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Mostrando postagens de novembro, 2009

O Cobrador - Parte I

Poucos viram quando o homem atravessou os portais da cidade, caminhando a passo lento, sob o forte sol do meio dia. Suas vestes eram farrapos imundos. Seis cachorros magros, vira-latas, de tamanhos e cores variadas, o escoltavam. Seus cabelos eram negros, encaracolados, sujos e oleosos, e ostentava na face um longo cavanhaque estreito, e finos bigodes ponte agudos; tudo aparentando sujeira antiga, coisa grossa. No lombo ia um saco de estopa, tão encardido quanto o transportador. Os pés arrastando umas sandálias de couro; ressecadas, rotas, tudo impregnado por uma espessa camada de barro, resultante de poeira e suor misturados. Passo a passo, sem nenhuma pressa, nem aparente cansaço, mas com o olhar fixo na linha horizontal (nem acima, nem abaixo desta linha), seguia adentrando a cidade. Atravessou os portais e desceu a longa avenida que conduzia para o interior do pacato local; ganhando ruas, ia sempre em frente, como se soubesse exatamente qual o local a que queria chegar. Apenas um c

Do Pó ao Pó

_Positivo. _Parabéns! _Estou muito ansiosa. _Sua barriga está linda! _Roupa alguma me serve, estou enorme. _Foi cesariana? _Chora por estar nascendo os dentinhos. _Falou papai, primeiro? _Corre pela casa inteira. _Chorou muito no primeiro dia de aula? _Crise da adolescência... _Qual carreira escolheu? _É um excelente profissional. _Quando se casarão? _Terceiro filho. _Divorciou-se? _Se da super bem com a segunda esposa. _Doente? _Missa de sétimo dia. _Faz tanto tempo que ele se foi... Obs. Este conjunto de frases tem por intenção ser um poema realizado a partir da observação de frases rotineiras que envolvem o transcorrer de uma vida, que vai mais rápido que se imagina. Saboreie a vida; ela passa.

CARTA AOS LEITORES

Caros leitores, quem são meus leitores? Não sei. Curioso; este mês estou com média de 37 visualizações ao dia, (apenas de Julho para cá já conto mais de três mil visitas), porém não há quase comentários em meus textos. Tudo bem; não sou famoso mesmo. Se eu fosse um sujeito famoso eu provavelmente teria mais comentaristas que visualizadores. E se eu fosse um sujeito famoso provavelmente eu não escreveria das coisas que escrevo, nem da maneira como escrevo, pois viriam os críticos, viriam empregadores, viriam bajuladores, invejosos, em fim, viria uma grande quantidade de pessoas que não vêm, e causariam as mais variadas influências sobre o que escrevo e eu correria o risco até mesmo de ter minha fama exorbitando minha cabeça, me transformando em algo menos espontâneo, menos livre, mais enquadrado, por assim dizer. Mediante este raciocínio que acabo de expor digo: “santo e sagrado é o leitor que vem, lê, não comenta, e volta para ler mais!” Postarei mais poesias para você, pois notei que

O AMOR É LINDO E DESCONHECE FRONTEIRAS!

Se você está acompanhando esta visita ao Brasil e possui entre 35 e 40 anos deve estar com um nó na garganta e olhos marejados, assim como eu estou agora; é que nos anos 80 esta senhora ainda era uma jovem loira polêmica, agitava as multidões com seus shows, gerava bilhões com seus discos, liderava as listas de hits e alimentava a mídia com seus escândalos; atualmente ela ainda é esse furacão de presença, porém sem o furor para os escândalos e empenhada nas questões humanitárias de nós humanitas. Hoje ela visita o Brasil como quem conhece uma chácara na periferia onde moram os pais do namorado, o jovem Genésio Light. Ah, isso é lindo! Hank arrancou lágrimas da cantora durante um jantar em sua casa, no Rio, ao dizer que doaria US$ 7 milhões para os projetos sociais da jovem senhora. Foi lindo! Segundo um vizinho do rapaz que é ex-amasio da filha da copeira de uma parenta de Hank, e é bilíngüe (português e gíria carioca), a conversa teria sido mais ou menos assim: Mãezona: I collect only

