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Mostrando postagens de 2010

DOIS ANOS DE BLOGAGEM

Vinícius de Moraes disse certa vez em uma crônica (O exercício da crônica): “O ideal para um cronista é ter sempre uma ou duas crônicas adiantadas... Mas se ele é um verdadeiro cronista, um cronista que se preza, ao fim de duas semanas estará gastando a metade do seu ordenado em mandar sua crônica de taxi...” Então, finalmente decidi começar o meu último texto do ano. Uma crônica no último dia de mais um ano que termina, e, coincidentemente, o meu blog completa dois anos amanhã, dia primeiro. São mais de duzentos textos e fotos de minha autoria.Tenho imenso prazer em ver o curso deste trabalho. E quem é blogueiro sabe, dá trabalho... Mas é um trabalho muito prazeroso. É o momento em que um sujeito comum, como eu, sente-se um artista. Durante este que foi o meu segundo ano de blogagem, procurei por todos os meios disponíveis desenvolver a minha escrita. Fiz leituras com a máxima atenção ao estilo dos autores. Li jornais, colunistas, revistas. Assisti à televisão com olhar crítico e aten

CONSUMISMO

Faz tempo que a violência do consumismo chegou até mim. O meu amigo levou um tiro. Ficou paraplégico. Mas antes havia enlouquecido. Decidiu ser bandido. Invadiu casas vazias e roubou bens de consumo, porcarias. Maldito consumismo! Ele sim foi consumido por toda essa porcaria. (Enjoy The Silence – Depeche Mode) Era filho de família humilde. Tinha tudo. Era até sócio do melhor clube da cidade... Poderia ter feito faculdade. E nunca precisou trabalhar. Seu pai lhe bancava com modéstia, mas em tudo que realmente precisava. Seu pai era operário. Sua mãe costurava para fora. Morava em casa própria. Sem luxo, tinha uma vida tranqüila. Na adolescência ele roubava era a atenção nas festas do clube. Era ele quem lançava os passos de dança que acabavam de surgir. (Blue Monday – New Order) No serviço militar obrigatório era um cara que agradava a todos. Presença certa nos churrascos, alegria nas guardas, um bom camarada. Dono de um sorriso largo. Sorria fácil. O cara também fazia sucesso com as g

UM CONTO NATALINO

Três palhaços cabeludos e magros saltaram do opala preto de vidros escurecidos por película, quando três crianças também magras subiam a rua íngreme da creche Lar Abílio de Souza. Os palhaços já estavam prontos para o espetáculo que abrangia números circenses, tais como malabarismos, acrobacias e palhaçadas, é claro. Pararam por um instante para terminar um cigarro que dividiam. Olharam de relance para as crianças que chegavam diante do portão da secretaria da instituição e foram ter com a diretora, que lhes fez o pagamento adiantado. Coisa pouca. Cachê minguado. Algo que certamente consumiriam em algumas cervejas na noite que sucederia à manhã do espetáculo. O carro da empresa de bens alimentícios Flábio Brasil Ltda. estacionou logo atrás do opala dos palhaços. Trazia alguns brinquedos e alguns doces, os quais seriam entregues pelos funcionários colaboradores do projeto Natal Melhor. Algo que a empresa praticava como parte de uma política de assistência e melhoria da qualidade de vida

A INFELIZ PROCURA POR UMA RACHADURA

Ensimesmado, como diria Machado, ensimesmado ele ia ao encontro do nada. Era um sujeito nem gordo nem magro, nem cabeludo nem calvo, nem alto nem baixo. Era jovem, bastante jovem. Prestes a completar dezenove anos de idade. Olhou para a pintura que há muito estava fixada na parede que recebia de frente quem subisse o primeiro lance de escadas. Uma pintura estranha, diga-se. Não era apenas paisagem. Não era figura nítida de um ser, nem de pessoa. Não era pintura abstrata, mas dava margem a interpretações várias. Uns diziam que era um cachorro vira latas, outros uma onça parda, havia ainda quem dissesse ser um lobo magro, ou uma raposa, um gato... Ele olhou e pensou: “Que coisa mais estranha!” Havia recebido a incumbência de encontrar e mostrar ao pessoal da manutenção uma rachadura que havia por de trás do quadro. Não precisou de escada para alcançá-lo. Colocou-se nas pontas dos pés e o tomou com as duas mãos trazendo-o para diante de sua face. Agora, com o quadro nas mãos, a figura dis

