquele sofá não administraram. Fingiram que ela, as pulgas, não existiam. Não pensavam nela. Não as enfrentavam. Fingir é sempre melhor e dói menos, e principalmente quando somos "parasitas", ou seja, vivemos à custa de outros...
Obrigado pela visita!
Boa semana!
Abraços
Adoro a leveza dos seus textos.
ResponderExcluirParabéns.
Você escreve muito bem! Parabéns!
ResponderExcluirRetribuindo a visita em meu blog http://www.daniela-meucantinholiterario.blogspot.com/
Abraços!
Olá!
ResponderExcluirPrazer...parabéns pelo talento!!
Bjos
Olá Jeferson,
ResponderExcluirObrigada pela visita! Sensacioanal, parabéns!!
Olá Jeferson,
ResponderExcluirPreciso rir, rsrs!! Risos e mais risos...
Espetacular, um desfecho maravilhoso (aplausos!).
Enigma.
jefh,
ResponderExcluirPassei para agradecer a visita ao blog e confesso que amei o texto acima, ele me fez lembrar que a história da crônica é mais comum do que parece. Eu conheço pessoas e lugares idênticos ao descrito por você neste texto.
Parabéns por transcrever o que vê e sente, com tanta maestria.
Um grande abraço.
Excelente, Jeffhão, sempre se superando com seus contos...me divirto!!
ResponderExcluirAbração!
Olá Jeferson, passei para retribuir a visita e gostei muito do que encontrei por aqui viu. Parabéns pelos seus textos. Voltarei sempre...
ResponderExcluirAbraços ;)
Perto de um cadelinha dessas que eu não ia querer ficar..rsrs.
ResponderExcluirBeijos!
Tudo muito lindo o que escreve... doçura, farpas, contra senso,delirios... algumas certezas...mistérios insondáveis de uma escrita visceral... um beijo grande pra ti
ResponderExcluirRetribuindo a visita no meu blog..
ResponderExcluirinteressante o texto, muito bom para refletir!
É vc quem escreve???
Se for meus parabéns!!!!
bjoo
Parabéns é alguém inquieto e buscador! Não precisa entender dos astros e sim de seu Coração: Percebeu estarmos na transição e a nossa mudança de ponto de vista nos leva a perceber o mundo Maya de ilusão em que vivemos. Como estamos num final de Ciclo e os astros e movimentos dos vulcões e da Terra nos mostram. É melhor voltarmos para as nossas origens onde tínhamos contato com a Espiritualidade Maior! um grande abraço!
ResponderExcluirTudo Bem Jeferson?
ResponderExcluirObrigada por ler os meus textos, e muito mas obrigada pelos os elogios...
Você também está de parabéns Lindo.
Beijos
Que texto perfeito.
ResponderExcluirparabéns
Boa semana
bjs
Que bom ter recebido o seu convite para conhecer Brama. Quantos de nós não deixamos pragas se aninhar em nossa vida e culpamos alguém por isso? Tão pungente e tão real... faltou pouco para eu me coçar também.
ResponderExcluirObrigada pela visita e continue aparecendo.
Olá JEFH, passando para lhe agradecer pela visitinha no meu blog....
ResponderExcluirAH, adorei o texto OS DOZE ZUMBIS & A CADELA BRAMA, sorri bastante e fiquei com dó da cadela... :)
Seu blog é mito dinâmico e criativo parabéns pelas publicações. SUCESSO!!
FORTE ABRAÇO!!!
Olá jeferson, vim retribuir a visita.
ResponderExcluirParabéns pelo site!
Bjs
http://meuhobbyemaquiagem.blogspot.com.br
Olá Jeferson!
ResponderExcluirAgradeço e retribuo sua visitinha no meu blog http://criandocompartilhando.blogspot.com.br/
Obrigada tbm pela maravilhosa dica do CD.
Adorei a crônica...parabéns :)abraços!
Olá jefh,
ResponderExcluirQuando atualizar avisa: ) Já sei,,, vou ler de trás pra frente. Deixo um abraço amigo. Kiss!! Kiss!!
Enigma.
Angustiante [no mínimo]
ResponderExcluirOi Jeferson, boa noite!
ResponderExcluirParabéns pelo blog. Belo texto, achei incrível.
Abraços!
Incrivelmente real a situação contextuante do texto. Infelizmente, as pessoas continuam a jogar embaixo do tapete as razões, culpas ou mesmo as desculpas para não cortar o mal pela raiz.
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ResponderExcluirPois é meu caro Jeferson, onde tem cachorro e criança, gente
grande não faz nada! Anos atrás lá em casa, sumiam os ovos de uma bandeja. Minha mãe então colocou a bandeja de ovos numa prateleira alta do armário. Durante a noite certa vez, ouvimos um barulho de algo caindo, plaft, no chão. Minha mãe correu a tempo de ver a empregada com o rosto todo lambuzado de ovos. O cachorro dormia tranquilo no quintal da casa!
abs
Medo de bichos,realmente não sinto,mesmo porque,eles dividem espaços com a gente no dia a dia;o que sinto é um certo nojo por ratos,baratas,piolhos,pulgas,percevejos...Fora isso o que pouco importou no texto foi o assunto,prendeu-me a atenção o estilo,a forma com que foi descrito,muito interessante. Parabens,muito bom!Abraços,MAntunes.
ResponderExcluirRsrs muito bom mesmo! Quase nonsense.... Mas seria a bramidade da cadela a devoradora dos zumbis que tentei achar? Talvez ela fosse uma farao egípcia sendo devorada pelas pragas de uma nova existência .... Mistérios ...,
ResponderExcluirmuito obrigada por visitar meu blog,http://mariaamori24.blogspot.com ,Ele novo eu estou começando agora fique feliz por comentar.Seu blog bem legal.boa semana!
ResponderExcluirOlá, Jeferson!
ResponderExcluirLendo alguns de seus textos, e agora esse(ótimo como os outros),vamos conhecendo um pouco de você. Inteligência, grande poder de observação e descrição, humor.Imagino que deve ser uma pessoa de ótima convivência e um excelente papo.Obrigada por visitar meu blog. Volte sempre! Seus textos já me conquistaram e estarei sempre por aqui. Abraços
Estela
Conter-se, é o que me traz o texto. O olhar representativo e a doma da vontade. Meio Schopenhauer?
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