O Céu de Anabela

Falarei de Anabela que é moça e não fala: Aconteceu que um dia Anabela sentiu a sua cabeça doer; doía demais. Era uma fase difícil, de grande stress, muita correria, prazos e metas a cumprir, um emaranhado de problemas para dar solução, coisas demais. Fato era que, Anabela já havia enfrentado diversas fases como aquela. Fato também que, Anabela sofria freqüentes dores de cabeça, porém aquela dor...Ah, aquela maldita dor de cabeça! Anabela procurou ajuda médica; mas dor de cabeça e stress quem não os tem em nossos dias tão corridos e tumultuados? Fora medicada, aconselhada a procurar um especialista para alguns exames, caso a dor não cedesse, e lá fora Anabela com uma receita em mãos de analgésico/relaxante e sua dor de cabeça para casa. Aquela dor de cabeça era algo mais que uma simples dor, era na verdade um pulsar violento dentro de seu cérebro que estava prestes a explodir. E não demorou a ocorrer a explosão do cérebro de Anabela. O sangue que estava contido em seus vasos e fluía le

O Céu de Anabela: A Continuação

Quando Anabela perdeu sua fala, sua capacidade de caminhar, seus movimentos, seu controle sobre suas necessidades fisiológicas, sua vida profissional, social, era um período em que, ironicamente, ela se utilizava mais que qualquer outra coisa da comunicação verbal. A jovem expandia seus domínios profissionais, freqüentava cursos, era dinâmica, e assim cada vez mais respeitada em seu meio de trabalho. Veja quão irônico pode ser o destino que nos aguarda: Do stress da correria diária na imensa capital ao leito de hospital, passando por um dia normal, uma dor de cabeça, tal e tal. Agora seu mundo se restringia as quatro paredes amarelas de seu pequeno aposento de dois vírgula cinco metros quadrados. Seu mobiliário era composto por uma grande cama hospitalar em ferro maciço; antiga, cinza, um tanto descascada. Havia também uma cômoda em mogno onde ficavam suas roupas de cama, pijamas, fraldas, lençóis e no topo quatorze polegadas de bobagens e futilidades. E sobre um pequeno criado ficavam

No Começo

Ele não teve mãe; Era um homem triste e solitário. Apegou-se a ela como se fora a única mulher na face da terra. Faria qualquer coisa por ela... Pobre homem! Ela era cheia de caprichos; Achava que o marido fosse rico; O dono do mundo. Aquela mulher tinha tudo... Ambiciosa, Não deu valor algum; Portou-se como uma víbora; Exigiu até o que lhe era oculto. De herdeiro único a traidor imundo! Confiança eterna a dão; Fraco, faz-se ladrão. Pobre homem! Agora do suor do rosto o pão, O vinho do sangue das mãos, "Não és mais bem vindo; Sois decepção!" Perdão?! ... Perdão! ... Perdoai-me. ... Devo partir então? ...É, vá.

Nós Humanidade.

Nós humanidade! Quem somos? Aqueles que matam; Ou os que morrem? Nós humanidade; Somos desumanidade? Os que choram; Ou os que fazem chorar? Jogamos crianças do oitavo andar; Difícil acreditar... Elas não sabem voar; No chão estão mortas ou feridas, Crianças e nada mais; Mas, humanidade... Ainda és humana? Hedionda, Odienta, Odiosa! Nós humanidade! Humanidade; Choras e faz chorar; És Santa; És Satanás. Ao saber nesta manhã do terrível crime cometido por um oficial russo, que atirou as filhas da companheira de uma altura de vinte metros, do oitavo andar do prédio onde viviam, possivelmente por ciúmes, enquanto a mãe das meninas gêmeas de oito anos supostamente estaria em um shopping; senti uma dor que não me é nova nem se vai facilmente; e esta dor impregnou-se em meu ser, e meu dia transcorreu triste, pesado, lento; como se algo assim fosse o nosso comum, nosso carma. Não é. É preciso chorar o luto, lutar. Este tipo de fato é o que mata algo dentro da gente; é o que nos deixa embrutecid

Celebração à Vida

A vida? A vida é uma paixão mal resolvida; Quando finda, Seja noite ou dia, Primavera ou outono, Sempre é cedo ainda. A vida? A vida é por onde se caminha; Pena que finda! Choremos os que se foram, Mas celebremos aos que ficam; Todos os dias. E para que serve a poesia? Se for pra falar de amor: Amo-te vida minha! Queridos convivas; Crianças, jovens, adultos ou senis; Amo-lhes, convivas, com vivas! (por Jefhcardoso)

A Solidão Do Ancião - Parte I de II

Naquela manhã o ancião não quis buscar o pão como fazia quase todos os dias. Havia desjejuado os últimos pêssegos submersos em calda em uma grande lata, que ficara aberta sobre a mesa; comeu-os com um creme branco. Olhou pela janela da cozinha, que dava para um pequeno jardim de arbustos secos e grama rala, suspirou, com o olhar fixo no muro coberto por musgo nas extremidades, deixou a lembrança tomar conta de seu pensamento enquanto o olhar ia inerte. Suspirou novamente, e após alguns minutos, partiu com as mãos no bolso do velho e desbotado paletó cinza. Sentou-se na sala, começou a folhear um livro antigo, poeirento e de paginas amareladas, ergueu-se, caminhou até o quarto, ali começou a revirar um baú, procurando um álbum de fotografias antigas. Entre muitos encontrou o qual procurava, retornou para a poltrona da sala, sentou-se, ajeitou-se, puxou as mangas do paletó, fechou os botões que restavam abertos, as três últimas casas, cruzou os braços sobre o tórax, numa atitude para aqu