O RIO DE JANEIRO CONTINUA LINDO

Um amigo leitor me perguntou por que é que eu não tratava em meu blog de assunto tão urgente em nossos dias como este que vem dominando os noticiários nas últimas semanas. Eu respondi que todos já haviam tratado o suficiente. De mais a mais, eu não queria mesmo falar do narcotráfico, da guerra do tráfico, das tropas de combate de elite ou de araque. Afinal, as ervas que servem de matéria prima para o produto final continuarão recebendo insumos agrícolas; continuarão sendo plantadas e cultivadas; colhidas e beneficiadas, processadas; transportadas e distribuídas; comercializadas no atacado e no varejo; e finalmente consumidas por consumidores ávidos, viciados ou os tais que fazem uso “recreativo”. Então, meu amigo insatisfeito questionou-me; “Mas e o Rio de Janeiro?” Bem, eu preciso dizer que, com uma estrutura dessas que acabei de citar, ninguém precisa do Rio de Janeiro para traficar? E já que eu toquei no assunto, disse ao meu amigo que acho a sociedade muito tendenciosa. Diante dos

A CRUEL VINGANÇA DE SEU IGNÁCIO/PARTE II

Ao termino de uma semana de tratamento domiciliar, Seu Ignácio inquiriu ao Dr. Israel sobre qual o motivo que o teria trazido à Capela do Norte, um lugarejo perdido no mundo, conforme suas palavras. Dr. Israel sorriu, e placidamente explicou que, apesar de seus pais serem ambos da capital, bem como ele próprio, o seu bisavô teria vivido seus últimos anos em Capela do Norte. Aposentando-se como funcionário da extinta companhia férrea, onde cuidava da bilheteria. Daí viria sua simpatia e interesse pelo lugar. _Vendia bilhetes? Perguntou Seu Ignácio ao médico, que consentiu positivamente com a cabeça, e completou dizendo que seu bisavô fora o velho Licurgo. Os olhos de Seu Ignácio brilharam e emitiram faíscas ao ouvir o médico dizer que era bisneto do finado Licurgo Bilheteiro. _Conheci demais o seu bisavô. Ele era freguês de cachaça no bar do meu avô. O destino foi quem nos colocou aqui, Doutor. Não tenho a menor dúvida disso, Doutor. Agora vejo que estamos em casa. Mundinho pequeno! O m

A CRUEL VINGANÇA DE SEU IGNÁCIO/PARTE I

Seu Ignácio foi realmente cruel quando soube que Dr. Israel Bravo era bisneto de Seu Licurgo. Ao menos foi essa a impressão que ficou para Dr. Israel, tempos depois de ter ouvido em detalhes a história de seu antepassado contada na versão sem cortes de Seu Ignácio. Ele não sabia das particularidades nem dos pormenores da história. A família sempre evitou o assunto, tratava por cima. Talvez por zelo. Ou então a fim de não molestá-lo com tal desagrado. Ou até mesmo, quem sabe, na intenção de poupar as novas gerações. Ou ainda evitassem tratar o assunto por simples vergonha dos fatos. Eu diria, diante do narrado póstumo, que Seu Ignácio foi maquiavélico - caso eu achasse Nicolau Maquiavel um sujeito maquiavélico; mas longe disso; Nicolau, para mim, ao menos em seu tempo, foi muito mais um cientista político, um teórico, um estrategista, do que um sujeito astuto, velhaco, pérfido, como ficou sugerido na expressão que leva o seu nome. Portanto, seu Ignácio foi apenas cruelmente vingativo. F

