Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de fevereiro, 2010

O Diário de Bronson (04 - O Sorriso de Bronson)

E eis que amanheceu o quinto dia; mal dormido após uma noite de sono intermitente entrecortado por pesadelos diversos, sendo que um deles, mesmo estando acordado, ainda insistia em lhe assombrar. O sexto e sétimo dias foram algo mais tranqüilo de atravessar. Do sétimo para o oitavo dia, - dia do retorno a casa do médico - Bronson voltou a ter o mesmo pesadelo da noite que seguiu o terrível quarto dia da reeducação alimentar. Porém, ao amanhecer, Bronson estava bem disposto e decidiu ir a pé até a farmácia para pesar-se. Antes de subir à balança para avaliar o resultado, lembrou-se novamente de cenas do pesadelo e evitou olhar para o painel digital com seus números em vermelho sangue. Pensou por um instante. Tomou fôlego. E finalmente mirou o resultado. Bronson sorriu. Sim, Bronson sorria ao ver o resultado. Não era mais um obeso novato. Havia recuado para o universo amplo dos sobrepesos, onde já era veterano e bem familiarizado – se bem que estava a um passo da obesidade – mas viu-se n

O Diário de Bronson (03 - A Abstinência Alimentar de Bronson)

À tarde que seguiu àquele difícil almoço foi um período cruel para Bronson. Fazia muito calor e Bronson tinha muitos lugares para ir, e no sobe e desce do carro nem sempre havia sombra para estacionar; o que piorava a sensação térmica. O calor, a “fome”... Bronson sentiu a terrível vertigem da “abstinência alimentar”. Sentiu-se fraco. Oras, mas como estaria fraco se não passara duas horas que havia almoçado? Lembrou das vozes das velhas da família a dizerem: “coma menino, ou então vai ficar fraco, acabará com mal de simioto, com cara de macaco, menino”. “Maldito Mal de Simioto!” Pensou Bronson. E continuou pensando: “Que estupidez! Chamar desnutrição profunda de Mal de Simioto. Dissimulação para deixar moleque gordo, isso sim. No século passado tudo que era gordo era sadio; ainda que o sujeito estivesse enfartando, sofrendo um derrame, ou cego por diabetes, diziam-no forte como um touro. Tanto que chamavam de forte por sinônimo de gordo. Maldito século passado!” Bronson pensava, remoia

O Diário de Bronson (02 - A Primeira Tentação de Bronson)

Quatro dias haviam passado com Bronson comendo a intervalos máximos de três horas e mínimos de duas e meia; comia metade dos lanches costumeiros; comia maçãs, mamões e pequenas fatias de melancia, por vez uma ameixa fresca, e tudo em pequenas quantidades; bebia mais água; fazia suas refeições em um delicado prato de sobremesa e não repetia jamais; quanto à sobremesa propriamente dita não repudiava, ainda que fosse um naco de qualquer doce ele provava; levava consigo durante o dia umas bolachas água e sal para os casos de urgência, como um surto de fome aguda no meio da rua; comia sopa no jantar, um único prato; e ceava uma fruta, ou duas torradas com um copo de chá “adoçantado”. Passava os dias relativamente bem. Recebia algumas visitas da fome, porém se controlava com os artifícios supracitados. Contudo, o quinto dia não seria nada fácil. Amanheceu faminto. Tomou seu café regular. Fez o lanche da manhã, um chá com três bolachas, tenso, até um pouco trêmulo e muito afoito; e ao sentar-

O Diário de Bronson (01 - Bronson Decide Emagrecer)

Para emagrecer é preciso mudar antes de tudo de atitude. E para mudar de atitude é preciso ser totalmente sincero consigo mesmo. Bronson possuía sinceridade o suficiente para abandonar os pensamentos “lipidinosos” e se entregar verdadeiramente ao rigor de uma reeducação alimentar, mas ainda buscava em si a atitude para tal. Pensou durante muito tempo no que seria a diferença entre ter vontade de emagrecer e ter vontade de ter vontade de emagrecer. Chegou à conclusão que sua vontade até então não era mais que uma simples vontade de ter vontade; logo, sem efeito. Ao fazer 36 anos teve que se deparar com a frustrante realidade de um homem que a cada dia caminha passo a passo rumo à obesidade. Com um metro e oitenta de altura, e pesando noventa e oito quilos e quinhentos e cinqüenta gramas, Bronson, apesar de gozar boa saúde, não estava em paz com sua forma física. Suas roupas lhe apertavam, seu abdome tornava-se cada vez mais globoso, seus rebordos abdominais se avolumavam e nos esportes

O Aparelho Digestório

Miniconto, microconto, ou nanoconto, segundo consta na Wikipédia, é uma espécie de conto muito pequeno, evidentemente diferente do que se chama “conto pequeno”. No microconto muito mais importante que mostrar é sugerir, deixando ao leitor a tarefa de “preencher” as lacunas narrativas e entender a história por trás do escrito.Certa vez me ocorreu um pensamento curioso. Não sei precisamente qual foi a razão pela qual me ocorreu aquela idéia, mas considerando que vivo uma rotina hospitalar não foi de todo absurda. Tomei nota e guardei no bolso de minha camisa. Talvez no futuro germinasse e me desse um texto. Isso às vezes ocorre. Tempos depois eu assistia a uma entrevista do escritor Marcelino Freire concedida a rede Cultura, e ali ele falava, entre outras coisas, da literatura curta, da literatura que se adéqua bem ao celular, ao Twitter e a essa nossa escassez insana de tempo.Na mesma entrevista Marcelino revelou que o mais famoso microconto do mundo pertence ao escritor guatemalteco Au