A Solidão Do Ancião - Parte II de II

Fechou o pequeno álbum após virar à última pagina, beijou a capa de olhos fechados, o enfiou no bolso do paletó, tomou entre a poupa dos dedos indicador e polegar da mão direita a asa da xícara vermelha, sorveu um pouco, viu que já estava de morno para frio o seu chá e então entornou em grandes goles todo conteúdo da xícara. Levantou-se, foi até a cozinha e deixou a xícara sobre a mesa. Caminhou até a sala, abriu a porta e saiu no seu pequeno jardim árido, o mesmo que era possível avistar da cozinha; é que os cômodos eram contíguos. Apanhou um regador de latão, todo enferrujado, abasteceu-o com água até o limite de transbordar e foi regando os arbustos secos um a um, depois, com mais umas quatro ou cinco abastecidas, regou o pequeno gramado. Ao terminar retornou para sua poltrona na sala, havia aberto o paletó; pois durante a movimentação para aguar as plantas, sentiu esquentar seu velho corpo. As mangas de seu agasalho estavam molhadas pelo contato com a água ao encher o regador, isso

O Sr. e o Dr. II

Ao perder a amada esposa em uma triste primavera, o ancião sentiu nascer-lhe uma dor profunda, a qual jamais havia sentido. Não imaginava que ao morrer seu amor ainda traria pungente aquele sentimento sublime de uma vida inteira. Sequer imaginou um dia perder seu amor. Porém o destino, indiferente que é as nossas tragédias pessoais, levou deste mundo a companheira do bom jardineiro. Ele contava 89 anos quando sentiu chegar a fria companhia da viuvez. Possuía filhos carinhosos, atenciosos que muito se esmeravam para suprir suas necessidades, contudo, a mais difícil realidade não havia maneira de remediar. Esta estranha chamada solidão, que adentrara em seus dias, e agora lhe era companhia ao levantar-se pela manhã, após a noite em que rolou na cama (que ficara enorme), ela também estava lhe mirando no café, no almoço, na longa tarde fria ou quente que fosse, no entardecer mais melancólico que já vira cair, e também na nova noite que viria. Mas o amor quis falar. O jardineiro não possuía

Lua dos mortos / Sol dos viventes

Quando a luta termina, O sonho espira. As forças de Morfeu se aniquilam; A lua já não alumia, E o sol brilha; Morre noite / Nasce dia Sol que se ergue, Queima o dia imberbe, Aquece e abrasa a pele; Faz-nos molhar feito em febre. Resplandece como se eterno. Pobre dia que lento esvai e sequer percebe! Sol resplandecente, Servo de Apolo; Eia! Eia! Queima, Faetonte, tolo ardente! Rompendo a alvorada da vaidade; Deite-se, em fim, atrás da linha imaginária. Eis as trevas! Lentamente engole o dia ex-ardente; Terror noturno, Solidão latente. Lua fria a espreitar a vida; Fria a noite do dia que agoniza. Venha lua solitária; Serva de Plutão, Sirva solidão, Cubra com escuridão; Em bandeja negra de imensidão. Ainda que velha e farta de vida, Triste é a noite que finda! Vomita de vagarinho o sol nascente; Que caminha sobre a gente, Caminha, E morre novamente. “Por Jefhcardoso: aí está minha singela homenagem nesta data em que dedicamo-nos a refletir sobre as nossas mais profundas sa

Ser poeta ou não ser...

Ser poeta ou não ser... A poesia é algo pessoal.Ser poeta é íntimo. Há quem se diga poeta. Poesia é uma maneira de olhar. Não sou poeta. Sou homem comum; Vejo a vida que passa. Sinto o amor, A dor, A graça, O desejo, A força, E o cansaço. Levanto-me da cama sonolento; Lento o pensamento; Estômago esfomeado; Curioso para ver se é sol ou nublado. Vôo e trabalho, Trabalho e trabalho. Feliz diante do prato. Leve diante do amor. Rijo no palco do meu espetáculo. Forte na corrida. Resistente a dor. Longe enquanto durmo. Não sou poeta. Sou homem comum; Ossos, nervos e músculos. Sou perecível; Humano falível; Apenas ser sensível. (por Jefhcardoso)