LOBATO E O RATO

O rato, sem mentira nenhuma, era maior que o Lobato. Lado a lado, o rato e Lobato, enquanto transitavam no quintal, posso jurar que o rato era maior que Lobato por um rabo ou algo mais. Joaninho, o vovô Joaninho, lançou a bola para que o menino fosse apanhá-la, mas eis que, por debaixo da entulhada, surgiu um ser até então desconhecido, ignorado pelos da casa. Vovô Joaninho, tomado por terror e espanto, não conseguiu levantar-se da cadeira de pano firmando-se na bengala. Tentou três vezes, contudo, nada de levantar-se. Foi então que empalideceu, engasgou a voz, arregalou os olhos, e já não presenciou consciente a cena do garotinho Lobato disputando a bola com o gigantesco rato. Ao menos a criança achava que era a bola que pretendia o roedor em suas investidas. O bicho vinha agressivo e mostrava os dentes sujos, grunhia, avançava diante da face do menino. O garotinho levou a mão e alcançou a orelha do bicho, este se contorceu e desvencilhou-se do pequenino, causando-lhe um pequeno arran

DENTISTA (O PRELÚDIO DO TRAUMA)

Sempre torço para que a dentista esteja de bom humor mesmo quando marco a sessão para o primeiro horário, pouco depois das sete horas da manhã. Tenho minhas razões para torcer, o que nada tem a ver com a minha dentista atual, que é, na verdade, uma fada do dente. Porém, hoje não tive sorte. Ela nem mesmo retribuiu de forma perceptível o meu “bom dia!”. Pior, ela certamente estava no dia em que a última coisa que queria em seu primeiro horário era um cliente medroso. Medo de cadeira odontológica também responde por pavor de cadeira odontológica. Só quem tem pavor por essa modalidade terapêutica sabe como é. Contudo, que outro remédio, senão sentar-se, estar preso, estar tenso, e abrir a boca até sentir doer a articulação temporomandibular? _Você tem preferência por algum dente hoje? Ela perguntou. Eu respondi que iniciasse pelo dente que estivesse em pior estado, ou o mais visível, por favor. _Com ou sem anestesia? Foi a segunda pergunta que me fez. Aí já me pareceu piada da parte dela,

MILTON HATOUM

Adentrar os labirintos da memória é como entrar numa selva. Você caminha por suas brechas, abre passagem através da densa vegetação, e jamais sabe se retornará com uma flor na mão ou com um corte a sangrar por ter resvalado em uma erva espinhosa. Você pode também encontrar um fruto nativo, algo cujo sabor seja único, ou ser surpreendido pelo bote da serpente, que, até então adormecida, desperta e alveja o seu desguarnecido tornozelo. Ou quem sabe, nas piores e mais drásticas hipóteses, você pode ser devorado por uma onça, ou se perder e jamais retornar. No entanto, pode também com sorte encontrar o caminho de volta são e salvo, e em um feliz e bem sucedido regresso trazer consigo belos relatos que lhe rendam um livro espetacular. Milton Hatoum, nascido em Manaus em 1952, adentrou e retornou de sua selva, que não era selva selvática, diga-se, mas sim uma Manaus de alma libanesa, de dentro de seu passado, do passado que ouviu de seus antepassados, e trouxe consigo o fascinante “Relato de

PARA O FINAL, A CONTEMPLAÇÃO

Convenhamos; ninguém durante o exercício de sua profissão dedica-se a refletir sobre como será o último dia quando ainda está distante deste destino. Porém, penso que seria bom lembrar vez ou outra que tudo termina. Essa tarefa, que mistura contemporaneidade com o advir, pode ser saudável para as relações durante o desenvolvimento destas. Quantas vezes Honorato imaginou como seria o dia posterior ao último dia de trabalho de sua carreira? O tempo passa mesmo. E quando amanhece um belo dia... Agora ele, que sempre trabalhou arduamente, dispunha de todo o temo do mundo para a contemplação. Não há glamour no encerramento da carreira de trabalho de um homem comum. Por mais que haja sentimentos por conta das partes envolvidas, simpatia, afeição, não é próprio das pessoas simples as grandes homenagens. A coisa toda transcorre com a mesma singeleza do início, do meio, é assim o fim. As relações interpessoais são combustíveis, portanto inflamáveis, e, após os enlaces, queimam, evaporam-se