O Jardim da Morte

A Morte estava em seu imenso jardim a podar algumas roseiras, a aparar alguns arbustos, a arrancar algumas ervas daninhas, quando, bem ao auto da imensa estufa de jardinagem, veio o som do alto-falante a chamar-lhe para atender a uma ocorrência; e que ela sempre estava de plantão; vivia de plantão. Como em todas às vezes o chamado era urgente. Ela já sabia que aquilo ocorreria, estava de sobre aviso, e sua experiência profissional lhe permitia prever com certa antecedência o momento em que um cliente precisaria de seus serviços. Partiu veloz. Passou por toda parentela que se encontrava a porta do quarto hospitalar do pobre ancião agonizante. Colocou-se lado a lado com os que se encontravam junto do velho a beira do leito. Alguns a sentiram romper ao passar. Sentiram uma espécie calafrio que percorrera num segundo dos pés a cabeça, ou vice-versa. Outros dizem ter sentido algo estranho, como um mau presságio, uma coisa ruim ou algo assim. O fato é que ela veio. Se

Mas quem é esse Eric?

Amigo leitor, esta postagem vem a completar o sentido da anterior, onde eu falava, entre outras coisas, sobre Eric Arthur Blair, ou George Orwell. Nascido em 1903, na cidade de Motihari, em Bengala, região da Índia. De família inglesa, seu pai era funcionário do órgão da administração britânica para controle do comércio de ópio. Quando tinha quatro anos a família Blair (não sei qual seria o parentesco do escritor com as Bruxas do filme, até por que as Bruxas são de Blair, mas nada indica que também sejam da família do Tony Blair) retornou à Inglaterra, onde Orwell estudou em escolas tradicionais. Em 1922, entrou para a polícia colonial britânica, permanecendo na Birmânia até janeiro de 1928, quando pediu demissão. De volta à Europa optou por viver como um vagabundo, de certa maneira “expiando” a culpa de seu passado de gendarme (do francês arcaico, gente de armas; gens d’armes) colonial, como ele próprio sugeriu. Perambulou por Londres mendigando – você, amigo leitor, gostaria de peram

Quem é esse George?

Meu caro leitor, não farei segredo que é para você que hoje eu escrevo. Não ocultarei meu gosto em saber que você vem e lê meus escritos tão simplesinhos como são. Não estou ainda acostumado com essa dádiva que é ser apreciado pelos pensamentos. Isso ainda me maravilha. Meus últimos poemas não obtiveram o mesmo sucesso dos anteriores. Foram menos visualizados, menos comentados. Não tenho menos apego aos que vieram e prestigiaram-me. Por favor, de modo algum me interprete como um lunático que só valoriza os números, as quantidades. Nada disso. Vou muito distante destas mesquinharias disfarçadas de grandiosidade. Sou pela qualidade das relações, e não pelo montante. A verdade é que senti falta daquele grande numero de pessoas que vinham a visitar-me em meu blog todos os dias, senti falta de cada pessoa que não veio. É isso. Hoje venho com a intenção de resgatar o amigo leitor. Ofereço algo que considero precioso, pois revela um achado que pode lhe ser agradável, assim como foi para mim.

Cérebro e Coração

Ah, o coração! Tolo contrátil Treliça atrelada Prisioneiro da caixa torácica Olhe quem vem lá! E ele logo dispara Tolo Falto do controle das emoções Bomba boba bombeia, impulsiona, propele e escorva Trabalha para o cérebro que sonha Eis o cérebro que sonhaOh, celebre cérebro! Nobre cavaleiro Sentido e razão dos poetas verdadeirosLabirinto que leva a invenção e a perdição... Arma dos astutosIguaria impressa nos livros dos séculos e milênios Giros, Fendas E sulcos Coração e cérebro: Eqüino e cavaleiro Servo coração; Leve seu mestre ao destino Assuste-se, Incendeie, Mas a noz é quem decide Mais rápido que a pálpebra é o neuro impulso Cardíaco cervo, Rocinante das aventuras, Siga ao comando, Pois é meu servo, Coração, Sou eu teu cavaleiro andante.

Repetitivo Coração

Tum tuhm! Tum tuhm! Tum tuhm! Tum tuhm! Tum tuhm! Com tudo que tenho Com tudo que penso Com tudo que sou Que baste. Que baste. Que baste. Que baste. Que baste... Tum tuhm! Tum tuhm! Tum tuhm! Tum tuhm! Tum tuhm! Do pouco que tenho Do pouco que penso Do pouco que sou Que baste. Que baste. Que baste. Que baste. Que baste... Tum tuhm! Tum tuhm! Tum tuhm! Tum tuhm! Tum tuhm! O tudo que escrevo O tudo que sei O tudo que penso Que baste. Que baste. Que baste. Que baste. Que baste... Tum tuhm! Tum tuhm! Tum tuhm! Tum tuhm! Tum tuhm! O pouco que escrevo O pouco que sei O pouco que penso Que baste. Que baste. Que baste. Que baste. Que baste. Tuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu... fim.