O SILÊNCIO DOS INOCENTES

_Ora. Não minta, meu filho. Não sabe que a mentira é um ato vil? ... _Então... Diga a verdade. ... _Darei mais uma chance. Diga a verdade e tudo ficará bem. Agora, se continuar mentindo... ... _Diga. Vamos. Já estou sem paciência, meu filho. ... _Não vai dizer? ... Ficaram nesse “dialogo” por muito tempo. O filho não disse nada mesmo. Sustentou até o fim suas reticências. Se confiasse no pai, se sentisse que poderia confiar, se eu tivesse criado o diálogo a partir de algo que ele tenha dito, não ficaríamos sem saber, e o quê afinal aconteceu? ObsII. Estou agora, no twitter @Jefhcardoso74.

PARA O ALMOÇO, FIBROMIALGIA

Ela olhou pela janela e achou horroroso aquele dia ensolarado. Ridículo. Não havia dormido nada novamente. Seu cabelo estava com as raízes brancas à mostra, cheio de pontas duplas, embaraçado, ressecado. Tirou a roupa do guarda roupa para vestir e ficar com raiva do corpo, da roupa, da balança, do mundo inteiro. Um dia lindo de primavera, um verdadeiro inferno. Já no trabalho, a manhã passou rápido. Deu graças a Deus quando olhou para o relógio e viu que faltava apenas 5 minutos para o horário do seu almoço. “Almoço. Almoço... Almoço por quilo. Self-service/auto-serviço. Almoço com gente estranha. Almoço a R$2,90 cada cem gramas! Almoço que engorda e deprime. “Devem botar alguma droga naquela comida, sempre que como fico deprimida, não é possível.” Pensava ela toda vez enquanto aguardava o horário da sagrada refeição diária. Faltando 4 minutos, agitava os pés enquanto observava de braços cruzados o relógio de parede. Relógio idiota. Porcaria paraguaia. Sempre dava um jeito de atrasar e

O Meu Blog É Um Bicho (Top 100)

O meu blog é um bicho, é um animal, nasceu de mim, criatura de meu ser. O meu blog é disforme e cheio de formas ao mesmo tempo, contornos de minha alma. Eu não tinha onde colocar os meus textos para a leitura, eu não tinha quem lesse os meus textos. Decidi criar um espaço. Foi assim que comecei. Minha irmã, que é jornalista, aconselhou-me: _Faça um blog, assim poderá publicar os seus textos, Jefh. Logo, a blogagem tornou-se um vício, os contatos tornaram-se amizades, e meu bicho cresceu. A cada texto vieram as reações mais variadas. Pessoas de todas as partes acenderam ao meu convite e leram o que eu estava dizendo. Eu disse prosa, eu disse verso, eu disse coisas que não diria se não tivesse a certeza de ser lido. Eu mostrei um bicho para o mundo, tem minha cara, eu assumo, é filho meu, bicho de mim, meu retrato do mundo. Ontem sairia o resultado dos Top 100 classificados Top Blog 2010 (maior concurso de blogs da internet brasileira). O meu concorre na categoria mais ampla, a de varied

O Candidato

Num passado distante, num distante país de terceiro mundo, houve um homem a quem todos chamavam “O Candidato”; algo muito diferente de mais um candidato em meio à multidão de candidatos que existia por lá. Acertemos então que falo de O Candidato em pessoa, e não de um candidato qualquer. Dava gosto vê-lo no exercício de seu ofício. Era um verdadeiro mestre. O império romano teria sido muito mais extenso se fosse ele um dos imperadores. Criança suja com o nariz escorrendo de pingar, chorando, arredia, ele identificava a um quilômetro de distância. Podia estar se debatendo no colo, esperneando, nada disso o intimidava. Ia até a criatura e lhe arrancava da mãe e, na grande maioria das vezes, domava o bichinho. Para tal, trazia no bolso direito da calça um punhado de balas que era renovado pelos assessores de tempo em tempo. No bolso esquerdo, trazia apitos e línguas de sogra. Caso as balas falhassem, dificilmente os brinquedos fracassariam. Ele próprio inaugurava os brinquedos, já os ofer

É Primavera

Era uma manhã de setembro quando o velho Alincourt chegou diante do belo lago de minha cidade, estacou sobre um terreno baldio sito à margem direita, ergueu ao alto os dois braços com ambos os punhos cerrados e vibrou de modo indescritível. No punho esquerdo o velho trouxe uma porção de terra em pó, poeira formada por noventa dias de estiagem. Ao abrir aquela mão, os vigorosos ventos de setembro levaram consigo a terra, que se desprendia e esvaía pelos ares, formando uma fina nuvem de poeira vermelha a andar no ar. O céu tornara-se vermelho, assim como a própria terra do lugar. Da mesma mão desprenderam-se folhas secas. Incontáveis folhas em tonalidades marrons, beges, amarelas. Um enorme urubu, atraído por um odor propagado pelo vento, passou a oferecer uma sombra circular sobre a cabeça do velho. Após a primeira ave, vieram outras da mesma espécie. Em pouco tempo eram seis, vinte e duas, trinta e cinco, cinqüenta e uma, mais de cento e três. Os ventos anunciaram uma carcaça canina

O Quinto Sinal Vital

Hey Joe, o quinto sinal vital é a dor. Sim, Joe! Após a pressão nas paredes das tuas artérias, o pulsar do teu coração, o ar tragado e expelido por teus pulmões, e o calor da tua pele e do milieu intérieur¹, é a dor que vem provar que você está vivo, Joe. Melhor que morto, não? Quando isso fora proposto por cientistas, em uma mesa redonda, em algum lugar do mundo, eles estavam muito distantes dos campos de flores. Eles não pensaram em eleger algo como a alegria ou o amor para ser o quinto sinal vital, mas sim a dor. Por que será, Joe? Quando ninguém mais estiver te vendo, entre no teu quarto, feche a porta, deite em tua cama, puxe um cobertor por sobre a tua cabeça e chore, chore Joe. Chore tudo que não chorou desde que descobriu que tua mãe não poderia te proteger do mundo, Joe. Hey Joe, hoje abrace o teu irmão enquanto os teus braços são fortes o suficiente para o enlace vigoroso. Não espere o amanhã tardio. Plante mais esperança, Joe; pois em algum lugar do mundo os agricultore

O Rei Dos Picaretas

Eis um pobre! Um picareta e mais nada. Em meio a tantos picaretas, mais um apenas. A verdade é dolorosa, eu sei. Porém, enquanto verdade, jamais deve ser desprezada ou omitida da luz dos fatos. Sei que é difícil o teu exercício de bajular para ser bajulado. Priva-te da critica. Assim perde o impulso para melhorar. É o preço que se paga. É um preço muito alto, eu concordo. Os da platéia idolatram os do palco, os do palco se julgam acima dos da platéia, os da platéia, por sua vez, imitam os do palco, olham para o lado e dizem: “veja, também sou admirável!” Ora, cale-se! Não vê que está atrapalhando o espetáculo? Há muitos notáveis para serem admirados, não roube a atenção que não lhe cabe. Entendeu? Vá embora. Chore as tuas mazelas de luz apagada e porta fechada. Ninguém quer saber do teu pranto, além da tua casa! Encosta à beira do caminho junto de tua pedra maior, e ali vive à sombra da pedra até o seu último dia, na esperança que aquela lhe sirva de tampa para a sua cova rasa, logo co

Marcelo Rubens Paiva

No dia em que conheci Marcelo Rubens Paiva, ou melhor; no dia em que ouvi pela primeira vez falar sobre o escritor Marcelo Rubens Paiva, foi na pergunta do amigo Cazú: _Você conhece Feliz Ano Velho, o livro? Eu disse que não conhecia. Então ele bateu a mão na testa e disse: _Cara, como é que você, que faz Fisioterapia, não conhece esse livro? O livro é muito bom! Conta a história de um cara que deu um mergulho e ficou tetraplégico. Virou até filme. Não é possível, Jefh? Pensei: “Bem, depois dessa só lendo o livro mesmo”. E eu li. Peguei na biblioteca da facu, em Batatais; comecei a leitura e só parei quando terminei. Li o livro inteiro num só fôlego. Isso foi em 93. O livro foi publicado originalmente em 82. Em 83, Marcelo ganharia o prêmio Jabuti como autor revelação. No livro o autor conta como um mergulho em água rasa mudou tragicamente a sua vida, lhe tornando cadeirante. Em 2009, estava eu em Ribeirão Preto, dentro do Theatro Pedro II, aguardando o “bate papo” - modo como os escri

A Dominação

Certa vez um homem pequeno recebeu em seu lar um homem de grande porte que teria ido ali para realizar alguns reparos urgentes e inadiáveis na rede elétrica. Recebeu-o pessoalmente à porta de sua residência. Era próxima a hora do almoço. O homem de pouca estatura ali estava excepcionalmente naquele horário e exclusivamente para receber o técnico eletricista.O técnico era um sujeito robusto, muito alto, falante aos brados, possuía um modo expansivo de comunicar-se, ao passo que o dono da casa era um sujeito franzino, baixo, acanhado, muito miúdo, que possuía uma fala discreta, econômica em palavras e expressões, e de volume baixo. Imediatamente ocorreu o inevitável choque de estilos. O homem grande ficou muito à vontade diante o homem pequeno, que, sendo muito retraído, não poderia variar de forma perceptível o seu grau de inibição. Era muito tímido e pronto. O pequeno homem, possivelmente contra gosto, conduziu o grande homem para dentro de seu lar. Passaram por uma passarela ornada de

Aldruvandus Tem Um Blog & Um Fuscão

Aldruvandus fez um ótimo passeio com sua família em Franca, naquele domingo Dia dos Pais. Voltando para sua cidade, Guará, lamentava apenas o fato de não ter feito fotos para o blog – para quem não sabe: blogs causam dependência - no entanto, histórias e impressões certamente haveria para compor uma agradável postagem sobre aquela data feliz. O por do sol era mesmo digno de registro. A paisagem ressecada contribuía com as cores e tonalidades do inverno rigorosamente seco daquele ano, algo muito diferente do verdejar ao qual estavam tão acostumadas durante o resto do ano as pessoas que viviam ali, na região Nordeste do Estado de São Paulo. Ele havia percorrido alguns quilômetros do caminho de volta para casa, admirando a paisagem ressequida, quando avistou alguns pequenos focos de incêndio. Pediu imediatamente a câmera para sua esposa. Reduziu a velocidade do veículo e estacionou no acostamento. Era aquela a oportunidade ideal para captar algumas imagens para certo conto que aguardava e

O Amor É O Dom Supremo

Sobre o amor, de tudo que se diga, ainda resta tudo a aprender. Muitas pessoas compartilharam suas experiências, expuseram seu ponto de vista, falaram livremente e com “paixão” sobre o tema. (sorrio). Foi lindo! Sinto-me como se “Monte Castelo” da Legião Urbana estivesse dentro de mim agora. Tirei algumas conclusões até, mas a que mais me impele a falar é a que distingue amor e paixão. Estar apaixonado definitivamente não significa estar amando. São coisas que podem caminhar juntas sim, contudo são entidades distintas. Estar apaixonado não é bom, é ótimo, maravilhoso. Mas o amor é o dom supremo. E agora eu deixo de falar do amor entre casais, do qual tanto falei, e *passo a mostrar-vos um caminho sobremodo excelente. Misturo gotas de minhas palavras ao rio que transbordou de Paulo: Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o metal que bate e retine. E nada que eu faça se aproveitará de fato. Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos